Este hábito está a fazer-lhe mal e a prejudicar a sua família - TVI

Este hábito está a fazer-lhe mal e a prejudicar a sua família

Excesso de trabalho

Trabalhar mais do que 48 horas semanais, de forma regular e consecutiva, é considerado excesso de carga horária laboral. “Um fenómeno cultural” que tem vindo a aumentar em Portugal

Em Portugal, ao contrário de outros países na Europa, trabalhar horas a mais tem vindo a tornar-se cada vez mais comum. Isso afeta o tempo dedicado à família e a saúde física e psíquica, alertou o médico psiquiatra Pedro Afonso, em entrevista à TVI24.

Habitualmente, é considerado excesso de trabalho, trabalhar mais do que 48 horas semanais, de forma regular e consecutiva. Os portugueses têm vindo a adotar cada vez mais esse comportamento.

Considerado por Pedro Afonso, como um “fenómeno cultural”, trabalhar em demasia aumenta o risco de hipertensão, doenças cardiovasculares, diabetes, infeções crónicas, insónias, perturbações de ansiedade e também depressivas.

Esta pode ser a reintrodução de uma nova escravatura, de um novo sistema esclavagista. Na verdade, o excesso de trabalho a que assistimos atualmente, no mundo laboral acaba por configurar isso, já que o sistema esclavagista fundou-se sobre a destruição da família. Além disso, o escravo continua a ser aquele que pode colocar em risco os vínculos familiares, a saúde e a própria vida para atingir um objetivo material, no fundo é o que todos nós produzimos com o nosso serviço que depois é remunerado”, afirmou Pedro Afonso.

Portugueses trabalham em média 54 horas semanais

Num estudo realizado na escola de negócios AESE Business School, com a participação de Pedro Afonso, também professor de Psiquiatria na Faculdade de Medicina de Lisboa, no Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica e na própria AESE-Business School, verifica-se que 53% dos inquiridos estavam numa situação de excesso de trabalho.

Ficamos surpreendidos pelo facto de indivíduos com excesso de trabalho trabalharem em média 54 horas semanais. Também verificamos neste trabalho que 75% destes indivíduos levam habitualmente trabalho para casa. Este facto tem vindo a aumentar nas várias profissões e acaba por ser uma consequência das novas tecnologias de comunicação, que ao invés de facilitar o trabalho, tornam mais difícil a linha divisória entre o que é a atividade profissional e a nossa vida pessoal e familiar.”

No estudo, não foi feita uma distinção entre profissões, mas sim entre cargos de responsabilidades, o que se verificou que “contrariamente ao que a maioria dos portugueses pensa, quem está a trabalhar mais do que o número de horas normais, são as posições de topo, nomeadamente, os quadros de administração e as direções”.

Os maiores consumidores de antidepressivos e ansiolíticos da Europa

Segundo o especialista, tem-se assistido cada vez mais a casos de burnout (exaustão física e emocional), decorrente do excesso de carga horária e pressão no trabalho.

Portugal é o país que mais consome antidepressivos e ansiolíticos na Europa 'per capita'. Verificamos que embora se trate de uma população relativamente jovem, em torno dos 40 anos de idade, 12% dos participantes do nosso estudo estavam a fazer um antidepressivo ou ansiolítico, isso parece significativo e não estavam de baixa”, indicou o psiquiatra.

A produtividade acaba por ser afetada, o que revela um paradoxo, pois segundo o especialista, “não é por trabalharmos mais horas que produzimos mais”.

Se contarmos que as pessoas trabalham 11 a 12 horas por dia, se subtrairmos as horas normais do dia, resta um pouco mais de duas horas para estarmos com as crianças. Para além de já vir mais esgotado fisicamente, também vem psiquicamente. Isso retira a energia que temos para dedicar tempo aos nossos filhos, marido, esposa, o que acaba por comprometer a nossa vida familiar. Costumo dizer, se não é possível conciliar o trabalho e a família, não devemos mudar de família, mas sim mudar de trabalho”, explicou Pedro Afonso.

Para o professor é importante chamar a atenção e sensibilizar as pessoas para este fenómeno, de modo a que as empresas possam fazer de alguma forma “um pacto ético, ou seja, adotar políticas de responsabilidade familiar, permitindo às pessoas conciliar os horários com a vida normal familiar". 

Todos perdemos se a situação continuar assim, mas todos ganhámos se for mudada."

Continue a ler esta notícia