Covid-19: 17 mil casos diários em fevereiro. Nem com requisição civil "há camas suficientes" - TVI

Covid-19: 17 mil casos diários em fevereiro. Nem com requisição civil "há camas suficientes"

João Gouveia, presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos, Isabel Adir, infeciologista do Hospital Egas Moniz e colaboradora da DGS, e o matemático responsável pelas previsões do Infarmed analisaram o futuro da pandemia e do SNS na TVI24

Esta quarta-feira, foi o dia mais negro da pandemia de covid-19 em Portugal, mas nas próximas semanas os números serão muito piores, acreditam os especialistas ouvidos pela TVI24, esta noite.

O professor Carlos Antunes, matemático da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, é o responsável pela criação das previsões estatísticas dos números pandémicos apresentadas na última reunião do Infarmed.

De acordo com os modelos criados, caso o confinamento geral tivesse o mesmo impacto do que em março, o Rt (número médio de casos secundários que resultam de um caso infetado) iria diminuir para 1 na próxima semana. Neste momento, já se sabe que tal não vai acontecer.

Não sei se o confinamento está a produzir efeito. O Rt estava a descer e agora estabilizou”, conclui Carlos Antunes.

Carlos Antunes refez as previsões, para uma adesão ao confinamento de 50% dos portugueses, e os dados são assustadores e preocupantes. Na segunda semana de fevereiro, é expectável que Portugal venha a registar cerca de 17 mil novos contágios a cada 24 horas, dos quais cerca de 60% serão assintomáticos e nunca virão a ser detetados pelo sistema.

Estes números já pouco animadores ainda podem vir a ser agravados caso a variante britânica do SARS-CoV-2 se acentue em Portugal.

Dia 10 ou 12 de fevereiro iremos atingir 17 mil casos diários”, avança o matemático.

 

Perante as previsões nada animadores, impõe-se a questão: vão os serviços de saúde portugueses ser capazes de dar assistência a 17 mil contágios diários?

O médico João Gouveia, presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos, é claro e reitera que é impossível os serviços de saúde nacionais, públicos e privados, terem capacidade para responder a 17 mil contágios diários.

O especialista acrescenta que mesmo que seja decretada uma requisição civil dos hospitais privados não será possível responder à procura de cuidados hospitalares.

O número de camas nunca vai chegar para uma procura deste tipo. É impossível. Já duplicámos a nossa capacidade de medicina intensiva. É um esforço brutal, mas não chega. Não há capacidade para aumentar as camas muito mais. Os recursos são finitos. O problema neste momento é de pessoal. Não há recursos humanos com capacidade de poder estar na medicina intensiva e em todas as outras áreas de um hospital", reitera João Gouveia.

 

O intensivista alerta para a necessidade urgente de um confinamento efetivo e que mesmo assim demorará tempo até se registarem resultados efetivos, mais ainda nas unidades de cuidados intensivos.

João Gouveia acredita que um confinamento geral nos termos em que se tem verificado é "apenas perder tempo".

Um confinamento desta maneira acho que estamos a perder tempo. Não temos ainda, nesta fase, um efeito do confinamento. É muito importante arranjar um confinamento efetivo e saber que isso vai demorar tempo a surtir efeito, na medicina intensiva ainda mais tempo porque os doentes estão internados em média 17 dias", alertou o intensivista.

 

A médica Isabel Adir, infeciologista do Hospital Egas Moniz e colaboradora da DGS, alerta que os serviços de saúde estão muito perto da capacidade limite.

Estamos muito próximos do limite da capacidade resposta e de esforço. Estamos a viver uma realidade que faz com que acreditemos que o resultado deste confinamento não se está a verificar", evidencia Isabel Adir.

A infeciologista acredita que o confinamento deveria ter sido máximo, desde que foi decretado, tendo em vista o estado de rutura dos hospitais portugueses. 

Isabel Adir lembra ainda, que ao contrário do que aconteceu no confinamento de março, há agora mais fatores de risco, que fomentam a propagação do SARS-CoV-2, como a variante britânica. A especialista termina alertando para a possibilidade de uma rutura completa dos serviços de saúde.

Temos uma variante com maior risco de contágio. O confinamento tinha de ser máximo. Caso contrário temo a rutura completa no SNS. Temos sempre conseguido arranjar mais capacidade, mais camas de internamento, mas esta capacidade também se esgota", alerta a infecciologista.

 

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