Instrutor acusa escola de condução de alinhar em corrupção - TVI

Instrutor acusa escola de condução de alinhar em corrupção

Estrada

Julgamento envolve 47 arguidos envolvidos num esquema em que os alunos pagavam para conseguirem as cartas. Futebolista Fábio Coentrão foi um dos beneficiados: acusação diz que terá pago quatro mil euros

Cinco examinadores de exames de condução terão arrecadado 1,1 milhões de euros, segundo a acusação do mega-processo que está em julgamento no tribunal de Braga, onde esta sexta-feira, o único instrutor que decidiu falar acusaou a escola para a qual trabalhava de lucrar também com os subornos.

Segundo o instrutor, que trabalhou numa escola de Caldas das Taipas, em Guimarães, numa das ocasiões um aluno terá pago 1500 euros para passar no exame. Mil seriam para o examinador e os restantes 500 para o dono da escola.

O mesmo instrutor disse ainda que o dono da escola o incumbia de mandar mensagens para os examinadores, do Centro de Exames de Vila Verde, com as iniciais dos alunos a ajudar.

Cabia-lhe ainda entregar aos examinadores os "processos" dos alunos, sendo que o termo "processos" seria um nome de código para os "envelopes" com dinheiro.

Segundo afirmou em tribunal, o proprietário dizia-lhe que as contas da escola não estavam famosas e que, se não colaborasse com aquele "esquema", não teria dinheiro para lhe pagar o salário.

Segundo referiu, as ajudas aos alunos eram sobretudo nos exames de código, sendo as respostas transmitidas pelo examinador através de "gestos com os dedos".

"Não aguentava mais"

O instrutor foi o único dos 47 arguidos no processo que decidiu falar, uma decisão que, adiantou, lhe valeu "pressões" e "ameaças". Disse que acabou por abandonar a escola de Caldas das Taipas em 2013, por questões de "consciência", passando a trabalhar por conta própria.

Não aguentava mais", afirmou.

Entre os 47 arguidos, contam-se examinadores, industriais de condução, instrutores e um agente da GNR.

De acordo com a acusação, deduzida pelo Ministério Público, 24 dos arguidos respondem por corrupção passiva para ato ilícito e os restantes por corrupção ativa por ato ilícito.

Entre os que respondem por corrupção ativa está um militar do Destacamento de Trânsito da GNR de Braga, que, segundo o MP, terá pedido a um examinador que facilitasse a vida a três alunos.

O principal arguido no processo é um examinador do Centro de Exames de Vila Verde, classificado pelo Ministério Público como o "interlocutor privilegiado" nos episódios de corrupção, "por ser o mais velho" e o que ali exercia funções há mais tempo.

Este arguido é acusado de 35 crimes de corrupção passiva para ato ilícito.

Ajudas aos alunos

O objetivo era, de acordo com a acusação, que os alunos fossem auxiliados pelos examinadores, a troco de quantias monetárias, as quais, em média, variavam entre os 1000 e os 1500 euros, no caso dos exames teóricos, e de 100 a 150 euros nos práticos.

Mas havia quem pagasse mais. De acordo com a acusação, foi o caso do futebolista Fábio Coentrão, que terá desembolsado 4000 euros. Um pagamento feito em numerário, "por ter sido recusado o pagamento em cheque".

A acusação diz que, com este esquema, cinco examinadores conseguiram arrecadar 1,1 milhões de euros, dinheiro que o Ministério Público quer que seja declarado perdido a favor do Estado.

Processo dura há anos

O processo envolve escolas de Barcelos, Ponte de Lima, Vizela, Guimarães, sendo que os factos terão decorrido entre 2008 e 2013.

A investigação foi iniciada por uma denúncia de um empresário que é dono de uma escola de condução em Cabeceiras de Basto e de outra em Vila Nova de Famalicão e que é assistente neste processo.

Na investigação, desenvolvida durante anos pela Polícia Judiciária, também foram identificados vários alunos, em relação aos quais, o Ministério Público optou pela suspensão provisória do processo.

Um dos que beneficiaram da suspensão foi o futebolista Fábio Coentrão. Aceitou pagar três mil euros ao Banco Alimentar Contra a Fome de Braga.

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