Inspetor da PJ convencido de que Pedro Dias esteve na casa do sequestro - TVI

Inspetor da PJ convencido de que Pedro Dias esteve na casa do sequestro

  • 9 nov 2017, 20:12

Terá sido nessa casa, em Arouca, que um homem e uma mulher terão estado sequestrados. Esta quinta-feira foi o quarto dia do julgamento e o arguido ainda não falou

O inspetor da Polícia Judiciária que coordenou a investigação dos crimes de Aguiar da Beira não ter dúvidas de que Pedro Dias esteve na casa de Moldes (Arouca), onde um homem e uma mulher terão estado sequestrados.

Os resultados do laboratório vieram demonstrar que Pedro Dias tinha estado nessa casa”

António Fernandes da Cruz prestou depoimento esta quinta-feira à tarde, no tribunal da Guarda, que está a julgar Pedro Dias por vários crimes, entre os quais três homicídios. Hoje foi o quarto dia do julgamento e Pedro Dias ainda não falou.

O inspetor da PJ contou, em tribunal, que ao chegar ao primeiro andar da casa, viu logo uma cadeira colocada em frente a uma janela, que seria um “ponto de vigilância”, cita a Lusa.

Lá dentro, foram encontrados bocados de tecido “cortados, com nós”, que teriam servido de mordaça. Havia também comida cozinhada, apesar de não existirem condições para cozinhar, foram encontradas garrafas de água e faltavam alguns objetos.

Quando ainda estava a ser tratada no centro de saúde, a mulher que terá estado sequestrada, Lídia da Conceição (filha da dona da casa), disse-lhe “clarinho” que tinha sido Pedro Dias, usando a expressão “foi ele, foi ele”, contou.

Manchas de sangue entre os vestigios

Na terça-feira, ao ser ouvido por videoconferência, António Duarte também confirmou que foi Pedro Dias que o sequestrou junto com Lídia da Conceição, tendo-o reconhecido pela fotografia divulgada na televisão.

Mais tarde, a viatura de António Duarte foi encontrada em Carro Queimado, no concelho de Vila Real, e nela estava roupa “com vestígios hemáticos que correspondiam ao ADN da dona Lídia” e, uma delas, com “uma mistura de ADN da dona Lídia e de Pedro Dias”, acrescentou Fernandes da Cruz.

Durante mais de três horas, naquele que foi o único depoimento da tarde de hoje, o inspetor contou como foram recolhidos e tratados os vestígios encontrados nos vários locais do crime como, por exemplo, a zona do hotel em construção nas Caldas da Cavaca, onde os militares da GNR de Aguiar da Beira Carlos Caetano e António Ferreira terão abordado a carrinha onde se encontrava Pedro Dias, na madrugada de 11 de outubro de 2016.

Nesse local, foi encontrado um invólucro, uma mancha de sangue e “um rasto de terra que pareceu de alguém ter sido arrastado”, referiu.

Ao quilómetro 45 da Estrada Nacional 229, na berma, foi encontrada uma mancha de sangue e, a poucos metros, dentro do mato, estavam mais dois invólucros, junto aos civis Liliane e Luís Pinto, acrescentou.

Segundo Fernandes da Cruz, foi ainda encontrado um outro invólucro, e também manchas de sangue, no local onde António Ferreira terá sido baleado, junto a um pinheiro, no meio do mato.

Este militar, apesar de baleado na cabeça, sobreviveu e conseguiu chegar a casa de um colega da GNR.

“Deve ter sido uma batalha tremenda o senhor António Ferreira ter encontrado o trilho para a estrada municipal”, considerou o inspetor, admitindo que ele próprio, mesmo de dia e sem estar ferido, teve problemas de orientação para fazer esse percurso.

Tensão no julgamento

Durante a sessão, por várias vezes houve alguma tensão entre os advogados de Pedro Dias, Mónica Quintela e Rui Silva Leal, e o advogado que representa a família de Carlos Caetano e António Ferreira, Pedro Proença.

“Tive o cuidado de analisar outros processos em que os meus colegas estiveram envolvidos e fico com a perceção nítida de que se está a tentar adotar neste processo a mesma estratégia do processo Ana Saltão”, comentou Pedro Proença aos jornalistas, no final da sessão.

O advogado frisou que, no entanto, “não há dois processos iguais e neste processo, ao contrário do outro, há uma investigação criminal bem feita, sólida, com uma prova vem recolhida, bem tratada”.

Na sua opinião, a defesa de Pedro Dias está a tentar “desvalorizar a recolha e o tratamento da prova, mas está a esbarrar numa investigação criminal muito bem feita pela PJ”.

Mónica Quintela escusou-se a comentar as declarações de Pedro Proença, dizendo apenas que, “num cenário de crime, esse cenário tem de ser preservado de forma a que os vestígios que lá foram encontrados possam ser valorados como prova”.

Estamos num Estado de direito e um cidadão tem o direito a ser defendido e a ser submetido a um julgamento justo e equitativo, é isso que nos dizem as nossas leis”.

A advogada disse que Pedro Dias deverá falar em breve no tribunal e esclarecer este caso.

Questionada sobre as anotações que Pedro Dias tem feito, Mónica Quintela justificou que costumam pedir aos arguidos, “quando os casos assim o justificam, que tirem notas sobre os depoimentos, porque muitas vezes é difícil reter todas as informações”.

"Se anotar, depois é mais fácil passar-nos estas informações e nós podemos fazer esta compilação, que, no fundo, é a análise crítica que ele está a fazer sobre a produção de prova”, acrescentou.

Pedro Dias está acusado de três crimes de homicídio qualificado sob a forma consumada, três crimes de homicídio qualificado sob a forma tentada, três crimes de sequestro, crimes de roubo de automóveis, de armas da GNR e de quantias em dinheiro, bem como de detenção, uso e porte de armas proibidas.

O julgamento tem duas sessões marcadas para a próxima semana, na quinta e na sexta-feira. No entanto, a de quinta-feira poderá não se realizar devido à greve dos serviços prisionais.

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