Centenas de pessoas na apresentação da autobiografia de Carlos Cruz - TVI

Centenas de pessoas na apresentação da autobiografia de Carlos Cruz

Antigo apresentador de televisão lançou "Uma vida", uma autobiografia que escreveu ao longo dos últimos anos na prisão

Mais de 300 pessoas estiveram esta terça-feira no lançamento da autobiografia do antigo apresentador de televisão Carlos Cruz, “Uma vida”, uma cerimónia que emocionou o autor e que “ultrapassou expetativas”.

Carlos Cruz trabalhou especialmente em rádio e televisão, durante décadas, e era um dos rostos mais conhecidos do país. Em 2003 foi envolvido num escândalo de pedofilia com alunos da Casa Pia de Lisboa e depois de um longo processo está a cumprir pena de prisão por abuso sexual de menores, embora sempre se tenha declarado inocente.

Hoje, no âmbito de uma licença precária, apresentou uma autobiografia que escreveu ao longo dos últimos anos e disse que a cerimónia “ultrapassou as expetativas”.

Num hotel de Lisboa, com capacidade para mais de 200 pessoas sentadas, foram muitas as que ficaram de pé, entre desconhecidos mas também figuras do mundo do espetáculo e da cultura. João Soares, o ministro da Cultura, esteve presente mas saiu após um longo abraço e alguma troca de palavras com o ex-apresentador.

“Uma vida” conta na primeira pessoa as histórias relevantes, desde os primeiros trabalhos na rádio em Angola ao regresso a Lisboa, o trabalho na rádio e na televisão e os programas a que ficou ligado, antes e depois do 25 de abril.

São quase 600 páginas, onde fala dos seus amores, das pessoas que conheceu, dos projetos em que participou, dos programas que criou, mas também da organização do europeu de futebol de 2004 e de casos de corrupção, que hoje corroborou, acrescentando que não é ele o culpado de na altura se terem feito 10 estádios.

“O livro descreve o essencial da minha vida, o que vivi, o que vi, o que senti, como vivi, como vi e como senti”, disse Carlos Cruz, explicando que o escreveu à mão, em 1.363 páginas, e com o apoio de pessoas no exterior, porque na prisão não tinha nem computador nem internet.

Mas foi esse tempo na prisão, de isolamento do mundo e “numa solidão enriquecedora porque propicia o auto-confronto”, que o levou a escrever a biografia, um projeto já pensado mas para o qual nunca avançou.

E apesar de, ao longo do livro, deixar críticas a comportamentos, de hoje mesmo ter dito que há “muitas pessoas que não são honestas”, diz que a obra não é um ajuste de contas, que não está zangado com ninguém e nem espera pedidos de desculpa de ninguém. Ou ainda que o processo Casa Pia não o levou a perder amigos e que sente cada vez mais livre.

Hoje, pelo menos 300 amigos estiveram a apoiá-lo, como Januário Torgal Ferreira, bispo católico, que fez a apresentação do livro, que, disse, “no seguimento da tradição literária” foi “construído numa prisão”.

Carlos Cruz agradeceu ao amigo, aos que o ajudaram no livro (que conta a sua vida até ao caso Casa Pia), falou da família (que estava presente) e emocionou-se quase todo o tempo.

O lançamento teve ainda um apontamento musical com Jorge Quintela (piano), Naná Sousa Dias (saxofone) e Paulo Ramos (voz), quando num ecrã passara imagens da vida do ex-apresentador.

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