«Saramago, a luta continua!» - TVI

«Saramago, a luta continua!»

Mais de 20 minutos de palmas contínuas, numa cerimónia sentida. O último adeus a Saramago, no Cemitério do Alto de São João

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O último adeus a José Saramago traduziu-se em palmas, muitas palmas, do público presente no Cemitério do Alto de São João em Lisboa. O som dos aplausos ouviu-se por mais de 20 minutos, nos corredores do cemitério, enquanto decorria a cerimónia privada para família e amigos, dentro do crematório.

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Muitos cravos vermelhos no ar e os livros do escritor empunhados como se fossem troféus eram o cenário marcante. O grito «Saramago, a luta continua!» começou a ouvir-se de um grupo de militantes comunistas, junto ao crematório, e depressa se espalhou pelo corredor principal do cemitério, repleto de gente. Muitos aguardavam desde cedo para se despedirem. Queixavam-se de estar ao sol desde as 11h00, desde as 10h00...

Admiradores do escritor premiado com o Nobel, mas sobretudo admiradores do político e do homem. O corpo chegou pouco depois das 13h10 ao cemitério. O caixão foi retirado do carro fúnebre à entrada do cemitério e carregado em ombros. Ia coberto pela bandeira de Portugal. As palmas ecoavam no cemitério.

Um cartaz, numa pequena cartolina quadriculada, destacava-se entre a multidão. Escrita, estava uma dedicatória ao poeta, dramaturgo e romancista:

«Do corpo que levas

Deixas-nos um legado

Brotas a alma

A alma e as virtudes

Da eterna lusofonia


A emoção tomou conta de muitos admiradores que soluçavam e secavam lágrimas, escondidas por detrás dos óculos escuros. As palmas adensavam-se de cada vez que saía fumo da chaminé do crematório. Acenavam-se adeus.

Dentro do crematório, decorria a cerimónia privada, apenas com família, amigos e algumas individualidades da vida política e cultural portuguesa. Carlos Carvalhas, Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã, António Costa, Carlos do Carmo, Leonor Xavier, Clara Ferreira Alves e José Sá Fernandes eram apenas algumas das figuras presentes.

O Presidente da República não esteve e fez-se representar pelo chefe da Casa Civil da Presidência da República e também pelo chefe da Casa Militar. A polémica parece ter passado ao lado do povo que, no geral, desvalorizou a ausência. Mesmo assim, alguns populares iam conversando entre si e consideravam que Cavaco Silva devia ter interrompido as férias nos Açores e ter vindo para o continente, para participar das cerimónias.

«Devia ter posto de lado as quezílias entre eles e ter vindo», dizia um homem. «Concordo. O que lá vai, lá vai. E ele é acima de tudo representante do povo português. Devia cá estar. Não lhe fica nada bem», respondia a mulher com quem conversava.

Polémicas à parte, os portugueses não quiseram deixar de homenagear o escritor. Trouxeram flores, que foram encostando aos troncos das árvores do corredor principal do cemitério. Flores para Saramago, que disse um dia que queria que os seus restos mortais fossem depositados num sítio onde alguém, de vez em quando fosse depositar uma flor, para ele sentir que não tinha sido esquecido. O povo fez-lhe a vontade.
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