Sentir os números para perceber o desperdício - TVI

Sentir os números para perceber o desperdício

Imagem de Seurat, em Latas

Exposição alerta para o excessivo consumo humano. Com exemplos bem reais

É uma crítica feroz ao consumo desmedido da Humanidade, captado pela objectiva do norte-americano Chris Jordan, cujas imagens estão patentes no Pavilhão do Conhecimento.

A exposição, inserida no âmbito das comemorações do «Dia da Terra» [22 de Abril, data-limite para ver este trabalho], é composta por dez fotografias reveladoras do desperdício dos recursos materiais e da pouca preocupação global pela reciclagem.

Mas não se trata de fotografias convencionais: cada imagem é constituída por milhares de diversos materiais. Por exemplo, se para o olhar desprevenido uma das imagens parece uma réplica do quadro «Un dimanche après-midi à l'Île de la Grande Jatte», do pintor Georges Seurat, de perto é possível perceber que é puro engano pensar em cópias. Cada ponto do quadro é composto por minúsculas latas de refrigerante - 106 mil ao todo, número equivalente às latas utilizadas no Estado Unidos a cada trinta segundos.

«Nós precisamos de sentir os números»

«O objectivo desta exposição é conseguir transmitir aos espectadores a verdadeira dimensão dos números», garantiu esta terça-feira Chris Jordan, em conferência de imprensa de apresentação do seu trabalho.

«Os números são referentes ao consumo humano e todos os dias fazem manchetes de jornais», mas é preciso mudar comportamentos perigosos sentindo o que realmente «esses números» querem dizer.

«Todos sabemos na nossa cabeça quais são os números. Só quando os sentirmos no nosso coração é que agiremos», afirmou Chris Jordan.

«São consumidos cerca de 20 milhões de barris de petróleo por dia. Este números entram por um ouvido e saem por outro. Só quando sentirmos os números é que faremos mudanças radicais», explicou Chris Jordan.

Um imagem vale mais que mil palavras

Um dos assuntos abordados pelo fotógrafo é o consumo de tabaco. A imagem que traduz a preocupação do artista é uma enorme caveira a fumar. De perto, é possível ver que a imagem é feita a partir de 200 mil rótulos de maços de tabaco. Este número equivale à quantidade de americanos que morrem com doenças relacionadas com o fumo do tabaco em cada seis meses.

Chris Jordan foi peremptório: «Morreram cerca de 3 mil pessoas no 11 de Setembro, o que gerou uma onda de resposta global. Mas nesse mesmo dia mais de mil americanos morreram com doenças relacionadas com o consumo de tabaco».

«Esta é uma tragédia nacional que acontece todos os dias e ninguém fala sobre isso. Ainda é um assunto tabu».

Quando o fotógrafo se sente um «hipócrita»

Outras das imagens presentes na exposição retrata 11 mil rastos de aviões. O que equivale ao número de voos comerciais realizados nos Estados Unidos, a cada oito horas. Questionado sobre a sua política em relação ao uso do avião como meio de transporte, o fotógrafo confessou sentir-se um «hipócrita». Afinal, para poder passar a sua mensagem, Jordan tem que se deslocar de avião.

Jordan é vegetariano e nunca consome nada que venha em embalagens de plástico ou alumínio. Faz a sua parte pelo ambiente, mas reconhece não ser «suficiente».

No final, o fotógrafo lançou um apelo: «Cada um de nós tem em si uma peça da solução... o seu comportamento».
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