Comunidade cigana exige reconhecimento - TVI

Comunidade cigana exige reconhecimento

Comunidade Cigana

Ciganos «querem continuar a ser ciganos e cidadãos de primeira», afirma o presidente da União Romani espanhola

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O presidente da União Romani espanhola garantiu, esta terça-feira, que os ciganos «têm orgulho e querem continuar a ser ciganos», mas também «cidadãos de primeira» e «protagonistas» nos programas de intervenção na sua comunidade, noticia a agência Lusa.

Falando na apresentação pública do relatório das audições parlamentares sobre portugueses ciganos, no âmbito do Ano Europeu para o Diálogo Intercultural, Juan Ramirez-Heredia sublinhou que deve haver apreço pela «cultura e tradições, que personalizam os ciganos como povo dentro da pluralidade da grande comunidade».

Mais do que investigações, relatórios, intervenções políticas, sociais e económicas, o dirigente defendeu que «previamente se tem de ganhar a batalha nos meios de comunicação», porque uma notícia sobre um cigano ladrão faz a opinião pública generalizar essa imagem.

Outro caminho indispensável, segundo um dos deputados que assinou a Constituição espanhola, é fazer do cigano «artífice da mudança». «Os programas não podem ser impostos e virem de fora. O cigano tem de ficar comprometido logo na sua elaboração», afirmou.

«A minha pátria é onde nasceram os meus filhos»

«É muito possível que dentro de duas ou três gerações estruturadas (30 ou 40 anos) tenha desaparecido o analfabetismo e a pobreza dos ciganos portugueses. Mas não se resolve o problema cigano», garantiu o dirigente, lembrando alguma falta de reconhecimento da comunidade.

«Como dizia Nietzsche, a minha pátria é onde nasceram os meus filhos. Como é que alguém pode duvidar que Portugal pode não ser a pátria para ciganos portugueses onde estão há 500 anos?», questionou.

Os ciganos «exigem» protagonismo por também terem algo a dar. «A nossa cultura enriquece a cultura maioritária», defendeu.

Ramirez-Heredia lembrou os 14 milhões de ciganos que vivem em todo o mundo e a «admiração» dos investigadores na continuidade de uma cultura que está à frente dos «rankings» do analfabetismo, da falta de desenvolvimento, pobreza e que é alvo das «maiores discriminações».

«De culturas tão fortes e poderosas como a romana e a grega só sabemos delas através dos livros de História», notou.

Uma «semente»

Sobre o relatório português, considerou ser o «princípio do princípio do princípio que alguém tinha de fazer» e que é uma «semente» que tem de ser «regada».

Para o presidente da Câmara de Torres Vedras, Carlos Miguel, este trabalho é um «passo para um Portugal inclusivo, porque ser cigano é, afinal, ser diferente entre iguais».

O vice-presidente do Centro de Estudos Ciganos, Bruno Gonçalves, também se congratulou por, pela primeira vez em 500 anos, as questões dos ciganos portugueses terem chegado ao Parlamento.

«É um marco histórico», considerou este mediador sócio-cultural, que regressou à tradição familiar da venda ambulante, face à falta de homologação da sua carreira e precariedade de empregos, e que «sonha» agora formar-se em Sociologia.
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