Saramago vai mesmo ficar junto a oliveira em Lisboa - TVI

Saramago vai mesmo ficar junto a oliveira em Lisboa

As mortes de 2010 (Lux)

Restos mortais do escritor são depositadas no sábado, perto de árvore centenária descrita numa das suas obras

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As cinzas de José Saramago vão manter-se em Lisboa, num local privado, até serem depositadas, no sábado, no Campo das Cebolas, junto à oliveira centenária que o escritor refere no livro «As Pequenas Memórias».

De acordo com uma fonte da Fundação José Saramago, que ficará instalada na Casa dos Bicos, em Novembro deste ano, as cinzas do escritor, falecido faz sábado, dia 18 de Junho, exactamente um ano, «encontram-se em Lisboa, num lugar privado».

A cerimónia de deposição, organizada em conjunto pela fundação e pela Câmara Municipal de Lisboa, está marcada para as 11h00, e contará com a presença de amigos, familiares e representantes de instituições públicas.

A mesma fonte da entidade disse à agência Lusa que, esta semana, chegará da Azinhaga do Ribatejo, aldeia natal de Saramago, a oliveira centenária que o escritor refere no livro «As Pequenas Memórias» (2006).

Esta oliveira simbólica será plantada no Campo das Cebolas e as cinzas do escritor serão depositadas juto a ela.

«Já não existe a casa em que nasci, mas esse facto é-me indiferente porque não guardo qualquer lembrança de ter vivido nela. Também desapareceu num montão de escombros a outra, aquela que durante dez ou doze anos foi o lar supremo (...). Essa perda, porém, há muito tempo que deixou de me causar sofrimento porque, pelo poder reconstrutor da memória, posso levantar em cada instante as suas paredes brancas, plantar a oliveira que dava sombra à entrada, abrir e fechar o postigo da porta e a cancela do quintal onde um dia vi uma pequena cobra enroscada, entrar nas pocilgas para ver mamar os bácoros (...)», escreveu o Nobel da Literatura.

No sábado, na cerimónia, Jorge Vaz e Carvalho vai ler «Palavras para uma Cidade», um texto de Saramago sobre a capital, o primeiro a ser inscrito no blogue criado pelo escritor.

A escritora Lídia Jorge lerá depois um texto dedicado a Saramago, seguindo-se uma intervenção do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, finalizando a cerimónia com a actuação do grupo de percussão Toca a Rufar.

Ainda segundo a Fundação, junto à oliveira ficará um banco de jardim - «para que as pessoas ali se possam sentar, recordar o escritor ou ler as suas obras» - e uma placa com a frase «Mas não subiu para as estrelas, se à terra pertencia», retirada do romance «Memorial do Convento».

Mais pormenores sobre a cerimónia serão divulgados na sexta-feira, nos Paços do Concelho, numa conferência de imprensa prevista paras as 12h00 para apresentação de três livros sobre José Saramago.

A Editorial Caminho lançará a obra «Palavras para José Saramago», uma recolha de artigos publicados nos média de todo o mundo após a morte do autor, e ainda o livro infantil «O Silêncio da Água», ilustrado pelo espanhol Manuel Estrada, e com um texto retirado de «As Pequenas Memórias».

Também será lançado o livro «A última entrevista de José Saramago», do jornalista e escritor José Rodrigues dos Santos.
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