Crianças que não comeram frango cru tinham “arroz banhado em sangue” - TVI

Crianças que não comeram frango cru tinham “arroz banhado em sangue”

Presidente da Associação de Pais de escola da Grande Lisboa diz que as refeições têm sido uma preocupação constante nos últimos anos

"Chegámos ao cúmulo de servirem frango cru às nossas crianças", lamentou a mãe de um aluno do sétimo ano de uma escola básica da Grande Lisboa, há vários anos a lutar por uma "alimentação aceitável", que, lembrou, em entrevista na TVI24, nesta sexta-feira, que todos pagam: pais e Ministério da Educação.

"No ano passado tivemos uma ajuda tremenda da DGEstE [Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares] e da própria Câmara Municipal [de Oeiras] e do Agrupamento [de Escolas professor Noronha Feio] e conseguimos uma qualidade aceitável para as nossas crianças. Este ano, segundo sabemos, houve um concurso público e foi colocada na escola outra empresa fornecedora de catering e esta empresa [a Uniself] tem falhado desde o início do ano. Existem quantidades insuficientes, alimentação mal confecionada e chegámos ao cúmulo de, na segunda-feira, apresentarem frango cru às nossas crianças", contou Isabel Amaral Nunes, presidente da Associação de Pais da EB23 Noronha Feio, em Queijas.

Os próprios alunos do segundo e terceiro ciclos denunciaram a situação aos pais, depois de fotografarem os pratos daquele que seria o almoço: frango cru e a escorrer sangue.

"É uma realidade que se tem vindo a notar ao longo dos anos. Já estou nesta escola como membro da Associação de Pais e agora como presidente há sete anos e efetivamente a alimentação é algo que nos tem vindo a preocupar", disse a também encarregada de educação, apesar de admitir que nunca tinha chegado a este ponto.

"O agrupamento de Linda-a-Velha/Queijas tem como função supervisionar a hora da refeição. Quando um frango cru vai para o prato de uma criança, para mim é uma falha tremenda quer da empresa que confeciona quer da escola que não vê o que está a acontecer na hora da refeição", apontou Isabel Amaral Nunes, que lamenta que a Uniself, responsável pelo catering, ainda não tenha dado resposta às várias tentativas de contacto dos pais: "O único a responder-nos foi o agrupamento, que emitiu um comunicado. A DGgstE, ao que sabemos, estará em campo e terá entrado em contacto com a Uniself e feito pressão para que não volte a acontecer".

Por não ser um caso isolado no que respeita a refeições más, um representante dos pais, seja ou não membro da Associação, acompanha "por norma" o almoço das crianças. E, mesmo depois do que aconteceu na segunda-feira, a semana chega ao fim com novas queixas.

Houve dias [terça e quarta-feira] em que a confeção melhorou e a comida estava boa, mas ontem [quinta-feira], por exemplo, já não estava. Portanto, nós não queremos um dia bom, um dia mau, queremos todos os dias bons e queremos trabalhar com todos para que isso aconteça", indicou.

Perante este cenário, pode dizer-se que há crianças a passar fome nas escolas públicas? "Podemos chegar a esse ponto, quando ouço uma criança na peça [ver vídeo associado] a dizer que lhe disseram para comer o arroz e ele nem o arroz pode comer. Quando pagamos a alimentação dos nossos filhos, não é só para eles comerem arroz ou salada, é para fazerem uma alimentação completa. E, muitas vezes, esta é a melhor refeição que podem ter, porque infelizmente ainda vivemos tempos de crise e sabemos que isso acontece a algumas crianças. E quando lhe dizem para não comer o frango que está cru e para comer o arroz banhado em sangue, faz-me confusão como é que uma criança que está das 08:15 muitas vezes até às 17 horas na escola se alimenta."

 

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