O ex-dirigente da Frente Nacional Mário Machado foi condenado a dois anos e nove meses de prisão, por tentativa de extorsão agravada, pela Instância Central Criminal de Lisboa.
Em causa está um processo de alegada tentativa de extorsão, a partir da cadeia, através de uma carta, enviada à vítima Rute Pereira, a quem exigiu 30 mil euros, sob ameaça de morte, a cumprir diante dos filhos, de acordo com o processo.
Rute Pereira e o companheiro, Bruno Monteiro, eram antigos colegas de Mário Machado no movimento Portugal Hammerskins (PHS), que terá sofrido uma cisão com a prisão de Mário Machado.
A juíza Filipa Rodrigues deu como provado que em 2014, a partir do Estabelecimento Prisional de Alcoentre, Mário Machado enviou uma carta, através de João Dourado, a ameaçar de morte Rute Pereira, caso esta não entregasse 30 mil euros.
O tribunal deu ainda como provado que Mário Machado solicitou a João Dourado que lesse a carta a Rute Pereira, sem lha mostrar e destruindo-a de seguida, pedindo-lhe expressamente que não deitasse a mesma no lixo, não fosse a PJ encontrá-la.
João Dourado entregou a carta a Rute Pereira, em março de 2014, na loja onde esta trabalhava em Alvalade, tendo a vítima recusado pagar a quantia exigida e participado o caso à PJ e ao Ministério Público.
Ficou provado em tribunal que Mário Machado foi o autor da carta e que agiu de forma consciente ao coagir Rute Pereira, fazendo-a temer pela sua vida, pela dos filhos e do companheiro.
Este processo impediu que Mário Machado saísse a semana passada em liberdade condicional, após cumprir 5/6 de uma pena de de 10 anos, em cúmulo jurídico, por condenações relacionadas com discriminação racial, coação agravada, posse ilegal de arma e ofensa à integridade física qualificada, entre outros ilícitos.
O antigo dirigente da Frente Nacional admitiu a autoria da carta, mas alega que mandou cancelar a leitura da mesma a Rute Pereira, tendo o advogado anunciado já que vai recorrer da condenação.
Na leitura do acórdão, a juíza lembrou que Mário Machado está quase a chegar aos 40 anos e que, embora nunca tenha “conseguido demarcar-se da identidade” que assumiu em jovem, nota-se “alguma mudança”, aproveitando para o exortar a mudar de atitude e acompanhar o futuro dos filhos.
A juíza Filipa Rodrigues mostrou-se ainda preocupada que o arguido não consiga afastar-se da violência, apontando recentes declarações deste em tribunal, que admitiu “dançar consoante a música”. Mário Machado justificou que se referia apenas a situações de “legítima defesa”.
Mário Machado era para ter sido libertado na quarta-feira passada após ter cumprido 5/6 de uma pena de 10 anos de prisão, em cúmulo jurídico. Três anos desta pena foram cumpridos no Estabelecimento Prisional de Monsanto e os restantes no de Alcoentre.
No final da audiência, José Manuel Castro, advogado de Mário Machado, sustentou que este processo nasce da cisão e de divergência no movimento PHS e reiterou que a prisão preventiva do seu cliente, horas antes de sair em liberdade condicional, foi uma “espantosa coincidência”.
"Esperamos sinceramente que este processo - que caiu de para-quedas e que é feito com base numa carta, cuja entrega, voluntária ou não, se discute neste processo – não seja um elemento para perpetuar uma prisão de um indivíduo que para muitos efeitos poderá não ser cómodo para muita gente na sociedade.”
O advogado rejeitou que Mário Machado seja racista, nazi e ultranacionalista, admitindo apenas que o seu constituinte se assume como “nacionalista” e com um projeto político.
“A única coisa que ele assumiu é que é nacionalista e tem um projeto político nacionalista e isso assumiu perante o tribunal.”
Mário Machado, de 39 anos, pai de três filhos, um deles menor, está quase a completar o curso de Direito, que tirou na prisão, faltando-lhe apenas uma cadeira, e tem, segundo o relatório da Reinserção Social, emprego assegurado em escritório de advogados logo que saia da cadeia.