Publicidade na estrada distrai condutores idosos - TVI

Publicidade na estrada distrai condutores idosos

Foto: Reuters

É o que revela um estudo sobre fatores de distração, promovido pela Universidade de Aveiro

Os idosos memorizam menos informação, têm tempos de reação mais longos e cometem mais erros e omissões em tarefas realizadas em ambientes que contenham distrações visuais. Por isso, as placas de publicidade nas estradas distraem estas pessoas e aumentam a probabilidade de terem acidentes. É o que revela um estudo sobre fatores de distração da Universidade de Aveiro, promovido pelo do Departamento de Educação daquela instituição.

O trabalho de investigação pretendeu avaliar o efeito que os «distratores ambientais» podem ter no desempenho cognitivo da população idosa, especificamente quando as tarefas envolvem estímulos visuais.

Ora, «tomando por base a evidência de que ambientes distrativos prejudicam significativamente a capacidade de os idosos detetarem e responderem a estímulos, pode-se, por exemplo, prever consequências diretas na capacidade de condução dos idosos ou na realização de avaliações psicológicas em ambientes distrativos», aponta o investigador em Psicologia do Departamento de Educação da UA, Pedro Rodrigues, citado pela Lusa.

O responsável pelo estudo, supervisionado pela investigadora Josefa Pandeirada, sugere que, no que à condução diz respeito, «pode-se prever uma maior probabilidade de acidentes nesta população quando a condução ocorre num ambiente rodoviário muito distrativo, de que é exemplo uma elevada frequência de placas publicitárias nas estradas».

Esta previsão advém do facto de o estudo ter relevado maiores dificuldades dos idosos em filtrarem informações relevantes perante um ambiente mais distrativo, assim como tempos de resposta mais longos.

O estudo colocou à frente do computador 40 idosos, com idades compreendidas entre os 60 e os 95 anos, de várias instituições sociais do distrito de Aveiro, que realizaram testes de avaliação dos processos cognitivos básicos de atenção e memória.

As conclusões

«No ambiente distrativo é mais provável o idoso não responder a estímulos-alvo, dar mais respostas erradas, memorizar menor quantidade de informação ou demorar mais tempo a responder a estímulos relevantes», indicou o investigador.

As implicações são variadas: «Se um idoso está a ser avaliado psicologicamente num gabinete com muitos elementos distrativos, poderá não estar a realizar as tarefas [particularmente as que envolvam estímulos visuais] com a devida atenção». Uma situação que «pode pôr em causa a validade dos resultados obtidos e um tratamento futuro».

O mesmo poderá ser aplicado no contexto médico quando o clínico está a tentar explicar um esquema visual de toma de medicação ao idoso. «Um ambiente altamente distrativo potencialmente dificultará a apreensão da informação, podendo ter, por isso, consequências para a saúde do idoso».

O trabalho, agora em continuação com um novo grupo de 60 idosos, revela ainda prejuízos ao nível da memória perante estímulos de distração.

Este estudo insere-se numa linha de investigação pioneira em Portugal e os investigadores querem agora saber o que se passa com as crianças, os adolescentes e os adultos em contextos semelhantes «Em termos desenvolvimentais, as capacidades cognitivas dos indivíduos desenvolvem-se desde a infância até à idade adulta e entram em declínio durante a fase de envelhecimento. Será de esperar por isso “que os distratores ambientais sejam mais prejudiciais ao desempenho cognitivo de crianças, adolescentes e idosos, do que ao desempenho de adultos».

Para Pedro Rodrigues, «se essa evidência se verificar em idades escolares», é de admitir que, por exemplo as salas de aula, que normalmente têm muitos elementos distrativos visuais, podem ter caraterísticas que se tornam prejudiciais às tarefas de aprendizagem, que naturalmente envolvem atenção e memória».

O trabalho inicial da UA já deu lugar a um artigo publicado na revista internacional «Cognitive Processing», onde se podem encontrar os primeiros dados obtidos com idosos portugueses, bem como referências a várias das suas implicações práticas.
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