«Acompanhamos os sucessivos apelos do Papa Francisco, para que a comunidade internacional desperte para a gravíssima situação dos cristãos perseguidos em vários países do mundo – o cristianismo é hoje a religião mais perseguida em termos globais –, como continua a acontecer no Próximo Oriente e ainda recentemente aconteceu no Quénia, citando apenas duas de várias situações flagrantes ou latentes», afirmou Manuel Clemente.
O cardeal-patriarca discursava na sessão de abertura de mais uma assembleia plenária da CEP, a reunião magna dos bispos católicos portugueses, ocasião em que referiu que «as dioceses portuguesas têm compartilhado esta preocupação, com oração e ajudas materiais».
«Assim continuará a suceder, mas é necessário que a sociedade no seu todo mantenha este ponto na sua agenda política e humanitária, pois é duma questão básica e transversal de direitos humanos que realmente se trata», salientou Manuel Clemente, escutado pela Lusa.
No domingo de Páscoa, o Papa Francisco defendeu que a comunidade internacional deve denunciar e atuar perante os crimes de que são vítimas os cristãos em todo o mundo.
«Desejo que a comunidade internacional não assista muda e inerte a tais crimes inaceitáveis, que constituem uma deriva preocupante dos direitos humanos mais elementares», declarou o Papa perante milhares de pessoas reunidas na praça de São Pedro, em Roma.
Francisco pediu orações, mas também uma «participação concreta» e gestos de ajuda «palpável na defesa e proteção dos irmãos e irmãs perseguidos, exilados, assassinados, decapitados unicamente por serem cristãos».
No domingo de Ramos, o Papa já tinha apelado para o fim das perseguições e da violência em nome da religião, na sequência do massacre na universidade de Garissa, no Quénia, que provocou 148 mortos.
Na 186.ª assembleia plenária, os bispos retomam o tema da família e analisam o contributo da CEP para o sínodo ordinário, que se realiza em outubro, em Roma, e deverão aprovar uma nota pastoral sobre a visita da Imagem Peregrina de Fátima às dioceses, em 2015-2016, no âmbito do centenário dos acontecimentos na Cova da Iria.
Bispos «defendem o direito a nascer»
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), Manuel Clemente, revelou-se confiante de que possam ocorrer alterações à lei da interrupção voluntária da gravidez na sequência da iniciativa legislativa de cidadãos «Do direito a nascer».
«Em iniciativa recente, rapidamente se juntaram 50 mil assinaturas de cidadãos, para que a Assembleia da República veja e reveja o que está e não está a ser feito neste campo. Foi tal o envolvimento dos subscritores, que algo de novo e positivo acontecerá certamente, no plano prático e legal», disse Manuel Clemente.
No discurso de abertura da assembleia plenária da CEP, o cardeal-patriarca, citando o Papa Francisco, afirmou que aos «nascituros, os mais inermes e inocentes de todos», se «quer negar a dignidade humana para poder fazer deles o que apetece, tirando-lhes a vida e promovendo legislações, para que ninguém o possa impedir».
«Em Portugal, tal atinge uma grande quantidade de vidas humanas, cuja gestação é interrompida ao abrigo duma lei que as não protege», declarou Manuel Clemente, defendendo que «a defesa da vida em gestação há de ser prevenida e acompanhada com o apoio concreto às mães gestantes».
Para o presidente da CEP, «tal deve ser uma prioridade política geral, ultrapassando o campo confessional estrito, pois se trata da base imprescindível do direito comum de todos», sobretudo agora, «quando uma brusca queda demográfica põe em causa a própria sobrevivência harmónica e socialmente garantida da nossa população inteira».
“Sobre estes e outros pontos, relativos à salvaguarda da vida humana em todas as suas fases, à promoção da vida familiar e à educação dos filhos, ao trabalho e ao emprego, à saúde e segurança social para todos, à integração dos imigrantes e ao diálogo sociocultural inclusivo, se devem pronunciar os que se propõem servir politicamente”, defendeu ainda o presidente da CEP.
A iniciativa legislativa de cidadãos «Lei de apoio à maternidade e à paternidade - do direito a nascer» recolheu 48.115 assinaturas, que foram entregues à Presidente da Assembleia da República no dia 18 de fevereiro.
Com mais de 35.000 assinaturas, este tipo de iniciativas tem garantido a sua apreciação e votação no plenário da Assembleia da República
A análise de uma proposta de modelo de estatutos para os centros sociais paroquiais e outros institutos da Igreja Católica, cuja situação será igualmente objeto de reflexão, e uma proposta de compromisso para as misericórdias, são outros dos assuntos que ocuparão os bispos até quinta-feira.