Covid-19: surto de Mora pode ter mais de 300 pessoas envolvidas, diz DGS - TVI

Covid-19: surto de Mora pode ter mais de 300 pessoas envolvidas, diz DGS

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  • 17 ago 2020, 15:07

Graça Freitas admite uma situação "complexa" que continua em investigação

A diretora-geral de Saúde disse estar em investigação, em Montemor-o-Novo, um segundo foco do surto de covid-19 iniciado em Mora, distrito de Évora, onde se registam 40 infeções e “mais de 300 pessoas potencialmente envolvidas”, admitindo um foco "complexo" na zona.

Relacionado com Mora, há um outro caso em Montemor-o-Novo - Ciborro. Foram feitos 225 testes e há 24 casos confirmados neste segundo foco possivelmente relacionado com o primeiro. Digo possivelmente porque ainda está em investigação. Não temos a certeza absoluta mas pode haver alguma ligação”, afirmou Graça Freitas, na conferência de imprensa sobre a situação epidemiológica em Portugal.

Quanto à vila de Mora, a diretora-geral de Saúde referiu a existência de “mais de 300 pessoas potencialmente envolvidas”, a “maior parte já testadas” e o registo de 40 casos confirmados, ainda sem identificação da origem ou das cadeias de transmissão.

Quer a origem quer as cadeias de transmissão deste surto [em Mora] estão ainda em investigação”, frisou Graça Freitas, referindo que “não são apenas os casos iniciais que interessam”.

“Interessam também os casos secundários, terciários e quaternários”, disse, questionada pelos jornalistas sobre declarações do autarca da vila alentejana sobre o facto de estar em causa um “caso de polícia”.

Graça Freitas referiu-se a este caso como “um surto complexo, já com 40 casos identificados”, que está “em investigação pelas autoridades de saúde”, sendo “precoce estar a fazer afirmações sobre a origem e cadeias subsequentes”.

Questionada sobre uma eventual investigação policial sobre o surto em Mora, a diretora-geral afirmou que a investigação das autoridades de saúde “é policial no sentido da minúcia” e do “trabalho de detetive” para identificar os contactos dos infetados e identificar a origem do contágio.

O número de pessoas infetadas com covid-19 na vila de Mora, no distrito de Évora, tinha subido no domingo para 39, depois de o surto ter sido detetado há uma semana com três casos, indicou o presidente do município.

Citando dados das autoridades de saúde pública regionais, Luís Simão adiantou no domingo à agência Lusa que três das pessoas infetadas continuam internadas no Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE), uma delas na Unidade de Cuidados Intensivos (UCI).

Luís Simão disse que vão ser testados todos os funcionários do município e que vai solicitar também a realização de testes por partes dos efetivos do posto da GNR e dos bombeiros voluntários.

Este surto surgiu há uma semana, no dia 9, quando foram confirmados os primeiros três casos positivos na comunidade, número que foi subindo, todos os dias, à medida que foram sendo testados os contactos de pessoas infetadas.

A câmara ativou o Plano Municipal de Emergência para lidar com este surto e fechou, no início da semana passada, os serviços de atendimento ao público e outros equipamentos, como a Oficina da Criança, a Casa da Cultura, o Centro de Atividades de Tempos Livres e instalações desportivas.

Ao longo da última semana, segundo o relato do autarca local, foram fechando cafés, restaurantes e outros estabelecimentos comerciais, com a população confinada em casa, por precaução.

Covid-19 em 70 lares

Setenta estruturas residenciais para idosos em Portugal têm casos de covid-19 com 542 utentes e 207 funcionários com testes positivos, disse esta segunda-feira o secretário de Estado da Saúde.

Em conferência de imprensa de atualização da pandemia em Portugal, António Sales adiantou que este número equivale a menos de 3 por cento do universo total de lares de idosos.

A situação dos lares, adiantou, continua a ser acompanhada pelo Ministério da Saúde, garantindo contudo que se regista “alguma estabilidade” e que a tendência é de continuar a ser de diminuição de infeções nestes espaços.

O que podemos garantir é que a experiência tem levado a correções e a melhorias”, disse o governante adiantando que, por exemplo, foram feitas visitas a 261 de um total de 283 residências para idosos na zona do Alentejo, com a elaboração de relatórios sobre as inconformidades detetadas, estando os serviços a aferir correções.

Esta situação, assegurou Antonio Sales, “também se verifica no resto do país, onde os lares têm recebido equipas mistas da Segurança Social, autoridades de Saúde e Proteção Civil para verificação da implementação das medidas”.

Este é um trabalho conjunto com as instituições, as autarquias e Segurança Social com um objetivo comum de proteger esta faixa da população mais vulnerável ao vírus que obriga a um dever especial de proteção”, salientou.

Norte com aumento de casos devido a surtos "familiares e sociais"

O aumento de casos de covid-19 na região Norte deve-se a “surtos com origem familiar e social”, disse a diretora-geral da Saúde, pedindo que se evitem “distrações” nos cuidados durante o convívio entre núcleos familiares distintos.

Deixo aqui um apelo pedagógico, porque as famílias, devem ter cuidados [relativamente ao contágio]. Qualquer distração pode levar a surtos. Quando as famílias se juntam, não se esqueçam que são núcleos diferentes. Cada núcleo é como se fosse uma bolha de infeção. Basta que um núcleo esteja infetado para poder infetar os outros”, observou Graça Freitas, na conferência de imprensa da Direção-Geral da Saúde sobre a situação epidemiológica no país.

A responsável lembrou que, “no início”, a região Norte foi a mais afetada pela pandemia, motivo pelo qual nessa “primeira fase” foi “criado um gabinete de crise” que continua a funcionar e “utiliza métodos que foram sendo utilizados em Lisboa”.

A região tem toda esta experiência acumulada e cremos que vai controlar estes surtos”, afirmou.

Graça Freitas destacou que, “no convívio familiar, é muito fácil haver distrações que podem levar a infeções”.

Quando nos encontramos, basta uma dessas bolhas [núcleos familiares] ter um caso infetado para propagar”, alertou.

A diretora-geral da Saúde referiu ainda que o Norte “nunca deixou de ter casos dispersos” e que, “neste momento, existem surtos de origem familiar e social”, sendo “Vila do Conde um concelho particularmente afetado”.

Graça Freitas e Lacerda Sales leram relatório de lar de Reguengos

O secretário de Estado da Saúde e a diretora-geral da Saúde afirmaram ter lido “todos os relatórios” quando questionados sobre o da Ordem dos Médicos (OM) ao lar de Reguengos de Monsaraz onde morreram 18 idosos com covid-19.

Analisamos todos os documentos e relatórios [no Ministério da Saúde]. A análise pressupõe a leitura. Li todos os documentos e relatórios, claro que sim. Neste momento estamos a analisar. Há muitas conclusões convergentes, outras menos convergentes, mas o que interessa é que da análise desses relatórios saia um caminho para proteção destas faixas mais vulneráveis”, disse António Lacerda Sales na conferência de imprensa sobre a situação epidemiológica em Portugal.

Já a diretora-geral de Saúde, Graça Freitas, referiu que ler os relatórios que lhe chegam faz parte das suas “obrigações”, tal como “retirar deles ensinamentos e fazer sobre eles comentários e acrescentos, porque nenhum é completamente exaustivo”, precisando “que se olhem para outros ângulos”.

Como disse o secretário de Estado da Saúde, temos a obrigação de ler os relatórios que nos chegam. Isso faz parte das nossas obrigações: ler os relatórios, retirar deles os ensinamentos mas também fazer sobre eles comentários e acrescentos porque nenhum relatório é completamente exaustivo e precisa, às vezes, que se olhem para outros ângulos”, afirmou a responsável da Direção-Geral de Saúde (DGS).

As perguntas surgiram na sequência das declarações ao Expresso, no sábado, da ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, nas quais referiu que não leu o relatório da Ordem dos Médicos, o que suscitou reações políticas.

O Ministério Público (MP) instaurou um inquérito sobre o surto de covid-19 num lar em Reguengos de Monsaraz, no distrito de Évora, e uma auditoria da Ordem dos Médicos aponta falhas ao funcionamento do lar.

Questionado hoje sobre o relatório do lar de Reguengos de Monsaraz, Lacerda Sales começou por vincar que “relativamente ao relatório e aos documentos, o Ministério da Saúde analisa todos os documentos e todos os relatórios que lhe chegam”.

Obviamente que não vamos comentar esses documentos e relatórios, sendo matéria que está sob investigação do MP”, observou.

Lacerda Sales acabaria por reconhecer que uma análise pressupõe uma leitura e que leu “todos os documentos e relatórios”.

O governante disse ainda que os “relatórios e documentos são sempre bem vindos, não só para apurar responsabilidades, mas para ajudar o Governo a melhorar e proteger estas faixas mais vulneráveis, neste caso os idosos”.

O lar de Reguengos de Monsaraz onde um surto de covid-19 provocou a morte de 18 pessoas não cumpria as orientações da Direção-Geral da Saúde, conclui uma auditoria da Ordem dos Médicos, que aponta responsabilidades à administração.

O relatório da comissão de inquérito da Ordem dos Médicos para avaliar as circunstâncias clínicas do surto de covid-19 diz que não era possível cumprir “o isolamento diferenciado para os infetados ou sequer o distanciamento social para os casos suspeitos”.

A comissão conclui que “os recursos humanos foram insuficientes para a prestação de cuidados adequados no lar, mesmo antes da crise de covid-19, uma situação que se agravou com os testes positivos entre os funcionários, que os impediram de trabalhar

Na entrevista ao Expresso, a ministra da Segurança Social admitiu que faltam funcionários nos lares, lembrando que há um programa para colmatar essa falha, mas considerou que a dimensão dos surtos de covid-19 “não é demasiado grande em termos de proporção”.

Sobre o relatório que a Ordem dos Médicos lhe enviou e no qual são denunciadas situações de abandono terapêutico dos utentes do lar, a ministra defendeu que essa é “uma valência da Saúde”, escusando-se a comentar.

Portugal regista esta segunda-feira mais uma morte e mais 132 casos confirmados de covid-19 em relação a domingo, segundo o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS), hoje divulgado.

De acordo com o boletim da DGS sobre a situação epidemiológica, que iniciou hoje um novo modelo de divulgação dos dados, desde o início da pandemia registaram-se 54.234 casos de infeção confirmados e 1.779 mortes.

A região de Lisboa e Vale do Tejo regista a única morte ocorrida nas últimas 24 horas e mais 66 casos de infeção do que no domingo, com um total de 27.997 casos confirmados.

A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 770.429 mortos e infetou mais de 21,7 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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