Covid-19: jovens pedem ajuda a Marcelo para mudar discurso que os faz "bode expiatório" - TVI

Covid-19: jovens pedem ajuda a Marcelo para mudar discurso que os faz "bode expiatório"

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  • 15 jul 2020, 21:22
Marcelo recebe jovens

Presidente da República mostrou preocupação com uma visão sectária do problema

O Conselho Nacional de Juventude (CNJ) pediu esta quarta-feira a ajuda do Presidente da República para mudar o discurso da sociedade para um tom “não paternalista, não moralista, face à juventude”, que sentem ser o “bode expiatório” da pandemia.

O CNJ está muito preocupado quando os jovens são um bode expiatório para as questões da pandemia”, disse Rita Saias, presidente do CNJ, durante uma audiência com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a propósito dos 35 anos do organismo.

Frisando que os dados das autoridades de saúde pública mostram que “os jovens não são os novos polinizadores da Covid-19”, Rita Saias pediu a ajuda e a intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa.

Gostávamos que o senhor Presidente nos ajudasse a ter um novo discurso enquanto sociedade, não paternalista, não moralista face à juventude, porque temos a certeza que precisamos de todos e que todos são necessários para encontrar as melhores soluções para esta pandemia”, disse a presidente do CNJ.

Na resposta, o chefe de Estado manifestou a sua preocupação com uma visão sectária do problema.

Acompanho a vossa preocupação, no sentido de que não se pode recriminar nenhum setor da sociedade portuguesa. Estamos todos no mesmo barco. Eu que pertenço ao grupo de risco, estou no mesmo barco em que se encontram vocês com menos 50 anos de idade. É tão injusto dizer que aqui ou acolá aquilo que se verifica permite dizer generalizadamente que os responsáveis são os do meu grupo de risco, porque não se defendem suficientemente, porque se expõem excessivamente, como dizer que são os jovens que desconfinam rapidamente e em excesso, e em exagero”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.

Sublinhando que o confinamento português foi particularmente exigente, “um dos mais exigentes da Europa”, cumprido voluntariamente pelos portugueses, e que seria expectável que o desconfinamento trouxesse mais convívio social e maior risco de contágio, contribuindo para um achatar da curva epidémica mais lento, o Presidente da República lembrou também que há franjas da sociedade que nunca pararam de trabalhar e de se deslocar, não tendo tido sequer a possibilidade de confinamento, e consequentemente de desconfinamento.

Marcelo Rebelo de Sousa pediu que se continue a olhar “para este desafio” que se continua a viver de forma “muito serena, muito racional”, atentos a comportamentos adequados e à compatibilização da abertura da economia com a proteção da saúde pública, frisando que esse é um “processo contínuo”.

O CNJ aproveitou o encontro de hoje nos jardins do Palácio de Belém para entregar a Marcelo Rebelo de Sousa um programa com um conjunto de medidas tendo em vista a recuperação económica e social, pensando em questões que afetam a vida e independência dos mais novos, sintetizadas em seis grandes pontos de abordagem, que passam pela promoção de um novo paradigma de emprego, habitação com apoios públicos, “importantíssima para a emancipação” sublinhou Rita Saias, promoção de uma recuperação económica sustentável, recordando que os jovens precisam deste planeta para terem um futuro, mas também a promoção de uma participação “plena e efetiva” dos jovens em processos de decisão.

Esta última reivindicação, sublinhou o chefe de Estado, é “muito justa” e necessária a um processo de rejuvenescimento da sociedade.

As vezes os regimes esquecem-se que envelhecem. São sempre os mesmos, ou quase sempre os mesmos. E depois ficam muito surpreendidos quando aparecem jovens com 20 anos a quererem ser aquilo que os que têm hoje mais 20, 30, 40 ou 50 anos eram com a idade deles”, disse o Presidente da República, recordando o seu próprio percurso na vida pública, democrática e política, que se iniciou cedo.

Para Marcelo Rebelo de Sousa o processo deve ser de transição, sem substituições diretas de mais velhos por mais jovens, sem segregações, que “não é solução”, mas sim “misturar melhor os menos jovens com mais jovens, deixar que mais jovens ocupem posições relevantes”.

É um erro criar em relação aos da vossa idade a sensação que têm que esperar meio século para chegar a lugares de responsabilidade”, alertou.

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