O tenente que se despediu da filha de um mês para regressar à linha da frente - TVI

O tenente que se despediu da filha de um mês para regressar à linha da frente

Tenente Andrade

Bruno Andrade é enfermeiro e reforçou a linha da frente do Hospital das Forças Armadas, no Porto. "Há um dever a cumprir", afirma à TVI24

A Marinha portuguesa publicou nas redes sociais a fotografia de um militar que foi pai recentemente e que deixou de acompanhar os primeiros tempos da filha para alinhar na linha da frente contra a pandemia de covid-19.

Bruno Andrade é tenente, tem 38 anos e é enfermeiro no Centro de Medicina Subaquática e Hiperbárica, em Lisboa, onde vive com a mulher e agora com a filha Íris, que nasceu no dia 14 de dezembro.

Um mês depois, estava a caminho do Norte, para reforçar a equipa clínica do Hospital das Forças Armadas do Porto.

O tenente Andrade não esconde a tristeza de estar afastado da companheira e da filha recém-nascida, como já havia ocorrido no último mês da gravidez.

“Já tinha tido a experiência no último mês da gravidez, também tinha estado na linha da frente em novembro. Fiquei muito triste pela menina e pela minha mulher. Preferia estar em Lisboa para poder dar apoio à minha família, mas sabia que tinha um dever a cumprir”, desabafa Bruno Andrade à TVI24.

O militar explica que, à medida que os colegas vão sendo infetados pela covid-19, é cada vez mais complicado conseguir ir a casa. A distância, aliada às folgas cada vez mais escassas, impossibilita o trajeto de mais de 300 quilómetros.

 

Ainda assim, Bruno Andrade mantém o ânimo e o sentido de missão, enquanto pensa no regresso.

A carga de trabalho é cada vez maior. À medida que os colegas vão ficando infetados, os restantes passam a ter turnos mais longos para assegurar as baixas. Mas, talvez em meados de fevereiro, consiga ser transferido para Lisboa”, refere o militar.

Apesar da região Norte ter sido altamente afetada pelo pico pandémico antes do Natal, Bruno Andrade refere que o cenário atual é mais negro.

O tenente considera que o SARS-CoV-2 está agora a provocar sintomas mais acentuados nos pacientes, mas exclui um cenário semelhante ao que se está a verificar no Hospital de Santa Maria, onde dezenas de ambulâncias têm feito fila à porta das urgências.

A situação está pior do que nas outras vagas, em termos de ocupação de camas. Dá a sensação que a infeção ficou mais forte e está a provocar complicações mais graves nos doentes. Penso que o que se está a verificar no Hospital de Santa Maria não vai acontecer aqui. Aliás, tenho quase a certeza que não. Já abrimos várias enfermarias para que tal não aconteça nos hospitais públicos”, explica Bruno Andrade.

Foram várias as vezes que já foram feitas comparações entre a pandemia e uma guerra. 

Literalmente, não faz muito sentido. Mas compreendo a comparação, porque é baseada na forma de agir sem qualquer preparação. É tudo muito rápido, tal como acontece numa guerra. É semelhante ao que acontece nos hospitais de campanha, em cenário bélico, onde temos de tratar os doentes apenas com o que há disponível”, garante Bruno Andrade.

Bruno Andrade vai permanecer pelo menos mais um mês afastado de companheira e da filha Íris. No Hospital das Forças Armadas do Porto, na linha da frente da pandemia, que já afastou e subtraiu tantas famílias portuguesas.

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