Hospital de Setúbal: Urgência Obstétrica em risco de colapsar. Pandemia "serviu de desculpa para não se fazer nada" - TVI

Hospital de Setúbal: Urgência Obstétrica em risco de colapsar. Pandemia "serviu de desculpa para não se fazer nada"

  • Henrique Magalhães Claudino
  • Com Joana de Almeida Nunes
  • 7 ago 2021, 18:31

Presidente do Conselho Regional de Sul da Ordem dos Médicos denuncia uma situação de falta de recursos humanos que já levou o diretor do serviço a apresentar a demissão

O presidente do Conselho Regional de Sul da Ordem dos Médicos denunciou este sábado as condições do Serviço de Obstetrícia do Centro Hospitalar de Setúbal que fizeram com que o diretor do Serviço apresentasse a demissão.

Pinto de Almeida colocou no sábado o lugar à disposição, mediante a constante falta de profissionais, que obrigou o encerramento da urgência esta semana.

Em declarações à TVI, o representante da Ordem profissional sublinha a gravidade da situação, destacando que o hospital O hospital, na Urgência Obstétrica, “está em risco de colapsar”.

“Neste momento, para o número de médicos que deviam estar a fazer urgência, temos menos de metade”, revelou Alexandre Valentim Lourenço.

A Ordem deixa ainda o alerta para a saída de alguns profissionais em idade de reforma durante este ano e o próximo, o que poderá ditar mesmo o fim deste serviço no Hospital de Setúbal.

“Grande parte destes médicos tem mais de 60 anos, não deviam estar a fazer bancos e continuam a fazer dois a três serviços de urgência de 24 horas por semana, para garantir uma abertura mínima do hospital”, afirma, sublinhando que este é um problema que dura há vários anos.

Valentim Lourenço refere ainda que a pandemia “serviu de desculpa para não se fazer nada”.

“Isto é uma situação que nós já conhecemos há três ou quatro anos e agora que a pandemia está a terminar, vemos que a situação não é igual, é pior do que estava antes”

Contactado pela TVI, o hospital diz que apesar das dificuldades no serviço, durante os próximos dias está previsto o seu normal funcionamento.

A urgência de obstetrícia do Hospital de São Bernardo, em Setúbal, teve de encerrar na quarta-feira, durante 24 horas, devido à falta de médicos desta especialidade, indicou fonte do gabinete de comunicação do Centro Hospitalar de Setúbal na altura.

"O Centro Hospitalar de Setúbal e os hospitais da Península de Setúbal trabalham de forma articulada", afirmou o gabinete de comunicação, explicando que as grávidas estavam a ser encaminhadas para os outros dois hospitais da região, designadamente o Hospital Garcia de Orta, em Almada, e o Centro Hospitalar Barreiro Montijo.

Na quinta-feira, o Sindicado Independente dos Médicos (SIM) afirmou que a falta de profissionais na urgência de obstetrícia do Hospital de São Bernardo, em Setúbal, é uma situação "crónica", que "não só se mantém, como se tem agravado".

"De um quadro de pessoal que deveria estar dimensionado para 23 médicos, apenas existem 11. Desses, oito têm mais de 55 anos, mas continuam solidariamente a fazer urgências", indicou o SIM, em comunicado, revelando que está previsto que até ao fim deste ano se aposentem cinco médicos.

No mesmo dia, a Ordem dos Médicos manifestou "grande preocupação" com a falta de recursos humanos na urgência de obstetrícia do Hospital de São Bernardo, em Setúbal, alertando que está em risco a segurança de grávidas em situação de emergência.

"O conselho de administração [do Centro Hospitalar de Setúbal] não tem assumido, com clareza, a necessidade de contactar o CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes] e de informar a população que não tem recursos e tenta mascarar e pôr a cabeça debaixo da areia para uma situação que pode pôr em risco a saúde de uma mãe ou de um bebé na altura do parto", afirmou o presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, Alexandre Valentim Lourenço.

O representante dos médicos disse que a urgência de obstetrícia precisa "no mínimo de três especialistas presentes" para poder funcionar aberta ao exterior e com partos, no entanto, "em casos excecionais, a Ordem permite que haja dois especialistas e um interno dos últimos anos".

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