Chefias médicas demitem-se em bloco no Hospital Gaia/Espinho - TVI

Chefias médicas demitem-se em bloco no Hospital Gaia/Espinho

  • Notícia atualizada às 18:20
  • 5 set 2018, 15:21

Médicos concretizaram ameaça devido às “condições indignas de assistência no trabalho e falta de soluções da tutela”. No total, são 52 os que renunciaram aos cargos. Administração diz que médicos nunca falaram de demissão

O diretor clínico e os diretores e chefes de serviço do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E), num total de 52 clínicos, demitiram-se em protesto contra as “condições indignas” em que trabalham.

O anúncio foi feito esta quarta-feira pelo presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos, António Araújo, em conferência de imprensa.

Na conferência de imprensa, no Porto, o diretor clínico demissionário daquele centro hospitalar, José Pedro Moreira da Silva, apontou como causas para a demissão coletiva as “condições indignas de assistência no trabalho e falta de soluções da tutela”.

Carta datada de julho

O diretor clínico e os 51 diretores de serviço e chefes de equipa do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNGE) redigiram a carta de demissão em julho, altura em que ponderaram demitir-se, mas só agora concretizaram essa intenção.

Depois de terem ameaçado demitir-se em março, aquando de uma visita do bastonário da Ordem dos Médicos à unidade de saúde, estes profissionais esperaram cinco meses para que as suas reivindicações fossem atendidas, mas dado não ter havido alterações ponderaram demitir-se em julho, motivo pelo qual a carta está datada de dia 16, mas decidiram "aguentar" até ao final do Verão e, verificando que nada mudou, concretizaram hoje essa intenção, explicou à Lusa fonte da ordem dos Médicos.

Na missiva, datada de 16 de julho e distribuída esta quarta-feira aos jornalistas pelo bastonário da Ordem dos Médicos, em conferência de imprensa, o diretor clínico, assessores da direção clínica, diretores das unidades de gestão integrada, diretores de serviço e chefes de equipa do serviço de urgência polivalente justificam a sua decisão com o “aumento da insegurança na assistência prestada” aos doentes e com a “atual e persistente carência” de equipamentos, profissionais de saúde e verbas.

Os profissionais de saúde salientam, no documento, que a “responsabilidade e o desenvolvimento técnico e profissional, a dedicação e o empenho” das equipas têm sido o “baluarte” do hospital ao longo dos tempos.

As diversas promessas de governação em estrutura, equipamentos e recursos humanos não têm sido satisfeitas para acompanhar a dinâmica de um dos principais complexos assistenciais da região, pese embora o esforço dos sucessivos conselhos de administração e respetivas direções clínicas”, acrescenta a carta.

Alerta do Bastonário

Em março, numa visita à unidade hospitalar para se inteirar dos problemas existentes, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, disse que todos os diretores de serviço do Centro Hospitalar estavam dispostos a demitir-se se "a situação caótica” se mantivesse.

[Existem] condições caóticas. O Serviço de Urgência parece um cenário de guerra com macas por todo o corredor. Quase é impossível circular (...). Este hospital está a definhar. As prioridades são a melhoria das infraestruturas e dotar o hospital com os recursos humanos necessários", afirmou, na altura, o bastonário, referindo que foi decidido enviar uma carta e solicitar uma reunião "urgente" ao ministro da Saúde.

Miguel Guimarães desafiou os ministros da Saúde e das Finanças a visitarem este hospital para perceberem, disse o responsável, que "doentes e profissionais vivem em condições que não lembram a ninguém".

Os médicos e a Ordem dos Médicos estão indignados com o que está a acontecer e, na salvaguarda da segurança clínica e da qualidade da medicina que devem existir, todos os diretores de serviço e de departamento estão na disposição de apresentar a sua demissão, se nada for feito", salientou o bastonário.

O responsável descreveu vários cenários encontrados na visita de hoje e relatados pelos profissionais do CHVNG/E, como a existência de uma enfermaria com 36 doentes que tem apoio de "apenas duas casas de banho que não estão inteiramente funcionais", sintetizando: "Há muitos serviços que não estão a funcionar em condições adequadas".

O Serviço de Urgência é prioritário. Vimos 22 doentes internados em macas quando neste hospital existem 19 camas de internamento que estão fechadas. As condições de trabalho não são dignas. Tem havido cirurgias adiadas. Não há radiologista a partir da meia-noite. Há equipamentos fora do prazo", observou Miguel Guimarães.

Médicos nunca falaram de demissão

O Conselho de Administração (CA) do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E), esclareceu entretanto que até terça-feira, data da entrada do pedido de demissão dos 52 clínicos, havia um clima de diálogo para a resolver os problemas denunciados.

Das reuniões realizadas entre presidente do CA, diretor clínico e diretores de serviço e UGI não resultou qualquer pedido de demissão, tendo sido expressa a vontade de continuar a trabalhar para a melhoria do CHVNGE", afirmou o Conselho de Administração, em resposta a questões da agência Lusa colocadas após a demissão dos responsáveis clínicos do hospital.

Segundo a administração daquela unidade de saúde pública, desde que em março se tornaram conhecidas as queixas dos responsáveis clínicos do centro Hospitalar, a administração do centro hospitalar administração "promoveu reuniões, quer conjuntas quer com cada diretor de serviço e UGI, da qual resultou uma posição uniforme entre CA e os vários dirigentes e quadros do CHVNGE".

A 14 de agosto deste ano, acrescenta, realizou-se ainda uma "reunião entre Ministério da Saúde, secretarias de Estado da Saúde, ACSS, ARS Norte e Conselho de Administração do CHVNGE (representados pelo presidente do Conselho de Administração e diretor clínico), da qual resultou um forte compromisso de melhoria entre as partes, que foi entendida como positiva pelo CHVNGE".

À Lusa, o conselho de administração lembrou ainda que estratégia aprovada contou com a participação dos vários diretores de serviço, que estabeleceram como prioritário um conjunto de obras de modificação, melhoria e ampliação do CHVNGE.

Desde a tomada de posse deste Conselho de Administração, em abril de 2017, foi reiniciada a Fase B das obras do Novo Edifício Hospitalar (16 milhões de euros), assim como garantida a Fase C (30 milhões de euros).

Foi também garantida, acrescentam, a integração do Centro de Reabilitação do Norte no CHVNGE e teve início a Unidade de Hospitalização Domiciliária, estando para breve a abertura da Unidade de Convalescença.

Quanto ao Serviço de Urologia, que, segundo a administração, está em piores condições, este terá novas instalações em poucos meses, com a conclusão da Fase B.

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