As duas horas de aflição dos pilotos do avião da Air Astana - TVI

As duas horas de aflição dos pilotos do avião da Air Astana

Os diálogos com a torre de controlo e com a Força Aérea, que acabou por ajudar o Embraer de 32 metros de comprimento a aterrar em segurança, depois de um grande susto

O voo KZR 1388 da Air Astana descolou de Alverca às 13:31, onde esteve em manutenção, com seis pessoas a bordo. Tinha como destino Minsk, capital da Bielorrúsia. Porém, apenas três minutos depois, ficou incontrolável e declarou emergência.

Piloto: Mayday, Mayday, Mayday! Perdemos o controlo e altitude.

Torre: Tem algum pedido?

Piloto: Vou regressar ao aeroporto.

Torre: Tem contacto visual com Alverca?

Piloto: Estou a regressar ao aeroporto.

Torre: Vire à esquerda ou à direita, como desejar.

Piloto: Temos problemas de controlo. O avião perdeu a capacidade de voo.

Pelas 13:36 registaram-se problemas nas comunicações, mas o aparelho não perdeu contacto com Lisboa.

Dez minutos depois, pelas 13:45, o piloto acusou nervosismo e colocou a possibilidade de uma amaragem no Tejo ou no Sado:

Piloto: “Pedimos para aterrar na água, na água! O avião está incontrolável!.

(…) Piloto, seis pessoas a bordo, perdemos totalmente o controlo do voo. Precisamos de aterrar no mar assim que possível”.

A Marinha foi contactada para “a possibilidade de fazer amaragem no Tejo ou no Sado, na zona da Comporta e os meios foram enviados”, explicou à TVI24 o porta-voz da Marinha Fernando Fonseca.

O avião andou durante um quarto de hora andou aos círculos numa trajetória irregular a noroeste de Lisboa, perdendo altitude. Sobrevoou o estuário do Sado e largou combustível em Coruche, para libertar peso. A Força Aérea acabou por entrar em cena:

FA: Somos da Força Aérea Portuguesa. O que precisa?

Piloto: Por agora, nada.

Nessa altura, os pilotos já tinham conseguido controlar o avião. Fizeram apenas um pedido:

Piloto: “Precisamos de apoio para aterrar num aeroporto com bom tempo”

FA: Estamos a 60 milhas a norte da sua posição. Vamos tentar intercetá-lo e dar-lhe toda a assistência que precisa. Consegue chegar a Faro?

A resposta foi negativa.

Dois F16 da Força Aérea descolaram da Base Aérea de Monte Real para escoltar o Embraer. Nesta altura ainda havia dúvidas sobre onde aterrar. Acabou por ser em Beja. Não à primeira (não estava no enfiamento da pista), nem à segunda tentativa (o piloto apercebeu-se que estava demasiado alto).

à terceira é que foi de vez. O avião da Air Astana acabou por aterrar em segurança. Eram 15:10, quase duas horas depois da descolagem e da “falha crítica nos sistema de navegação e controlo de voo” que foi detetada.

Já esta segunda-feira, a companhia aérea indicou que as informações iniciais apontam para que problemas nos eixos do controlo tenham estado na origem da aterragem de emergência do avião em Beja.

Dois dos seis tripulantes sofreram ferimentos ligeiros. 

Duas horas de susto, numa situação inédita em Portugal.

“O maior susto” na vida de um tripulante

Um dos tripulantes do avião confessou que o incidente foi "o maior susto" da sua vida e a tripulação apanhou "um grande susto".

Em declarações à agência Lusa, o comandante dos Bombeiros Voluntários de Beja, Pedro Barahona, explicou que a corporação foi chamada à Base Aérea (BA) N.º 11, e acabou por transportar para o hospital da cidade, em duas ambulâncias, dois tripulantes considerados feridos ligeiros, ou seja, dois homens, um de 37 anos, natural do Cazaquistão, e outro inglês, de 54.

Os dois tripulantes "estavam um bocado ansiosos", disse, contando que falou com o tripulante de 54 anos, que foi o primeiro a sair do avião da companhia Air Astana, do Cazaquistão, e lhe disse que a tripulação, composta por seis pessoas, tinha "apanhado um grande susto, porque foi uma emergência bem real".

"Com quem tive mais diálogo foi com o tripulante transportado de 54 anos, que me disse que trabalhava na aviação há 30 anos, nesta empresa [a Air Astana] há dois ou três meses, mas já tinha 30 anos de aviação e tinha sido o maior susto da vida dele", contou Pedro Barahona.

Segundo o comandante, os Bombeiros Voluntários de Beja chegaram à BA11 e ficaram numa posição de espera e prontidão e quem fez a intervenção dentro do avião foram duas equipas do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), uma da Viatura Médica de Emergência e Reanimação de Beja e outra do helicóptero de Évora.

As equipas do INEM "é que estiveram com os tripulantes e depois decidiriam que dois deles tinham de ser transportados" para o hospital de Beja e trouxeram-nos para as duas ambulâncias, disse Pedro Barahona.

O comandante contou que entrou na ambulância que transportou o tripulante de 54 anos para lhe perguntar a idade e a nacionalidade, "por uma questão de registo", e "ele esteve a desabafar um bocadinho" e mantiveram "uma conversa informal em inglês".

"Contou-me que tinha sido o maior susto da vida dele em 30 anos de experiência de aviação", reforçou Pedro Barahona.

 

 

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