Media discriminam imigrantes brasileiros - TVI

Media discriminam imigrantes brasileiros

Imigrantes em Vila de Rei. Foto de Paulo Cunha para Lusa

Maira Ribeiro, da Universidade do Minho, aponta que é vulgar o recurso a estereótipos

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A investigadora brasileira Maira Ribeiro defendeu, num estudo realizado na Universidade do Minho, que a comunicação social regional, em Portugal e na Europa, tende a tratar o imigrante brasileiro de uma forma estereotipada, próxima da discriminação.

A investigação, que se baseou no estudo de noticias saídas nos jornais «Diário do Minho», de Braga, e «L`Adige de Trento», Itália, a que a agência Lusa teve aceso, diz ter encontrado «uma representação do imigrante brasileiro homogeneizada, em que os indivíduos foram, na sua maioria, tratados enquanto grupo e não como indivíduos singulares».

Maira Ribeiro defendeu recentemente a tese de mestrado na Universidade do Minho, na área das Ciências da Comunicação.

As notícias saídas em 2007, abrangendo 1329 imigrantes - salientou Maira Ribeiro - «trataram a mulher imigrante brasileira como minoria, representando-a de forma negativa e ligada maioritariamente as temáticas da prostituição e criminalidade»

A investigadora acrescenta que «os homens constituíram a grande maioria das presenças e em grande parte directamente ligados a representação enquanto grupo ocupacional, os desportistas».

O objectivo da investigação foi o de «verificar como e quando o imigrante brasileiro foi noticia no jornalismo» na imprensa local durante o ano de 2007, nos dois diários.

Desporto e Casos de Polícia

Maira Ribeiro concluiu, ainda, que o destaque dado ao imigrante brasileiro em primeira página foi, quase sempre, nas secções de Desporto e de Casos de Policia.

«Durante a análise dos dados, constatamos que não diferem do que actualmente tem sido debatido no meio cientifico sobre a representação da imigração brasileira na comunicação social, fazendo com que os jornais locais, mesmo que em escala inferior, mantenham o alinhamento no tipo de tratamento dispensado ao imigrante brasileiro», é apontado.

A investigadora acentua, ainda, que «além disso, e a exemplo de outros grupos nacionais, os imigrantes são representados com um estatuto mais baixo, consequentemente, de menor credibilidade para falar de assuntos "sérios" de politica, economia ou direito».

«Isto contribui para aumentar o silêncio dos imigrantes nos media e na sociedade em geral», assinalou Maira Ribeiro, frisando que «a referencia nominal a nacionalidade, funciona como factor de separação dos indivíduos, mesmo sabendo que a tendência dos media é identificar e catalogar».

Sem rótulos

Defende que se caminhe em direcção à integração numa comunidade realmente intercultural, propondo que «se passe a ver os "outros" como pessoas, seres individuais e sem rótulos».

«Que diferença faz se um brasileiro matou a mulher ou quem o fez foi um português ou italiano? É sempre um crime, e sempre condenável como comportamento social. Sendo assim, escrever em primeira pagina "Brasileiro mata mulher" passa a ser irrelevante enquanto informação jornalística», defende.

Sublinhando que não pretende culpar ou criticar os jornalistas, a investigadora diz ser necessário «eliminar esses comportamentos velados, esses vícios de escrita, muitas vezes enraizados, que passam ao discurso comum».
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