Aníbal Pinto diz que a Doyen lhe ofereceu um milhão para revelar a identidade de Rui Pinto - TVI

Aníbal Pinto diz que a Doyen lhe ofereceu um milhão para revelar a identidade de Rui Pinto

Arguido marcou o primeiro dia da audiência do julgamento do hacker

Depois de ter começado as suas alegações iniciais durante a manhã, Aníbal Pinto monopolizou a segunda parte da primeira audiência do julgamento do caso Football Leaks, que tem Rui Pinto como figura central.

Aníbal Pinto, também ele arguido, é suspeito de ter praticado um crime de extorsão em co-autoria com o outro arguido, e foi precisamente neste crime que centrou todas as atenções do seu depoimento.

Ao longo da tarde, o suspeito, que é advogado de profissão, explicou qual o seu papel no caso, sobretudo relativamente ao crime de extorsão, o mais grave e o único que lhe é imputado numa acusação total de 90 crimes.

Segundo Aníbal Pinto, foi Rui Pinto quem o contactou pessoalmente, via e-mail, com a intenção de se ser representado pelo advogado num alegado contrato de prestação de serviços que o hacker iria providenciar à Doyen, fundo que gere participações desportivas, nomeadamente em clubes de futebol.

Aníbal Pinto centra todas as atenções da sua defesa em dois pontos: uma alegada trama e incompetência do CEO da Doyen, Nélio Lucas, e do seu advogado, Pedro Henriques e também naquilo que diz ser a ocultação de factos, como e-mails, transcrições ou sms's por parte da Polícia Judiciária e do Ministério Público.

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Segundo o arguido, foi desde cedo que se apercebeu que o suposto contrato poderia mascarar uma eventual tentativa de extorsão à Doyen, facto que o alertou e o motivou a avisar Rui Pinto de que poderia ter de responder criminalmente pelos seus atos.

Disse a Rui Pinto 'apanhas 15 anos de prisão e a PJ vem buscar-te pela orelha'. Tive sempre presente que poderia ser extorsão", afirmou Aníbal Pinto em tribunal, perante a juíza Margarida Alves.

Aníbal Pinto deixou bem claro de que necessitava de provas em como a negociação em causa não era ilícita, e diz ter exigido uma prova documental, como um contrato, até porque o que estaria em causa seria uma alegada contratação dos serviços informáticos de Rui Pinto por parte da Doyen.

Foi o representante de Rui Pinto quem lidou diretamente com a Doyen, sempre representada pelo também advogado Pedro Henriques. Segundo Aníbal Pinto, o primeiro e único encontro presencial durou poucos minutos, e ocorreu em Oeiras. Nesse  dia, e segundo o arguido, Nélio Lucas terá oferecido um milhão de euros para que Aníbal Pinto revelasse a identidade do seu cliente (Rui Pinto). Este é um dos factos que chama a atenção da acusação, uma vez que a Doyen aparenta querer contratar Rui Pinto mesmo sem saber qual a sua identidade.

Já depois desse encontro, que terá durado pouco mais de 15 minutos e ocorreu num restaurante de fast food, Rui Pinto informou Aníbal Pinto de que aquela conversa tinha sido alvo de escuta por parte da Polícia Judiciária.

Nélio Lucas e Pedro Henriques fizeram tudo para eu praticar um crime", disse, afirmando ainda que "o que não dá jeito neste processo desaparece", mencionando alegadas faltas de provas como mensagens, escutas e trocas de e-mails

Relativamente ao objetivo da contratação, Aníbal Pinto afirma que Nélio Lucas demonstrou interesse em contar com um especialista informático para aceder ao site da Federação Portuguesa de Futebol, num serviço que seria pago mediante um contrato de cinco anos e 25 mil euros anuais.

Neste ponto, Aníbal Pinto foi inquirido sobre a estranheza da contratação de um intermediário para negociar a contratação de um funcionário por um valor relativamente normal para o mercado. O arguido diz que foi solicitado e que se limitou a proceder ao avanço do processo.

Não obstante, o advogado deixou bem vincado que pediu várias vezes a Rui Pinto que terminasse a eventual tentativa de extorsão, avisando-o de que poderia estar a incorrer num crime que pode ser punido com 15 anos de prisão.

Aníbal Pinto refere, neste ponto, vários e-mails trocados com Rui Pinto, nos quais terá avisado o hacker sobre as consequências que poderiam advir de eventuais atos ilícitos.

Rui Pinto, de 31 anos, vai responder por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, por 14 de violação de correspondência e por seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol e a Procuradoria-Geral da República, e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.

O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 7 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e o seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.

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