O vereador da Ação Social da Câmara do Porto sustentou esta quinta-feira que a criação de salas de chuto “não parece” colocar-se atualmente na cidade apesar das indicações sobre um recrudescimento do consumo de drogas injetáveis a céu aberto.
Manuel Pizarro admitiu, contudo, que a gestão autárquica do problema está condicionada pela ausência de “dados fiáveis”, notando que, ao extinguir o Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT) em 2011, o atual Governo varreu “o problema para debaixo do tapete”.
À margem do Fórum “Espaços de Abrigo, Espaços de Consumo: Ausências e Emergências”, o vereador destacou a importância do “pragmatismo” e da ausência de tabus sobre o assunto, por ser “muito importante aproximar os consumidores do sistema de saúde porque isso protege-os de um conjunto de doenças e os traz para dentro de um sistema capaz de lidar com o problema”.
“No Porto não parece haver fenómenos de consumo a céu aberto massificados que transformem a sala de chuto numa resposta útil. Mas tudo isto é condicionado ao facto de que a informação de que dispomos não é suficientemente fiável”, alertou o socialista, que foi secretário de Estado da Saúde no governo de José Sócrates, durante o evento realizadp no Tribunal da Relação do Porto pela Agência Piaget para o Desenvolvimento (APDES).
“Não me parece que este problema no Porto justifique a existência salas de chuto, porque não parece haver fenómenos de consumo a céu aberto massificados que transformem a sala de chuto numa resposta útil”, vincou.
Para Pizarro, no Porto “o número de consumidores por via endovenosa não parece justificar uma preocupação especial”.
Ainda assim, o vereador notou que a questão da toxicodependência “não pode estar escondida” ou “apagada do quotidiano”, devido ao “risco de haver um recrudescimento do fenómeno em algumas zonas da cidade”.
Questionado sobre números mais concretos, o socialista explicou que “o problema” é a falta deles.
“Um dos problemas é esse mesmo. Hoje há menos números e menos informação disponível. Ao contrário, devíamos ter aperfeiçoado sistema de recolha de informação. A que temos é puramente empírica, de quem vive na cidade e de quem se relaciona com as instituições da cidade”, explicou.
Para Pizarro, tal deve-se a uma “decisão absolutamente errada que foi a extinção do IDT”.
“Hoje é absolutamente claro que falta um parceiro do Estado com a mesma capacidade de resposta que o IDT tinha”, frisou.
Para o vereador, “o problema foi varrido para debaixo do tapete” mas ele “está lá escondido a larvar”.
“Por isso não podemos transformar isto num tabu. Tem de ser um assunto a ser discutido abertamente. E a falta de dados dificulta lidar com um fenómeno que, depois, será mais difícil de conter quando voltar a crescer”, observou.
De acordo com Pizarro, “o ministério da Saúde tem todas as responsabilidades nesta matéria”, porque embora tenha “muitas componentes”, a questão da droga “é, no essencial, um problema da área da saúde”.
José Queirós, diretor executivo da APDES admitiu a ausência de “números e estatísticas oficiais trabalhados de forma muito rigorosa sobre a realidade das traseiras da cidade do Porto ou Lisboa”.
Contudo, destacou a “observação direta” das equipas da associação, que mostra “muita gente” a fazer “consumos de drogas com pouco apoio do ponto de vista sócio-sanitário”.
A APDES defende, por isso, a ativação do decreto-lei de 2001 que prevê a criação de salas de consumo assistido.
Para José Queirós, a legislação não é aplicada “porque não há uma coragem politica por parte das autarquias para avançar com uma experiência piloto de sala de consumo assistido”.
Vereador da Câmara afasta cenário de salas de chuto no Porto
- Redação
- MM
- 30 abr 2015, 13:25
Manuel Pizarro admitiu que a gestão autárquica da questão da toxicodependência está condicionada pela ausência de “dados fiáveis”
Continue a ler esta notícia