Era apenas mais um teste de inglês para a turma de 11º ano do curso profissional de comércio, da Escola Secundária de Santa Maria da Feira, mas a correção tornou-se num pequeno símbolo da luta pela igualdade de género.
O enunciado continha a seguinte pergunta: "estes acessórios são de mulher, homem ou dos dois?" Os alunos tinham de escrever, à frente de cada um, a que categoria pertenciam os artigos. Entre os acessórios estavam uma gravata, uns collants, um colar e um boné. Vários alunos decidiram que todos estes artigos seriam de ambos os sexos, mas a professora não admitiu esta escolha em certos acessórios.
A correção foi amplamente difundida nas redes sociais e, como se pode ver, a professora de inglês considerou que o boné, a gravata e os collants não podem ser utilizados por homens e mulheres. A polémica começou na sala de aula, com um aluno a confrontar a docente com a correção.
Segundo o aluno, a professora "não gostou da contestação e ameaçou marcar uma falta disciplinar". A polémica saiu da sala de aula quando o aluno em questão decidiu expor o caso nas redes sociais.
Eduardo Couto, é este o nome do jovem que confrontou a professora com a correção do enunciado. O aluno, que ficou conhecido como o mais jovem delegado de sempre a marcar presença numa convenção do Bloco de Esquerda, falou com ao telefone com a TVI e garante que a resposta que deu revela "o que é correto na sua óptica".
Questionado sobre as resposta dos outros colegas assegura que "houve outros alunos a responder da mesma forma" e um deles garantiu que "iria usar collants na aula de educação física". Eduardo diz ainda que "respeita que outras pessoas pensem que certos artigos se destinem a um género em especifico" desde que a visão que ele defende "seja aceite".
Acredito que com o progresso as pessoas passem a pensar que há liberdade para escolher o que vestimos", disse Eduardo Couto em declarações à TVI.
Sobre as consequências que este afrontamento com a professora poder ter, nas notas da disciplina, Eduardo acredita "no profissionalismo da professora" e assegura que tem um "bom relacionamento com a mesma". Desde que esta polémica foi noticiada, ainda não teve oportunidade de falar com a professora de inglês.
Esta questão representa para Eduardo Couto uma luta pela igualdade de género e deve incentivar ao debate. Já no que diz respeito à escola diz que "há muita liberdade para pensar" e que este foi o tema em discussão no Parlamento dos Jovens do ano anterior. O aluno revelou até que ficou "surpreendido com a forte adesão da comunidade escolar para o debate desta questão".
É preciso consciencializar que não devemos restringir ou obrigar alguém a vestir o que quer que seja", defendeu o aluno ao telefone com a TVI
Nos últimos meses é a segunda vez que o nome Eduardo Couto surge na comunicação social, mas o aluno garante que "não tem ambições políticas" e que a sua ligação ao meio surge "pela defesa dos princípios em que acredita".
A resposta da escola
A TVI pediu um esclarecimento sobre o sucedido e a diretora da Escola Secundária de Santa Maria da Feira, Lucinda Ferreira, garantiu que se o aluno "tivesse comunicado a situação, talvez pudesse ter averiguado o contexto". A diretora diz que não lhe compete "averiguar algo que não foi comunicado".
Se promovemos que os nossos alunos não sejam amorfos e pensem pela sua cabeça, não o posso condenar", defende Lucinda Ferreira
Lucinda Ferreira revelou que "gosta de ter alunos que pensam pela sua cabeça e têm sentido crítico". A diretora diz que o aluno nunca foi mal educado, "não condena a atitude" e garante que "Eduardo não faltou ao respeito à professora ou à escola". A diretora, que assegura estar à frente de uma escola que prima pela liberdade de pensamento e de expressão, considera mesmo positivo o debate que segerou em torno do assunto e acredita que foi essa a intenção de Eduardo Couto ao questionar a docente de Inglês.
A TVI contactou também o Ministério da Educação, que, até ao momento da publicação desta notícia, não respondeu às questões colocadas.