Governo diz que próximo ano será para recuperar aulas e alunos sem "meter o Rossio na Betesga" - TVI

Governo diz que próximo ano será para recuperar aulas e alunos sem "meter o Rossio na Betesga"

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  • 8 jun 2020, 23:31
Covid-19: regresso às aulas presenciais

Secretário de Estado da Educação diz que o objetivo da executivo passa por apoiar os alunos mais carenciados

O secretário de Estado da Educação defendeu este segunda-feira que no próximo ano letivo será preciso apoiar mais os alunos que ficaram para trás assim como recuperar matérias, mas não será um ano para meter “o Rossio na Betesga”.

No próximo ano letivo “há um trabalho que vai ter de ser feito” e que passa por apoiar os “que menos conseguiram estar ligados”, defendeu o secretário de Estado da Educação, João Costa, durante a conferência promovida pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) intitulada “Recuperar… o Quê? E Como”.

Segundo João Costa, neste momento, os professores já sabem quem são os esses alunos e não será de estranhar se surgirem “novos focos de pobreza”, tendo em conta o impacto económico da pandemia de Covid-19.

Em causa estão os alunos de famílias mais carenciadas mas também todos aqueles que, por alguma razão, não conseguiram estar ligados a acompanhar as aulas.

João Costa defendeu que também é preciso identificar que conhecimentos não poderão ficar para trás, mas sempre com uma certeza: “É preciso perceber que o ano letivo de 2020/2021 não pode ser o ano do Rossio na Betesga”.

Não será possível “enfiar tudo o que é normal num ano letivo e mais tudo o que não se fez no ano anterior”, alertou o secretário de estado, sublinhando, no entanto, que as escolas não se poderão cingir às aprendizagens essenciais.

De fora desta equação não poderá ficar a arte ou a educação física, assim como não poderão ser esquecidas as áreas das ciências sociais e das humanidades, sublinhou, explicando que este é o momento certo para fazer um "bom cruzamento entre as aprendizagens essenciais e o perfil dos alunos", um trabalho que implicará “repensar o currículo”.

O que é verdadeiramente fundamental aprender em três quartos ou dois terços do tempo escolar?”, questionou por seu turno o orador José Cortes Verdasca, coordenador Nacional da Estrutura de Missão do Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar.

Durante a conferência, José Verdasca avançou com uma ideia que passava por definir o que os alunos teriam que saber tendo em conta a sua idade: “Por exemplo o que saber aos 7, 9 ou 11 anos?”, avançou.

Além da referenciacão do currículo à idade do aluno, José Verdasca lembrou a importância de se conseguir uma maior plasticidade de tempo, “com provável evolução para lógicas de ciclo”.

No fundo, a ideia é conseguir uma encontrar uma escola que não provoque aversão mas sim estimule o gostar a aprender.

A importância de ouvir os alunos neste regresso às aulas para perceber que apoio as escolas podem dar, como é que as aulas poderiam ser mais interessantes ou o que gostariam de aprender foi a sugestão dada pela investigadora Margarida Gaspar de Matos, da Universidade de Lisboa.

A oradora recordou estudos dos últimos anos que mostram que os alunos portugueses têm cada vez melhores resultados académicos mas gostam cada vez menos da escola.

“Em 1998 os alunos gostaram da escola, mas eram os piores alunos da UE. A medida que foram ficando bons alunos foram deixando de gostar da escola. Era interessante que gostassem de aprender e gostassem da escola”, defendeu.

A investigadora sublinhou o facto de, durante a pandemia, os alunos se sentirem “muito confortáveis neste país” e olharem para Portugal como “um ninho protetor”, mas lembrou que houve um acentuar das desigualdades.

Para controlar a pandemia, o Governo mandou encerrar todas as escolas e o ensino à distância arrancou a 16 de março. "Foi a resposta possível para uma situação de emergência”, em que se tentou “mitigar ao máximo a vulnerabilidade dos que já eram vulneráveis”, lembrou João Costa.

A pandemia de Covid-19 trouxe “dois aceleradores”: o acelerador das desigualdades e o da transição digital, que já estava no plano de Governo, e que com o ensino à distância se revelou uma necessidade, uma vez que havia milhares de crianças sem computadores ou acesso à internet.

 No entanto, lembrou João Costa, “o computador não é tudo”: “Não é por ter computador em casa, que eu garanto que haja aprendizagens a desenvolverem-se”, alertou.

João Costa reconhece que o ensino à distância veio acentuar as diferenças sociais, que as escolas terão de tentar esbater no próximo ano letivo.

Sobre a opção do Governo de mandar encerrar as escolas, recordou que “na altura houve quem sugerisse que o ano letivo ficasse por ali ou não houvesse avaliações”, mas o Ministério da Educação optou por avançar para um modelo de ensino à distância para manter contacto com os alunos.

Caso contrário poderia ser enormemente penalizador para eles”, sublinhou, citando um estudo que indica que durante as ferias de verão os alunos podem chegar a ter uma regressão de aprendizagens de quase um mês ou mesmo de dois meses para os alunos de classes sociais mais desfavorecidas.

“Parar em março seria chegar ao limite de estar a condenar alguns alunos a um ano de regressão”, recordou.

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