Emigraram 80 mil portugueses em 2018 - TVI

Emigraram 80 mil portugueses em 2018

  • AG
  • 17 dez 2019, 17:14

Números do Relatório da Emigração apontam um decréscimo de cinco mil emigrantes

Cerca de 80 mil portugueses emigraram em 2018, menos cinco mil do que em 2017, uma descida explicada sobretudo pela quebra da atração de países como Reino Unido ou Angola, segundo o Relatório da Emigração, divulgado esta terça-feira.

De acordo com o documento, elaborado pelo Observatório da Emigração e que compila dados relativos a 2018, nos países onde estão disponíveis, “a emigração portuguesa continua numa tendência de descida, mas em desaceleração”.

Esta descida deve-se sobretudo à quebra na atração no Reino Unido, pelo “efeito ‘Brexit’”, em Angola, “devido à crise económica desencadeada com a desvalorização dos preços do petróleo”, bem como na Suíça, mas também à “retoma da economia portuguesa” nomeadamente “no plano da criação de emprego”, refere-se no relatório.

Em termos globais, a tendência “parece indicar” que “as variações do volume da emigração portuguesa dependem hoje mais de mudanças de contexto nos principais países de destino do que da evolução da economia portuguesa”, acrescenta-se.

O número de emigrantes tem vindo a descer desde 2013, quando atingiu o pico de 120 mil, o máximo deste século, passando para 115 mil em 2014, 115 mil também em 2015, 100 mil em 2016 e 85.000 em 2017.

Apesar da contínua redução da emigração para o Reino Unido, este continua a ser o país para onde emigram mais portugueses, com 19 mil saídas em 2018, contra 23 mil em 2017 (menos 16,6%) e verificando-se um decréscimo desde 2015, quando se registou um aumento para 32 mil.

Segundo o relatório, esta redução “explica-se sobretudo pelos receios induzidos pelo ‘Brexit’", a saída do Reino Unido da União Europeia.

Em 2018, as entradas de portugueses representaram 3% das entradas totais no Reino Unido, o que fez desta emigração a oitava maior para aquele país.

O segundo país de destino dos portugueses em 2018 foi a Espanha, com 11 mil, valor que se regista pela primeira vez desde a crise de 2008, seguindo-se, com menos de 10 mil entradas, a Suíça (nove mil), França (oito mil) e Alemanha (sete mil), sendo que estes dois últimos países registam valores “bastante inferiores” a 2017.

No entanto, “devido a alterações e correções nas estatísticas alemãs e francesas continua a ser difícil medir com rigor a evolução recente da emigração para estes dois destinos de topo da emigração portuguesa que, no entanto, deverá estar em redução, nos dois casos”, explica o Observatório.

Fora da Europa, os principais países de destino da emigração portuguesa integram o espaço da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP): Angola (dois mil), Moçambique (mil, em 2016) e Brasil (mil, em 2017).

No entanto, entre as maiores descidas em 2018, está Angola, com uma queda de 36% face a 2017 (de 2.962 para 1.910), acentuando-se de novo a redução da atração deste destino, sendo ainda assim o nono país para onde mais portugueses emigram.

A descida no número da entrada de portugueses registou-se ainda na Suíça (-6%), pelo quinto ano consecutivo, passando de 9.257 em 2017 para 8.733 em 2018.

Seguindo a tendência do ano anterior, os portugueses continuam a representar uma parte importante das novas entradas no Luxemburgo (14%), em Macau (11%) e na Suíça (6%).

Tal como em anos anteriores, a França continua a ser o país do mundo com maior número de portugueses emigrados, “devido à grande vaga de emigração dos anos 1960/70 (595.900), seguindo-se a Suíça (217.662), EUA (178 mil), Canadá (143 mil, em 2016), Reino Unido (141 mil), Brasil (138 mil, em 2010) e Alemanha (115 mil).

Em termos de aquisição de nacionalidade por parte dos portugueses, os países com números mais elevados são a Suíça (3.285) e a França (2.500, em 2016), com o Reino Unido (cerca de 2.000) a ultrapassar os Estados Unidos (1.807, em 2017) no terceiro lugar e que representou uma subida de 55 por cento em relação a 2017, “alteração que pode ser explicada pelo ‘Brexit’.

De acordo com estimativas das Nações Unidas relativas a 2017, Portugal continua a ser, em termos acumulados, o país da União Europeia com mais emigrantes em proporção da população residente (considerando apenas os países com mais de um milhão de habitantes), com 2,3 milhões de emigrantes nascidos em Portugal, o que equivale a 22% da população a viver emigrada, sendo o 27.º país do mundo com mais emigrantes.

O Observatório explicou que não atualizou os dados das Nações Unidas alegando que precisa analisar com mais pormenor “as grandes diferenças entre as estimativas passadas e atuais”.

Segundo o relatório, reforçou-se a tendência de concentração da emigração na Europa, ao mesmo tempo que se verificou uma “acentuada perda de importância relativa dos países americanos como destino alternativo” e um aumento da proporção de emigrantes estabelecidos em África, que, no entanto, é ainda minoritária e tem vindo a descer desde 2015.

Assim, a percentagem de portugueses a viver no resto da Europa passou de 53% em 1990 para 66% em 2017, de acordo os dados da ONU citados no relatório.

Segundo o documento, a população emigrada continua envelhecida e a ser “maioritariamente composta por ativos pouco qualificados, quando caracterizada em termos globais, já que existem diferenças significativas por país”.

Apesar desta tendência, verifica-se também “um crescimento significativo da proporção dos mais qualificados” com a percentagem de portugueses emigrados com formação superior a residir nos países da OCDE praticamente duplicar, passando de 6% para 11%, entre 2001 e 2011.

Mais situações de emergência

O Governo acompanhou 109 situações de emergência consular em 2018 para apoiar portugueses no estrangeiro, mais 37 casos do que em 2017.

Segundo o documento, elaborado pelo Observatório da Emigração, destas situações destaca-se o apoio prestado a 55 portugueses após o sismo de magnitude 7.0 registado em agosto de 2018 na ilha de Lombok, na Indonésia, que vitimou 131 pessoas, provocou cerca de 2.500 feridos e 150.000 deslocados.

Estes portugueses encontravam-se nas ilhas de Lombok e Gili, tendo sido retirados 24 portugueses desta última ilha pelas autoridades indonésias.

De acordo com o documento, foram ainda acompanhadas as catástrofes naturais no Sudeste Asiático, EUA e Caraíbas.

Segundo dados da Direção Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas (DGACCP), o Gabinete de Emergência Consular (GEC) atendeu mais de 4.607 chamadas telefónicas e tratou mais de 5.860 mensagens eletrónicas.

Em relação à aplicação Registo Viajante, foram registados 7.466 novos utilizadores em 2018, a inscrição de 11.320 viagens monitorizáveis e recebidos 34 pedidos de SOS.

Nepaleses e franceses lideram imigração

Os nepaleses e os franceses são os estrangeiros residentes em Portugal cujo número mais cresceu nos últimos 10 anos, mas a maior comunidade estrangeira residente no país é a brasileira.

Números da base de dados Pordata, divulgados por ocasião do Dia Internacional das Migrações, que hoje se assinala, mostram que os nepaleses a viver em Portugal aumentaram 21 vezes entre 2008 e 2018, embora não ultrapassem os 11.487, enquanto os imigrantes franceses cresceram quatro vezes, passando de 4.576 para os 19.771 em 10 anos.

A Pordata realça que também quase que duplicaram os indianos, espanhóis, chineses e britânicos a viver no país. Em 2018 viviam em Portugal 26.445 britânicos, 24.856 chineses, 14.066 espanhóis e 11.340 indianos.

De acordo com os dados divulgados hoje, quase 480 mil estrangeiros viviam legalmente em Portugal em 2018 e cerca de um em cada quatro é brasileiro, totalizando 104.504, seguidos dos cabo-verdianos (34.444), romenos (30.908) e ucranianos (29.197).

Os dados mostram igualmente que cerca de um em cada dez bebés nascidos em Portugal foram de mães de nacionalidade estrangeira.

Dos 87.020 bebés nascidos no ano passado, 9.389 era de nacionalidade estrangeira.

Em 2018, entraram em Portugal, com a intenção de permanecer no país, cerca de 43 mil pessoas, mais 13 mil que em 2008, e mais de metade eram mulheres.

A Pordata sublinha que a maioria da população estrangeira vive na área metropolitana de Lisboa (50%) e Algarve (16%), concentrando o município de Lisboa cerca de 16% do total dos imigrantes legais.

Entre os dez municípios com maior proporção de estrangeiros no total da sua população residente, oito deles são algarvios, indicam os dados, frisando a Pordata que, pelo menos um em cada quatro residentes são estrangeiros nos municípios de Vila do Bispo, Albufeira, Lagos e Odemira.

De acordo com a base de dados gerida pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2,5% da população empregada em Portugal é estrangeira e, comparativamente com os portugueses, os imigrantes são mais vulneráveis ao desemprego, com uma taxa de quase 12%, enquanto entre os cidadãos nacionais a taxa de desemprego é de 7%.

Portugal faz parte dos dez países da União Europeia em que a percentagem da população estrangeira no total da população residente é inferior a 5%.

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