Portugueses na Venezuela estão apreensivos com "clima de incerteza" - TVI

Portugueses na Venezuela estão apreensivos com "clima de incerteza"

  • 26 abr 2017, 14:34
Protestos prosseguem na Venezuela

Conselheira das comunidades portuguesas relata que a "insegurança tem avançado dia após dia". Jovens estão a abandonar o país. Padeiros só "estão abertos porque senão são expropriados"

A conselheira das comunidades portuguesas na Venezuela, Maria de Lurdes Almeida, diz que a situação vivida atualmente naquele país sul-americano é crítica. Há falta de comida e de medicamentos. Os portugueses estão apreensivos e o futuro “é incerto”.

A situação na Venezuela é crítica, não só para as comunidades portuguesas, mas para todos os que lá residem, pois estamos a passar pelas mesmas situações”, declarou à agência Lusa, Maria de Lurdes Almeida, membro do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP).

Estamos a passar uma situação crítica de desabastecimento, tanto a nível de medicamentos como alimentar, e a insegurança que tem avançado dia após dia. Agora, as ruas estão incendiadas, dos dois lados, o que ainda é pior”, sublinhou a conselheira, que está em Lisboa, participando no Conselho Permanente do Conselho das Comunidades Portuguesas.

"Clima de incerteza"

A conselheira portuguesa refere haver enorme apreensão entre os milhares de emigrantes portugueses, muitos dos quais se dedicam há décadas ao comércio e à panificação. Maria de Lurdes Almeida quer mesmo pedir uma audiência em particular com o secretário de Estado das Comunidades para discutir a situação na Venezuela.

Estamos a viver um clima de incerteza, não sabemos aonde vai parar tudo isso, seja para um lado, seja para o outro, o futuro está-se a ver muito incerto, pois não sabemos o que vai suceder de um momento para outro”, declarou Maria de Lurdes Almeida.

De acordo com a conselheira, “a comunidade portuguesa, como toda a população venezuelana, está muito apreensiva. Os jovens estão a sair do país, para buscar um futuro melhor”.

Sobre o controlo governamental venezuelano da produção na área da panificação, disse que “praticamente 80% do setor está nas mãos dos portugueses, que têm sido afetados nestes últimos tempos”.

Está a ser muito grave e estão a sofrer todas as consequências. Isso porque não há farinha e quando há, o Governo, há cerca de três semanas para cá, cismou que tem de fiscalizar, mandou os ficais para todas as pastelarias, padarias existentes”, referiu a conselheira.

A pouca farinha que chega, são eles que decidem o quanto faz disso ou daquilo, os comerciantes, não podem fazer aquilo que querem. Obviamente isso atenta contra o comércio das padarias, atenta contra os benefícios que poderá dar um estabelecimento, que não está a dar”, sublinhou ainda.

Maria de Lurdes Almeida disse que os portugueses do setor da panificação “estão a aguentar, estão abertos porque senão são expropriados".

Mas vamos ver quantos vão poder aguentar”, afirmou.

Morreram 26 pessoas

Desde 4 de abril que as manifestações a favor e contra o governo venezuelano se têm intensificado. A oposição tem protestado para exigir a convocação de eleições gerais no país, a libertação dos presos políticos e o fim da repressão.

De acordo com as autoridades venezuelanas, na violência registada nos protestos antigovernamentais nas últimas semanas morreram 26 pessoas, 437 ficaram feridas e 1.289 foram detidas, das quais 65 permanecem presas.

O Supremo Tribunal da Venezuela pediu na terça-feira a resolução de conflitos através do diálogo e condenou a violência registada nas manifestações antigovernamentais nas últimas semanas.

A Amnistia Internacional alertou esta quarta-feira que as autoridades venezuelanas utilizam a justiça para perseguir e punir dissidentes e líderes da oposição, no que a organização diz ser uma “caça às bruxas”, quando aumentam os protestos violentos no país.

A chefe da diplomacia venezuelana, Delcy Rodríguez advertiu na terça-feira que o país vai retirar-se da Organização dos Estados Americanos caso o bloco realize uma reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros, sem o aval do governo da Venezuela.

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