Covid-19: enfermeiros do SNS não chegam para a vacinação em massa - TVI

Covid-19: enfermeiros do SNS não chegam para a vacinação em massa

Task force prevê ter 150 centros de vacinação em todo o país e há já autarquias a pedir ajuda a farmacêuticos

Os enfermeiros do Serviço Nacional de Saúde (SNS) não chegam para a vacinação em massa contra a covid-19, que pode começar já em abril ou maio.

A task force quer ter 150 centros de vacinação em massa em todo o país, mas os centros de saúde não têm capacidade de resposta e há já autarquias a pedir ajuda aos farmacêuticos, escreve o jornal Público, nesta quarta-feira.

Em entrevista à TVI24, Lúcia Leite, presidente da Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE), diz que se trata de uma "carência recorrente" e que o recurso a outros profissionais que não os enfermeiros pode colocar em risco os utentes.

É mais uma asneira das grandes. Administrar vacinas é muito mais do que injetar um produto ou picar na pele com uma agulha, é muito mais do que isso. É preciso fazer um controle antes e depois da administração da vacina e os farmacêuticos não têm competências para assegurar esse serviço", defendeu.

Lúcia Leite lembrou que "neste momento" há vários enfermeiros a ser dispensados, depois de ultrapassada mais uma vaga da pandemia de covid-19, profissionais esses que continuam a fazer falta, como, aliás, acontece agora com o processo de vacinação.

Era preciso que o SNS viesse a recrutar todos os enfermeiros que tem vindo a dispensar e que têm estado em contratos de substituição ou contratos precários e reforçasse os cuidados de saúde primários com enfermeiros contratados definitivamente, porque, efetivamente, eles fazem falta. (...) Basta olhar para os números de relação entre um médico de família e o número de enfermeiros para se perceber que há um grande desequilíbrio nos cuidados de saúde primários, com carência de enfermeiros. Por isso, neste momento, o que precisávamos de facto era de reforçar os serviços e reforçar a vacinação com segurança", insistiu.

A presidente da ASPE considera mesmo que o recurso a outros profissionais é uma alternativa de "baixa qualidade" e até irresponsável. 

Fazer uns cursos de meia dúzia de horas para ensinar os farmacêuticos a administrar vacinas não é solução. No dia em que acontecer uma complicação grave numa farmácia, eu gostaria de saber quem é que o utente responsabiliza", argumentou.

Lúcia Leite lembrou que "não há falta de enfermeiros" no país, mas que é preciso fixá-los no SNS.

Há muitos enfermeiros que estão a ser dispensados, que estavam em contratos de substituição e contratos precários e é preciso fixa-los no SNS. Portugal já devia ter percebido que há falta de enfermeiros no mundo inteiro e que se vai continuar a promover a imigração o que vai acontecer é que um dia destes precisa de enfermeiros e não vai ter", alertou.

A Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros espera, agora, que, face a mais uma necessidade urgente, "que o governo perceba que esta carência de enfermeiros não pode continuar e que aproveite este momento para reforçar as equipas ao nível dos cuidados de saúde primários e fazer aquilo que está previsto em muitos estudos e planeamentos".

Centros de vacinação vs centros de saúde

Desviar os enfermeiros dos centros de saúde para os centros de vacinação "coloca em causa" os serviços nos cuidados primários, alertou, ainda, Lúcia Leite.

Ao deslocar enfermeiros para essa atividades o que vai acontecer é que outras permanentes deixam de ser realizadas", indicou.

Por isso mesmo, o presidente da Câmara Municipal de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, disse na TVI24 que o seu município tem já "uma bolsa com 24 enfermeiros" para ajudarem no processo de vacinação em massa, profissionais contratados externamente, de modo a que o funcionamento dos centros de saúde não seja afetado.

Até ao momento tem sido possível dar resposta através dos enfermeiros dos centros de saúde. Aquilo que se prevê é que a partir de abril, com a intensificação da chegada de vacinas, que isso possa não ser possível. Por isso, o município contratou externamente gente qualificada, enfermeiros, nada mais do que enfermeiros, para reforçar a resposta", adiantou.

Para o autarca, não é aceitável que um centro de vacinação possa enfraquecer a atividade nos cuidados primários.

Não podemos aceitar que o centro de vacinação seja um mecanismo para depauperar o centro de saúde, mas sim ajudar que os enfermeiros dos centros de saúde possam lá continuar", defendeu.

A bolsa de 24 enfermeiros está "disponível para arrancar", aguardando o município "luz verde da ARS".

 

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