Juiz Carlos Alexandre: “Acredito que me queiram afastar de tudo” - TVI

Juiz Carlos Alexandre: “Acredito que me queiram afastar de tudo”

Em nova entrevista após semana polémica, juiz responsável pela Operação Marquês diz acreditar que o querem afastar do cargo que ocupa no TCIC. O magistrado diz-se isolado e suspeita que é vigiado

O juiz Carlos Alexandre, do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), disse acreditar que o querem afastar do cargo que ocupa, incluindo arguidos dos casos que tem em mãos, numa entrevista publicada este sábado pelo semanário Expresso.

"Acredito que me queiram afastar de tudo, deste sítio onde estou a trabalhar. Não estou a pensar em nenhuma em concreto, mas há pessoas que gostariam de me ver longe daqui", disse em resposta a uma pergunta dos jornalistas Rui Gustavo e Pedro Santos Guerreiro.

Questionado sobre se estava a falar de arguidos que investiga, Carlos Alexandre respondeu: "Não sei. Há sempre interesses. Já tive incidentes de recusa nos processos e não interpreto isso como uma tentativa de afastamento".

À pergunta sobre se se sente "em risco", respondeu: "Como já me foi avisado, tenho de me cuidar". A este propósito, referiu ainda "uma fiscalização" da Autoridade Tributária às suas contas, sobre que "um dia" falará em público, mas recusou "densificar".

O Expresso revela que a entrevista que publica este sábado foi realizada antes da transmissão pela SIC, a 8 de setembro, de uma outra entrevista a Carlos Alexandre na sequência da qual a defesa do ex-primeiro-ministro José Sócrates apresentou um pedido de recusa do juiz, que é o responsável pelo processo da Operação Marquês, em que o antigo líder do Governo é arguido.

Na entrevista ao Expresso, Carlos Alexandre volta a sugerir que está sob escuta, afirmando que fala "sucintamente" ao telefone, mas não pode falar "muito tranquilamente", porque as suas palavras podem ser interpretadas por "pessoas que tenham acesso às interceções, as autoridades formais de controlo ou outras".

Noutro ponto da entrevista, e recusando sempre falar em concreto sobre a Operação Marquês, afirma que "em muitos processos há uma grande dilação temporal entre a instauração do inquérito e o despacho final", com "vários exemplos no DCIAP cuja investigação dura há mais de cinco ou seis anos".

"Há ene processos que vão além do prazo normal e por isso é que a lei prevê algumas circunstâncias excecionais", afirma, acrescentando que foi criada uma legislação, precisamente quando José Sócrates era primeiro-ministro, com "normas que estendiam o prazo de acesso ao inquérito, por motivos julgados relevantes".

A Operação Marquês conta com mais de uma dezena de arguidos, incluindo José Sócrates, que esteve preso preventivamente mais de nove meses, e que está indiciado por fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção passiva para ato ilícito.

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O primeiro-ministro, António Costa, defendeu este sábado, em Viena, que o debate sobre o sistema de Justiça em Portugal deve ser feito desligado “de um caso em concreto” e não pode ser “capturado por interesses corporativos”.

“Acho que a reflexão sobre a justiça deve ser feita serenamente e, sobretudo, não pode ser feita a propósito de um caso em concreto, qualquer que ele seja”, declarou, à saída de um encontro bilateral com o chanceler austríaco, Christian Kern, na sequência da cimeira informal de Bratislava sobre o futuro da União Europeia.

Questionado em concreto sobre o caso do ex-primeiro-ministro José Sócrates e a polémica em torno da Operação Marquês, António Costa disse que o que defende se aplica a “esse caso ou qualquer outro”.

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