Setúbal: encontradas ossadas de 45 mulheres - TVI

Setúbal: encontradas ossadas de 45 mulheres

Ossadas de 45 mulheres no antigo Recolhimento da Anunciada

Escavações arqueológicas no antigo Recolhimento da Anunciada começaram em Janeiro

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As escavações arqueológicas iniciadas no passado mês de Janeiro no antigo Recolhimento da Anunciada que abrigava órfãs, viúvas e meretrizes, permitiram descobrir as ossadas de pelo menos 45 mulheres (recolhidas), anunciou a Câmara de Setúbal, escreve a Lusa.

«Estamos a proceder à exumação dos 45 corpos de mulheres, entre os 18 e os 70 anos, que foram enterrados com muita dignidade e respeito, entre 1736 e 1836/37, nas quatro alas do claustro», disse a antropóloga Natalie Antunes Ferreira, durante uma visita às escavações no antigo edifício.

Mulheres desprotegidas socialmente»

«A maior parte das mulheres tem grinaldas de flores e véus, anéis, moedas. E nota-se que a indumentária foi cuidada e dispendiosa, o que não condiz com a condição de mulheres desprotegidas socialmente», acrescentou.

Natalie Ferreira salientou ainda o facto de as ossadas encontradas pertencerem a mulheres órfãs, viúvas, mendigas e meretrizes, que foram tratadas com grande dignidade quando morreram, situação que, disse, «era pouco comum para pessoas desprotegidas».

Segundo a Câmara de Setúbal, o Recolhimento da Anunciada foi criado em 1745 com o objectivo de acolher as mulheres mais desfavorecidas do bairro de Troino, designadamente órfãs e viúvas de pescadores perdidos no mar, numa época em que tinham um estatuto social diminuído, sendo duplamente oprimidas, tanto pela pobreza, como por serem mulheres.

Reconvertidas para casarem com colonos

Tanto quanto se sabe, os Recolhimentos também acolhiam prostitutas e outras mulheres de grupos marginais, de modo a serem reconvertidas e enviadas para os vários territórios do império, para aí casarem com colonos.

De acordo com a documentação distribuída pela autarquia, o Recolhimento da Anunciada tem um «modelo arquitectónico inspirado na arquitectura conventual de raiz beneditino cisterciense, com o típico claustro, refeitório comum, capela, sala do capítulo e cozinha, existindo, também, um dormitório colectivo e pequenas casas independentes onde a recolhidas pernoitavam».

A descoberta arqueológica no antigo Recolhimento da Anunciada, na Avenida Luísa Todi, foi anunciada quinta-feira durante uma visita da presidente da Câmara de Setúbal, Maria das Dores Meira.

Falta de condições

A autarca setubalense lembrou que se trata de um espaço utilizado como infantário nas últimas décadas, mas que foi, entretanto, deslocalizado, devido à falta de condições requeridas pela Segurança Social.

«A Câmara Municipal chegou à conclusão que este equipamento deveria voltar à posse da Câmara e que poderia ter uma utilização mais interessante, uma vez que a estrutura do edifício não era a melhor para as crianças», justificou Maria das Dores Meira.

«Neste momento já está aqui a funcionar uma Galeria de Exposições e um Posto de Turismo. Também vamos ter aqui a Casa do Moscatel, uma Casa de Prova de Vinhos e de Produtos Regionais e um pequeno auditório», acrescentou a edil setubalense, referindo-se ao edifício que também acolhe a denominada Casa da Baía de Setúbal.

Escavações arqueológicas abertas ao público

As escavações arqueológicas estão, a partir de agora, abertas ao público, que poderá visitar o local mediante marcação prévia e assim conhecer o antigo Recolhimento, a forma como estava organizado, bem como a história das mulheres desprotegidas que viveram nos séculos XVIII e XIX, na cidade de Setúbal.

O espólio das escavações será tratado e guardado no Museu de Setúbal.
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