«25 de Abril é a ponte de Lisboa» - TVI

«25 de Abril é a ponte de Lisboa»

Praça da Figueira em Lisboa [Fotografia cedida pelo Centro de Documentação 25 de Abril]

Salazar foi rei de Portugal, Otelo foi seu ministro e Marcelo Caetano «fez» o 25 de Abril. Os professores ficam de boca aberta, mas o certo é que o tema é «maltratado» nas escolas. E também há pais que corrigem e insistem que antes havia liberdade

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Ou os pais ensinam em casa ou então as crianças e jovens do século XXI pouco sabem sobre o 25 de Abril e a Revolução dos Cravos. Na escola, ou não sobra tempo para chegar a este tema, ou a matéria é dada muito «pela rama». E acontece também os próprios docentes não estarem motivados para abordar uma questão que é ainda muito recente e, por isso, desconfortável.

O PortugalDiário foi falar com professores de História do 6º, 9 e 12º ano (anos em que é suposto leccionar a matéria relativa à ditadura de Salazar e ao 25 de Abril) e recolheu algumas respostas de alunos que deixaram os docentes de boca aberta:

- «25 de Abril é uma ponte que existe em Lisboa»;

- «Uma das canções-senha foi «E depois de Deus»;

- «Quem fez o 25 de Abril foi o Marcelo Caetano»;

- «Salazar? Foi um rei de Portugal. Foi o D. Salazar»;

- «Otelo? Quem é?»;

- «Otelo foi ministro de Salazar»;

- «Salazar foi Presidente da República»;

«Se vos entrevistarem na rua, por favor, não abram a boca», costuma recomendar a professora Maria Conceição Marques aos seus alunos de 9º ano, de uma escola de Lisboa. É que a maior parte, conta, «não sabe o que foi, nem por que razão houve uma revolução, nem mesmo que existiu uma ditadura em Portugal». E neste campo, sublinha, «os do 9º ano são tão ignorantes como os do 6º ano».

«Dizem autênticas barbaridades», desabafa Fernanda M. professora do 6º ano. «A maioria dos alunos não tem a menor noção do que foi o 25 de Abril, nem nunca ouviu falar». Há alguns mais informados, porque os pais explicam, «mas são muito poucos».

No 6º ano é mau, no 9º também, mas no 12ºano (apenas para os alunos que seguem o curso de Ciênciais Sociais e Humanas) não é muito melhor. Conceição Rocha é professora do 12º ano numa escola secundária no Porto e conta que, apesar de com estas idades já terem «alguma sensibilidade para o tema», sabem muito pouco e não têm grande interesse em querer saber mais. «Dizem que não têm nada a ver com isso, que quando aconteceu ainda não tinham nascido e, por isso, é uma seca».

Para os adolescentes, explica ao PortugalDiário esta docente, «a liberdade significa muito pouco e é difícil explicar-lhes. Acontece também chegarem à escola a insistir que os pais disseram que antes do 25 de Abril também eram livres e que não havia problema nenhum».

Quando o tema é a guerra colonial, também é preciso falar «com pinças». «Ainda existem muitos traumas, não dos alunos, mas das famílias», explica Conceição Rocha. Esta docente recorda situações de pais que se deslocaram à escola para protestar com os professores por estarem a tratar o tema de «uma forma muito violenta» ou de uma forma «que não corresponde à verdade».
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