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Barcelos: separação de alunos ciganos é «intolerável»

Escolas [arquivo]

Vice-presidente do Centro de Estudos Ciganos indignado com caso

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O vice-presidente do Centro de Estudos Ciganos, Bruno Gonçalves, classificou esta terça-feira de «intolerável» a separação de uma turma de meninos ciganos na escola de Barqueiros, em Barcelos, escreve a Lusa.

DREN rejeita que haja discriminação racial

À margem da apresentação do relatório da comissão parlamentar de Ética, Sociedade e Cultura das audições sobre portugueses ciganos, Bruno Gonçalves, que é também mediador sócio-cultural, admitiu apenas a separação entre as várias etnias por «um pequeno espaço de tempo para fazer o diagnóstico da situação das crianças».

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Em causa está o facto de uma turma de alunos ciganos daquele estabelecimento estar em aulas separadas num contentor, uma medida que a direcção da escola justificou com o facto de se tratar de jovens que não frequentavam o ensino. Por isso, foi nomeada uma equipa de professores para os acompanhar, justificou a direcção escolar.

No entanto, Bruno Gonçalves considera que «separar as turmas é intolerável: parece que estão a brincar connosco. Não estamos no século XIX, estamos no século XXI».

O relatório parlamentar, entre outras sugestões, aponta a importância do trabalho de mediadores, nomeadamente em escolas, mas Bruno Gonçalves critica o atraso, em 10 anos, da homologação da carreira de mediador, acrescentando ainda não haver data para a sua concretização.

Segundo o responsável, deverão existir entre 60 a 70 mediadores formados, que estão desempregados, uma vez que quando trabalhavam tinham «contratos muito precários, sem direito a subsídio de desemprego e férias».

«Não fazemos milagres»

Por outro lado, esta situação era agravada com o facto dos mediadores entrarem nas escolas «a meio do ano lectivo. Não fazemos milagres, mas ajudamos a minimizar os problemas».

Existe pouca vontade política, defendeu Bruno Gonçalves, embora recordando «os milhares de contos investidos pelo Estado na formação». Na sua experiência passou por quatro escolas e uma Organização Não Governamental (ONG).

Numa escola de Coimbra, Bruno Gonçalves orgulha-se de ter contribuído para reduzir o absentismo escolar. «O mediador é uma ponte: fala com os pais, vai buscar as crianças para irem à escola e descodifica a linguagem junto dos professores, que não têm formação e desconhecem a cultura cigana», contou.

Defendendo a educação das meninas ciganas, Bruno Gonçalves admite que a comunidade não gosta de ver as jovens casadas fora da etnia pelo que é necessário a introdução de mediadores.

Em muitos casos, como a Segurança Social ou os hospitais D. Estefânia e de Beja, os mediadores têm tido um sucesso assinalável, salientou Bruno Gonçalves, que reclama novas medidas.

«O ACIDI (Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural) tem um novo projecto de mediadores municipais ciganos a implementar em 10 cidades portuguesas. Mas o que eu pergunto é para quando?» - questionou Bruno Gonçalves.

Conhecer o contexto antes de criticar

A deputada socialista Maria do Rosário Carneiro defendeu, entretanto, que é necessário conhecer o contexto antes de «apontar o dedo» à opção da escola.

A responsável pela subcomissão parlamentar de Igualdade de Oportunidades e Família falava à margem da apresentação do relatório das audições sobre portugueses ciganos no âmbito do Ano Europeu para o Diálogo Intercultural.

«O modelo (nas escolas) não pode ser único porque há problemas diferentes e comunidades diferentes», argumentou, lembrando que muitas escolas têm turmas separadas «por opção da escola ou por imperativo dos pais. Não há unanimidade no modelo de integração».
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