No início da semana passada, quando os professores anunciaram que iriam realizar uma manifestação de protesto em Lisboa, o Ministério da Educação e Ciência (MEC) disse que já tinham sido efetuados os pagamentos com verbas comunitárias.
Hoje, vários diretores escolares voltaram a dizer que ainda não receberam: "Apenas 24% das escolas já recebeu o reembolso relativo a janeiro e fevereiro" e ainda há "25% das escolas que não receberam sequer a totalidade das verbas relativas a 2014", disse hoje Pedro Rovira, da direção executiva dos conservatórios de Coimbra, Figueira da Foz e Pombal, em declarações à Lusa.
“Chega de sermos tratados como aterro sanitário da educação. Respeitem-nos”, exigiu Augusto Lino, diretor do Conservatório das Caldas da Rainha, quando subiu ao palanque montado no Largo Jean Monet, em Lisboa, em frente à sede da representação europeia.
Foi no Largo Jean Monet que, durante toda a manhã, centenas de docentes e diretores se concentraram para exigir mudanças na forma de financiamento destas escolas que garantem aulas de música gratuitas a muitos alunos do ensino público.
Em troca deste serviço, as 79 escolas do centro e norte do país recebem verbas através de fundos comunitários que “nunca chegaram a tempo e horas”, resumiu Augusto Lino, lembrando a "agonia em que vivem estas escolas", que resistem a fechar as portas mesmo estando meses sem receber o acordado.
“A nossa candidatura foi aprovada a 08 de janeiro, dia em que ficámos a saber que poderíamos contratar professores e dar as aulas”, ironizou o diretor do Conservatório de Barcelos, Miguel Miranda Andrade.
É que as escolas começam a funcionar normalmente no início do ano letivo, mas muitas só recebem a primeira verba em dezembro ou janeiro, deixando os professores sem ordenado.
“Quantos de vós já deixaram de pagar a conta da água e da luz e já reduziram nas compras de supermercado?”, perguntou Cristina Loureiro, diretora pedagógica do conservatório de Pombal, que recebeu de resposta muitos braços no ar.
“A minha escola tem dezenas de professores e nenhum aluno ficou sem uma única aula, graças ao esforço que fazemos para combater este terror financeiro”, disse.
Miguel Miranda disse que “no norte, em Braga, existem escolas que estão a fechar porque chegam a ter doze meses de salários em atraso”.
Um outro professor que subiu ao palanque improvisado acabou por resumir em poucas palavras o sentimento partilhado por muitos dos presentes: “É humilhante obrigarem-nos a mendigar por uma coisa que é nossa de direito”.