Ex-ministro defende aulas mais curtas - TVI

Ex-ministro defende aulas mais curtas

  • Redação
  • Notícia atualizada às 20:15
  • 20 mai 2015, 18:02
David Justino, Presidente do CNE (LUSA)

David Justino é ainda da opinião de que se deve reduzir o tempo que os alunos passam dentro da sala de aula

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O ex-ministro da Educação David Justino defendeu esta quarta-feira aulas mais curtas do que os atuais blocos que podem ser de 90 minutos, alertando para a dificuldade que os alunos têm em manter a concentração.

“Nunca tive grandes dúvidas de que ninguém consegue controlar uma turma de 25 alunos, durante uma hora e meia. A capacidade de concentração é reduzida"


David Justino falava durante a conferência sobre “Indisciplina em Meio Escolar”, que decorreu no parlamento. Ele, que também é o atual presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE) apresentou-se como um “defensor de uma redução objetiva do tempo em sala de aula” e disse que “não gostaria que a escola a tempo inteiro se tornasse em sala de aula o tempo inteiro”, cita a Lusa.

O atual executivo permitiu que fossem as escolas a decidir a duração de cada aula, 45, 60 ou 90 minutos.

A posição do ex-ministro foi partilhada por Filinto Lima, vice-presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamento e Escolas Públicas (ANDAEP) e diretor de um agrupamento de escolas de Vila Nova de Gaia.

“É preciso diminuir o tempo letivo de 90 para 50 minutos. Estar numa sala de aula a ouvir alguns professores durante 90 minutos é uma seca. Até para nós é dose”, afirmou, sublinhando que apenas no ensino secundário os alunos já deverão estar preparados para ter aulas de hora e meia.

Sem capacidade para se concentrar, os alunos acabam por ter atitudes que os professores classificam de indisciplina, como estarem distraídos ou a conversar com o colega.

Um estudo, hoje apresentado no parlamento, revela que 80% dos docentes já presenciou casos de indisciplina na sala de aula.

“É muito difícil permanecer atento durante 90 minutos”, disse Célia Oliveira, professora da Universidade Lusófona do Porto e uma das responsáveis pelo estudo, que conta já com a participação de mais de três mil professores.

Os autores do estudo garantem que a indisciplina está intimamente relacionada com o insucesso escolar e, por isso, defendem que é preciso atuar logo nos primeiros anos de escolaridade.

O representante dos diretores escolares considera que os atuais métodos de ensino “estão muito desadequados, uma vez que muitos deles são do século passado”.

Rui Matos, professor de educação física e presente na plateia, também criticou “as aulas demasiado teóricas”:

“Querem ter os miúdos 50 minutos quietos. Não peçam às crianças para estarem quietas, por favor. Basta olhar para a espécie animal e perceber que os que estão quietos é porque estão doentes. Vão à Noruega ver como é que são as aulas”.


Além dos métodos de ensino, currículos muito extensos e "enorme carga letiva”, os especialistas alertaram para a dimensão das turmas e das escolas que tornou impessoal o relacionamento entre alunos e funcionários.

“Eu não sei impedir a indisciplina mas sei criá-la: substituo as escolas de 400 alunos por mega-agrupamentos de três mil alunos que não conheço e troco as turmas de 20 alunos por turmas de 30”, disse João Calçada, presidente do sindicato dos inspetores da educação.

A estas críticas, David Justino acrescentou ainda a falta de formação dos professores para lidar com a indisciplina. “A maior parte dos professores aprende pela experiência, quando nós sabemos que existem técnicas e regras que podem ser aplicadas”.

O encontro de hoje foi organizado pelo grupo de trabalho parlamentar que, nos últimos meses, visitou escolas e ouviu vários especialistas sobre Indisciplina em Meio Escolar.

A equipa irá realizar um relatório com sugestões de mudança, das quais Rui Pedro Duarte, coordenador do grupo, destacou cinco pontos: uma maior participação de pais e encarregados de educação; mais formação inicial e contínua de professores e pessoal não docente; autonomia de gestão das escolas e estabilidade do corpo docente e não docente; dotação de recursos essenciais e eficácia do estatuto do aluno.
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