As reações à morte de José Cutileiro - TVI

As reações à morte de José Cutileiro

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  • Publicada por MM
  • 5 jan 2021, 10:15

O artista plástico José Pedro Croft lamentou a perdade "um grande amigo e um mestre". Reitora de Évora fala em “legado ímpar na arte de esculpir”

O artista plástico José Pedro Croft lamentou, esta terça-feira, a morte do escultor João Cutileiro, “um grande amigo e um mestre”, que conheceu aos 20 anos e com quem trabalhou.

Fui seu assistente, na altura eu estava a estudar pintura e convidou-me para trabalhar com ele, e eu fui, larguei tudo e fui para Lagos. Foi uma amizade que durou mais de 40 anos”, disse José Pedro Croft.

Em declarações à Lusa, o artista considerou que Cutileiro foi “uma referência” para o seu trabalho e para a sua vida “na ética e como modelo, de enorme talento e enorme coragem de ser artista num país que também não é fácil”.

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É uma obra grande, que fica difícil de resumir em poucas frases”, frisou, realçando a “enorme vitalidade e a enorme vontade de viver” de João Cutileiro.

Croft recordou ainda que Cutileiro começou nos anos 1950, numa altura em que “a escultura estava muito dependente das encomendas da estatuária”.

O João seguiu um caminho de autonomia, de liberdade, de autossuficiência, de não ter nenhuma dependência em relação aos poderes para fazer exatamente aquilo que queria fazer”, afirmou.

Quando o conheci, no final dos anos 1970 funcionava como uma bússola, uma pessoa que direcionada e, ao mesmo tempo, era um amigo que funcionava como âncora, que também nos dava chão e também nos recebia de braços abertos quando tínhamos problemas. Foi uma relação de grande privilégio e que guardarei para sempre”, acrescentou.

O escultor João Cutileiro, que morreu esta segunda-feira, aos 83 anos, estava internado num hospital de Lisboa com graves problemas do foro respiratório.

João Cutileiro é autor do Monumento ao 25 de Abril, instalado no Parque Eduardo VII, em Lisboa, entre muitas outras obras. 

 

Medina destaca "estilo inconfundível"

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, considerou que a morte do escultor João Cutileiro deixa “um enorme vazio” no panorama das artes plásticas portuguesas.

Numa mensagem publicada na sua conta oficial da rede social Twitter, Fernando Medina lembrou que Lisboa “conta felizmente" com obras do escultor no espaço público, nomeadamente o monumento de homenagem ao 25 de abril de 1974 e o Lago das Tágides, no Parque das Nações.

Dono de um estilo inconfundível, deixa na pedra a marca das diversas forças e influências que o moldaram enquanto criador”, pode ler-se ainda.

De acordo com Fernando Medina, o legado do artista “permanecerá duradouro tal como as pedras que trabalhou e nunca será indiferente para ninguém”.

A mensagem do autarca termina com as condolências à família e amigos.

 

Reitora de Évora fala em “legado ímpar na arte de esculpir”

A reitora da Universidade de Évora recordou esta terça-feira o escultor João Cutileiro, que morreu aos 83 anos, como alguém "cuja criatividade e originalidade marca o seu tempo" e que deixa "um legado ímpar na arte de esculpir".

João Cutileiro foi um "homem cuja criatividade e originalidade marca o seu tempo e que nos deixa um legado ímpar na arte de esculpir", afirmou a reitora da Universidade de Évora (UÉ), Ana Costa Freitas, numa nota enviada à agência Lusa.

A reitora da UÉ lembrou que a academia atribuiu o doutoramento Honoris Causa a João Cutileiro em 2013, notando que o artista interveio no espaço público com "projetos de arte urbana marcada pelo experimentalismo, abordando temas como o intimismo, o erotismo e o amor".

A obra de João Cutileiro vai ficar para a posteridade", referiu Ana Costa Freitas, sublinhando a "coragem e a determinação do escultor de Évora" que revolucionou a estética da estatuária nacional e que subverteu os cânones da estatuária do Estado Novo, de que é exemplo a escultura de D. Sebastião, em Lagos.

A reitora da UÉ salientou ainda "o gesto de boa vontade do escultor", que, em 2019, doou uma parte do seu espólio para a criação da Casa/Ateliê João Cutileiro, que vai albergar residências artísticas, oficinas e atividades de investigação.

Esta estrutura vai ser coordenada conjuntamente pela Direção Regional de Cultura do Alentejo, Câmara de Évora e Universidade de Évora.

 

Diretora de Cultura do Alentejo lembra "artista notável"

O escultor João Cutileiro foi “um artista notável, representado nos cinco continentes”, e “um dos mais relevantes do século XX” em Portugal, destacou a diretora regional de Cultura do Alentejo.

Era um artista notável e um mais relevantes do século XX português, com uma obra fantástica e em todo o mundo, porque ele está representado nos cinco continentes”, disse à agência Lusa Ana Paula Amendoeira, que lamentou a morte do escultor.

Segundo a diretora regional de Cultura, João Cutileiro “não foi só um excelente escultor, mas foi também um artista empenhado e preocupado em provocar e desafiar os paradigmas instalados, quer na arte, quer na sociedade”.

Foi sempre uma pessoa empenhada com a qualidade e a harmonia de vida das pessoas” no país, acrescentou.

Exemplo das “mudanças disruptivas” que introduziu “desde logo na escultura pública” é a obra D. Sebastião, dos anos 70 do século passado, que o escultor doou à cidade de Lagos, no distrito de Faro.

Trata-se de “uma peça icónica porque, de facto, marca um momento de rutura com essa tradição escultória da arte pública do país”, durante o Estado Novo, argumentou, frisando que o artista “dessacralizou o espaço público e teve a coragem de ‘rasgar’ essas ideias feitas”.

A tradição de escultura pública teve, com ele, uma rutura revolucionária, porque o João Cutileiro mudou completamente aquilo que era a escultura e a arte pública que se fazia em Portugal, até então”, acrescentou.

O escultor, que “fez a sua formação em Inglaterra, mas, depois, radicou-se em Portugal, nos anos 70”, era “uma pessoa com um trabalho obsessivo”, ou seja, “produziu muitíssimo, em quantidade e em qualidade e em diversos suportes, não apenas a pedra”, evocou Ana Paula Amendoeira.

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