«Corre-se o risco de enviar um enfarte para um centro de saúde» - TVI

«Corre-se o risco de enviar um enfarte para um centro de saúde»

José Manuel Silva

Bastonário concorda com algumas das propostas do grupo técnico e duvida de outras

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O bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, considera existir «uma diferença imensa entre um relatório teórico e a sua aplicação prática no terreno», num comentário às propostas do grupo técnico para a Reforma Hospitalar.

Para José Manuel Silva, muitas das medidas que constam do relatório não são novas e apesar de poderem ser boas ideias podem ser de difícil concretização.

Comentando o facto de o relatório apontar que existem 2.337 médicos, dos 19.000 que integram o Serviço Nacional de Saúde (SNS), que devem ser transferidos para locais onde fazem mais falta, José Manuel Silva reconhece existir uma «má organização» no sistema.

«É evidente que havendo uma reorganização do SNS se pode concluir que há médicos a mais nalgumas zonas e como todos sabemos há claramente médicos a menos noutras regiões. Se o SNS for correctamente organizado, a cobertura médica de todo o país melhorará», disse.

Sobre a possibilidade dos doentes considerados não urgentes serem atendidos fora das urgências hospitalares, o médico diz que a premissa, em termos genéricos é válida, mas que a proposta é «contraditória» com outra que se faz no mesmo relatório, que prevê que os doentes tenham liberdade de escolha no hospital em que desejam ser atendidos.

«Há aqui uma contradição. Nós não podemos por um lado desregular a saúde e por outro introduzir regras que penalizem os doentes. Corria-se até o risco de enviar um doente com um enfarte do miocárdio para um centro de saúde. Há que haver ponderação e bom senso na forma como algumas propostas são apresentadas», sublinhou.

O bastonário entende que «é necessário investir na capacidade de resposta dos cuidados de saúde primários para que os doentes em situações menos urgentes encontrem respostas nos centros de saúde e não se desloquem às urgências».

Transferir as consultas das especialidades hospitalares para os centros de saúde é uma medida que, segundo José Manuel Silva, contará com o apoio da ordem dos médicos e que já está a ser aplicada, «em alguns centros de saúde que têm um melhor relacionamento com os seus hospitais».

A possibilidade de transferir actividades da área médica para a área de enfermagem é encarada com desconfiança pelo bastonário.

«Não sei exactamente o que é que se quer dizer com a transferência da área médica para a área de enfermagem. É evidente que se são funções médicas têm de ser desempenhadas por médicos, não podem ser desempenhadas por outros profissionais de saúde», referiu.

José Manuel Silva acredita que, «quando um doente recorre a um centro de saúde para ser visto por um médico, não ficará satisfeito se afinal for visto por um enfermeiro».

«Relativamente à mobilidade, essa questão é apresentada como se os profissionais de saúde, neste caso os médicos, tivessem prerrogativas especiais ou privilégios particulares relativamente a outras classes profissionais. Não têm. Os médicos assinam contratos onde lhes disponibilizam contratos», concluiu.
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