«Se os portugueses fossem mais cultos, começavam a questionar» - TVI

«Se os portugueses fossem mais cultos, começavam a questionar»

António Lobo Antunes critica todos os Governos que desprezaram a Cultura

O escritor António Lobo Antunes considera que, desde o 25 de Abril, «nenhum Governo teve uma verdadeira política cultural».

«A política nunca se interessou [pela cultura] e parece que continua a não se interessar», afirmou, acrescentando: «Do 25 de Abril para cá, tivemos governos mais à esquerda e mais à direita. Desde que comecei a publicar livros, em 1979, que as únicas entidades com interesse real pela cultura foram as câmaras municipais».

António Lobo Antunes falava numa conferência de imprensa, em Penafiel, onde está a ser homenageado no âmbito do festival literário Escritaria, que teve início esta sexta-feira.

No âmbito do certame, vai realizar-se também esta sexta-feira o lançamento do novo livro do escritor, «Não é Meia Noite Quem Quer», com apresentação de Ana Paula Arnaut.

Na conferência de imprensa desta tarde, à margem do seu novo romance, António Lobo Antunes considerou que «a arte é necessariamente subversiva e coloca em risco os poderes estabelecidos».

«A arte transtorna, incomoda, aflige, assusta e pode mudar», observou.

Ironizando, o escritor disse ser «bom que as pessoas se entretenham com big brother's, novelas e isso tudo», porque, acrescentou, «se fossem mais cultas, começavam a questionar uma porção de coisas».

«Se alguém tem mantido a cultura portuguesa viva é o nosso povo. Nunca foram os nossos governos, que nunca se interessaram por ela, mesmo quando dizem que se interessam», observou aos jornalistas.

O escritor insistiu: «Acaba por ser a cultura aquilo que fica e que nós em Portugal, a nível oficial, mais temos desprezado».

Antes da conferência de imprensa, António Lobo Antunes conheceu alguns elementos de arte pública, criados em sua homenagem, colocados nas artérias de Penafiel, incluindo uma frase sua, com letras em metal, num muro da praça do município.

Para o escritor, «se a cultura portuguesa continua viva, é porque os nossos municípios, de todas as cores partidárias, a mantêm viva».

«Sejamos gratos às pessoas que, contra ventos e marés, com enormes dificuldades, muitas vezes sem nenhum auxílio, continuam a trabalhar pela cultura», disse.

O escritor disse estar convicto de que «os portugueses, ao contrário do que as pessoas podem pensar, continuam interessados na cultura, na literatura, nas diferentes formas de arte de uma maneira muito viva».

«Os portugueses continuam a ler muito, mas comprar livros é muito difícil, porque são muito caros e já o eram. Agora, com as condições em que estamos a viver, é terrível. No entanto, as pessoas continuam a comprar livros», afirmou.
Continue a ler esta notícia