Fernando Pessoa nunca apoiou publicamente Salazar - TVI

Fernando Pessoa nunca apoiou publicamente Salazar

Fernando Pessoa

Debate reacendeu-se a partir de 1974, depois da descoberta de alguns escritos anti-salazaristas do autor de «Mensagem»

Fernando Pessoa nunca apoiou publicamente Salazar ou o salazarismo em vida, quer através da sua actividade de publicista quer por qualquer outra tomada de posição conhecida, defendeu o investigador José Barreto no congresso sobre o escritor realizado em Lisboa, noticia a agência Lusa.

«Não há nada que documente esse apoio público, ainda que se tenha especulado em torno de certos factos que realmente não provam nada», disse o investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa sexta-feira, último dia do I Congresso Internacional Fernando Pessoa, uma iniciativa da Casa Fernando Pessoa com a qual se encerram as comemorações dos 120 anos do nascimento do escritor.

No entanto, «a partir de 1974, quando se começaram a revelar em Portugal os escritos anti-salazaristas de Fernando Pessoa, reacendeu-se um velho debate sobre o pensamento político do escritor», indicou José Barreto.

Alguns poemas satíricos sobre Salazar e o Estado Novo

Segundo o investigador, os escritos políticos inéditos revelados desde 1974 - «primeiro, alguns poemas satíricos sobre Salazar e o Estado Novo, depois também textos de análise política sobre esses e outros temas - vinham pôr em causa uma imagem de Pessoa há muito existente: a de um pensador nacionalista, ao mesmo tempo conservador e moderno, defensor de governos musculados; um elitista que olhava com ostensivo desprezo não só as lutas operárias, mas também a própria democracia moderna; um escritor que fizera poemas a ditadores messiânicos e defendera a ditadura militar».

São conhecidos - referiu - «alguns textos provenientes da arca de Pessoa, em que o escritor enumerava as qualidades que teriam feito de Salazar um dirigente prestigiado no país e fora dele, em que fazia um balanço positivo da obra administrativa do ditador e em que chegava a declarar-se um situacionista por aceitação (por oposição a um situacionista por convicção).

Na opinião de José Barreto, «estes escritos ou simples trechos contendo juízos positivos sobre Salazar, bem como os de sinal contrário, não podem obviamente ser isolados do conjunto a que pertencem, pois só conjuntamente têm um sentido preciso e verdadeiro».

«Pessoa era um espírito livre e independente. As suas posições políticas, muitas vezes vistas como contraditórias, simplesmente não se enquadravam nos sectarismos e partidarismos existentes na época. Sobre quase tudo, tinha uma opinião singular, por vezes surpreendente», defendeu.
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