Cuidados paliativos e eutanásia "não são práticas contraditórias" - TVI

Cuidados paliativos e eutanásia "não são práticas contraditórias"

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  • 24 mai 2018, 09:45
Eutanásia

Estudo revela que muitos dos casos de pedidos de morte medicamente assistida na Bélgica ocorreram em pessoas que tiveram acesso a paliativos. Na quarta-feira, a líder do CDS-PP disse ao primeiro-ministro no Parlamento que “instituir a eutanásia fica mais barato do que apostar nos cuidados paliativos”

A eutanásia e os cuidados paliativos coexistem e não se excluem, segundo um estudo que demonstra que muitos dos casos de pedidos de morte medicamente assistida na Bélgica ocorreram em pessoas que tiveram acesso a paliativos.

De acordo com um estudo publicado no ano passado na revista internacional Palliative Medicine, a percentagem de pessoas que teve acesso a cuidados paliativos na Bélgica é superior entre os que solicitaram eutanásia do que na restante população que não morre de morte repentina.

Um dos autores deste estudo, o sociólogo belga Joachim Cohen, refere que, na Bélgica, a eutanásia acontece depois de os doentes terem acesso a cuidados paliativos com qualidade.

O estudo, publicado em 2017 e que analisou a realidade belga, mostra que, de todos os utentes de cuidados paliativos, houve 14% que solicitaram eutanásia.

Em resposta escrita à agência Lusa, o sociólogo, que trabalha num centro dedicado às questões de fim de vida, refere ter estudos e análises de dados que demonstram que as pessoas que procuram a eutanásia são sobretudo doentes mais informados e com níveis de educação elevados.

Os doentes oncológicos e pessoas entre os 65 e os 79 anos estão também entre os grupos mais relevantes quanto aos pedidos de eutanásia, segundo o estudo, após análise a mais de 6.800 casos de vários tipos de mortes na Bélgica.

Os autores destacam ainda que, no país, as federações de cuidados paliativos aceitam que a eutanásia aconteça no contexto de bons cuidados paliativos.

Num contexto de eutanásia legalizada, a eutanásia e os cuidados paliativos não surgem como práticas contraditórias. Uma proporção substancial de pessoas que realizou pedido de eutanásia era seguida por serviços de cuidados paliativos”, refere uma das conclusões do estudo.

Joachim Cohen e a equipa do End-of-Life Care Research Group analisaram também a posição das sociedades e dos países relativamente à eutanásia e à morte medicamente assistida.

A aceitação pública aumentou ao longo do tempo, mas com variações consideráveis entre os países”, concluiu o investigador.

Nesta análise coube ainda a procura pelas razões desta variação, sendo que a religiosidade surgiu como um dos fatores que influencia a posição sobre a eutanásia.

De acordo com Joachim Cohen, um “declínio na religiosidade” explica em parte um aumento da aceitação da eutanásia” na Europa Ocidental.

Outro dos fatores que influencia a posição sobre a eutanásia é a tolerância à autonomia e à liberdade de escolha.

Num outro artigo científico em que Joachim Cohen participou, de 2016, mostra que nem sempre as opiniões dos cidadãos e dos médicos sobre a eutanásia são coincidentes, podendo ser mais fácil despenalizar a eutanásia quando essa diferença de opinião não é tão significativa.

Na quarta-feira, a líder do CDS-PP questionou o primeiro-ministro no Parlamento sobre a despenalização da eutanásia, sobre se era a favor ou contra. Assunção Cristas afirmou que instituir a eutanásia fica mais barato do que apostar nos cuidados paliativos”.

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