Défice de formação para ensinar Português a alunos estrangeiros - TVI

Défice de formação para ensinar Português a alunos estrangeiros

(Foto Cláudia Lima da Costa)

90% dos docentes, inquiridos num estudo da Universidade Nova de Lisboa, sem formação específica para lecionar Português Língua Não Materna

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Cerca de 90 por cento dos professores do 1.º Ciclo, inquiridos num estudo da Universidade Nova de Lisboa, não têm formação específica para lecionar Português Língua Não Materna (PLNM) aos alunos de outras nacionalidades.

De acordo com a coordenadora do estudo hoje apresentado em Lisboa, Ana Madeira, a percentagem de docentes sem formação para esta área é de 75 por cento nos ciclos seguintes - 2.º Ciclo, 3.º Ciclo e secundário.

«Temos muitas turmas, muito apoio de PLNM, mas temos, de facto, muito poucos professores que estão preparados para lecionar PLNM», disse a investigadora à agência Lusa, no final da apresentação do trabalho.

O estudo foi apresentado durante a Conferência Internacional Português Língua Materna no Sistema Educativo: Avaliação de Impacto e Medidas Prospetivas.

Teve por base um inquérito nacional disponibilizado por via eletrónica e recolheu 500 respostas, das quais 400 foram validadas.

Segundo a coordenadora da equipa de investigadores, a falta de formação é «compensada com experiência» por parte dos docentes.

«Há uma grande consciência das necessidades destes alunos nas escolas, há um esforço muito grande da parte das escolas para criar condições (...) o que verificamos é uma enorme falta de recursos», declarou.

Os investigadores defendem um investimento na formação dos professores e também que seja permitida a constituição de turmas com menos de 10 alunos de PLNM, bem como o reforço das bibliotecas escolares com «materiais de qualidade».

Nas escolas portuguesas há cerca de 90 nacionalidades e 70 línguas diferentes.

Os autores do estudo, destinado a contribuir para avaliação das políticas de educação, defendem que é preciso aumentar o crédito horário das escolas para apoiar estes alunos.

«A mobilidade na Europa só vai aumentar, não vai diminuir. Vamos ter cada vez mais alunos de outras nacionalidades», afirmou João Costa, ao apresentar as conclusões e recomendações do estudo.

No mesmo sentido, defendeu a adoção de procedimentos que uniformizem as práticas de avaliação de diagnóstico - «o ponto de partida é fundamental» - e medidas que passem pela receção ao alunos e ao encarregado de educação.

«Um dos problemas fundamentais que temos é que há alunos que chegam à escola sem saber uma palavra de português», referiu.

«Tem de ser criada sensibilidade na comunidade escolar para as vantagens do multilinguismo. É natural ser bilingue, o que não é natural é ser monolingue, como muitos de nós somos. A Europa é multilingue», frisou.

No estudo, é sugerida a introdução de provas nacionais de PLNM para o 1.º Ciclo do ensino básico, à semelhança das que existem nos 2.º e 3.º ciclos e no ensino secundário.

A constituição de grupos de homogeneidade relativa, nas disciplinas em que os alunos apresentem mais dificuldades, é outra das medidas propostas para melhorar as condições de aprendizagem.

O inquérito foi realizado em abril de 2013, tendo sido solicitado o seu preenchimento a todos os agrupamentos e escolas não agrupadas em Portugal continental
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