Maioria dos alunos do superior já usou cábulas - TVI

Maioria dos alunos do superior já usou cábulas

Universidade de Coimbra (Lusa/Paulo Novais)

Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra inquiriu mais de sete mil alunos e concluiu que os estudantes têm uma perceção de que a fraude é "generalizada"

Um estudo do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra concluiu que perto de 52% dos alunos do ensino superior português já copiaram de colegas e cerca de 40% já usou cábulas.

Os resultados do estudo são relativos a um questionário a 7.292 alunos de 101 instituições do ensino superior de Portugal, politécnicos e universidades, e demonstram que os estudantes têm uma perceção de que a fraude é "generalizada".

Dos inquiridos, 54,2% considera que se copia para trabalhos com alguma regularidade, mais de 70% considera que se usam cábulas com frequência em exame escrito, 73% dos alunos admitem que apresentariam o mesmo trabalho em várias disciplinas, 65% que forneceriam respostas a um colega no exame e 52% que copiariam.

Homens, estudantes que frequentaram escolas privadas, que vêm de famílias com mais rendimentos e que têm pessoas no núcleo familiar com formação superior estão mais predispostos a cometer fraude, conclui o estudo.

Quanto a "inibidores" da prática de fraude, os estudantes elegem a relação de proximidade entre docentes e alunos como fator que "inibiria a prática fraudulenta", notou Filipe Almeida, o coordenador do projeto "A ética dos alunos e a tolerância de professores e instituições perante a fraude académica no ensino superior”, sublinhando que os professores, por outro lado, não consideram a proximidade como um fator de inibição.

Segundo o investigador, "não é possível combater a fraude sem uma mudança multidimensional".

Para Filipe Almeida, seria necessário políticas dirigidas "para os docentes, para os estudantes e para as instituições", combatendo de forma sistémica, com toda a gente "comprometida" com esse combate.

Mais do que agravar as penas, é as instituições levarem até às últimas consequências os processos de fraude, de forma a se atribuir uma cultura de exigência", salientou o investigador.

Paulo Peixoto, um dos responsáveis pelo disse, à TSF, que além de comum, a fraude académica não é normalmente condenada pelos alunos.

O investigador considera que ficou concluído que os jovens têm a ideia de que em “muitos casos o êxito” académico “só é alcançável dessa forma”.

Ainda de acordo com a TSF, a investigação permitiu perceber que os alunos consideram a fraude no ensino superior apenas uma continuação do que já se faz no ensino básico e secundário.

Paulo Peixoto acrescentou que estas práticas só são censuradas quando passam por métodos só acessíveis a alguns alunos, por exemplo, comprar um trabalho, que nem todos podem pagar.

Professores não denunciam a fraude

O estudo conclui, também, que há uma inibição da denúncia da fraude académica por parte dos docentes, motivada pelo grau de desconfiança nos processos administrativos da instituição.

Os professores universitários não estão predispostos para denunciar situações de fraude académica e plágio, devido, em parte, a um "grau de desconfiança e descrença nos processos administrativos" e na "capacidade punitiva" das instituições do ensino superior português, disse Filipe Almeida.

Outra das explicações avançadas pelo investigador para os docentes não estarem "absolutamente comprometidos no combate à fraude" centra-se com o facto de a avaliação da carreira docente universitária estar focada "na dimensão científica e não na pedagógica".

Os incentivos são "poucos" para que os professores "se preocupem com o que se passa na sala de aula", sendo que dos 2.727 docentes inquiridos, 30% não sabia "sequer se havia algum código de conduta ou ética na sua instituição".

Isto sinaliza o descompromisso", afirmou o coordenador do projeto.

O estudo é apresentado esta terça-feira à tarde, na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, e deu origem aos livros "Fraude e Plágio na Universidade" e "A fraude Académica no Ensino Superior em Portugal", resultantes do projeto de investigação, que decorreu entre 2008 e 2015.

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