Qualidade dos profissionais de saúde é o ponto forte do SNS para os utentes - TVI

Qualidade dos profissionais de saúde é o ponto forte do SNS para os utentes

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  • 2 abr 2019, 08:12

Estudo da NOVA Information Management School (NOVA-IMS), da Universidade Nova de Lisboa

A qualidade dos profissionais de saúde é o ponto mais forte do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para os utentes e um dos que deve ser valorizado, segundo um estudo divulgado esta terça-feira.

O Índice de Saúde Sustentável, da NOVA Information Management School (NOVA-IMS), da Universidade Nova de Lisboa, desenvolveu este ano um indicador novo, o índice de atuação preferencial, que resulta da avaliação que os utentes fazem dos determinantes da qualidade dos cuidados de saúde e da importância que atribuem a cada um deles.

Segundo o estudo, a qualidade dos profissionais de saúde merece uma avaliação de 78,3 (numa escala de 0 a 100), enquanto a facilidade de acesso aos cuidados de saúde (59 pontos) e os tempos de espera entre a marcação e a realização dos atos médicos (54 pontos) são os pontos mais negativos do SNS.

“Tentámos ainda perceber, se se fizesse investimento, de que forma poderia ser distribuído para melhorar a perceção global dos cidadãos relativamente ao SNS. Aqui, a dimensão que aparece como de atuação mais preferencial são os próprios profissionais de saúde”, explicou Pedro Simões Coelho, coordenador do estudo.

O responsável afirmou ainda que a qualidade dos profissionais de saúde “é o principal ponto forte do sistema” e “é tão importante para os cidadãos que, como ainda tem margem de progressão, seria a variável em que o investimento teria maior impacto”.

Segundo o índice de atuação preferencial, que estabelece prioridades e distribui a percentagem de investimento para cada determinante, a qualidade dos profissionais de saúde têm um peso de 31%, a facilidade de acesso 27%, os tempos de espera entre a marcação e a realização dos atos médicos 17%.

“Juntando os dois [qualidade dos profissionais de saúde e facilidade de acesso], estimamos que quase 60% do esforço do SNS deveria ser colocado nestas duas dimensões e os outros 40% distribuídos nas restantes dimensões”, disse Pedro Simões Coelho.

Quanto ao acesso ao SNS e às taxas moderadoras, o estudo indica que os portugueses têm uma ideia de valores acima dos realmente praticados, seja nas consultas com o médico de família ou nas consultas externas/especialidade nos hospitais, julgando inclusive que há lugar a taxa moderadora em caso de internamento, quando tal já não acontece.

Segundo o estudo, apesar dos utentes se mostrarem mais críticos em relação à adequação dos preços, nomeadamente do preço das taxas moderadoras (27% consideram-nas inadequadas), a atividade não realizada devido aos custos baixou.

Em 2018, devido aos custos das taxas moderadoras terão ficado por realizar 503.749 episódios de urgência, valor que no ano anterior ultrapassava os 900.000.

Se às taxas moderadoras se acrescentarem as despesas de deslocação, a conclusão é idêntica: os custos têm cada vez menos impacto.

No caso da consulta externa/especialidade num hospital público, por exemplo, não foram realizadas 637.132 consultas, o que representa uma redução de 3,4% na atividade perdida relativamente a 2017, ano em que ficaram por realizar mais de um milhão de consultas.

Investimento no SNS permitiu retorno de 5,1 mil milhões para a economia

O investimento no Serviço Nacional de Saúde em 2018 permitiu um retorno de 5,1 mil milhões para a economia tendo em conta o impacto dos cuidados de saúde no absentismo e na produtividade, conclui o mesm estudo.

Segundo os dados do Índice de Saúde Sustentável, cerca de metade do valor investido no SNS em 2018 retornou para a economia, tendo em conta tanto os dias de ausência laboral que o SNS permitiu evitar como a produtividade destes trabalhadores.

“O valor não pode deixar de nos impressionar, pois significa que cerca de metade do investimento anual do SNS é retornado para a economia no próprio ano só por via da participação dos cidadãos no mercado trabalho”, sublinhou Pedro Simões Coelho, coordenador do estudo.

Segundo o trabalho da NOVA-IMS, em média, os portugueses faltaram quase seis dias (5,9) ao trabalho em 2018, o que resultou num prejuízo de 2,2 mil milhões de euros. No entanto, a prestação de cuidados de saúde através do SNS permitiu evitar a ausência laboral de outros dois dias (2,4), o que representa uma poupança de 894 milhões de euros.

A redução da produtividade também foi medida neste estudo, que refere que por motivos de saúde terá existido uma perda equivalente a 12,3 dias de trabalho, o que se traduz num prejuízo de 4,6 mil milhões de euros. Contudo, o SNS permitiu evitar outros 6,8 dias de trabalho perdidos, resultando numa poupança de 2,5 mil milhões.

No total, tendo em conta o impacto no absentismo laboral e na produtividade, “estamos a falar de impacto económico de cerca de 3,4 mil milhões [medido por vai dos salários), (…) mas o valor económico global dos dias que o SNS ajudou a não perder poderá ultrapassar os 5,1 mil milhões”, disse à agência Lusa o coordenador do estudo.

O valor do índice de sustentabilidade baixou em 2018 de 103.0 para 100.7 pontos, mas apesar desta descida o estudo destaca o aumento da satisfação e confiança dos utentes e uma subida da atividade do SNS em 2,5%.

“Esta descida no índice, não se trata de uma situação clara (…), trata-se de uma situação mista, onde há algumas componentes do índice que sobem e outras que descem e acabam, no conjunto e no equilíbrio de todas, por prevalecer aquelas que fazem o índice descer”, afirmou Pedro Simões Coelho.

Contudo, o responsável sublinhou como aspetos positivos o crescimento de 2,5% da atividade do SNS (hospitais e cuidados de saúde primários), “a mais alta dos últimos quatro anos”, a qualidade do SNS que os utilizadores percecionam, que é positiva (67 pontos, de 0 a 100) e a redução da dívida.

“2018 foi um ano em que, pela primeira vez, há uma redução da divida a fornecedores”, frisou.

Quanto aos aspetos “que puxam para baixo o índice de saúde sustentável”, o coordenador do estudo destaca o índice de qualidade técnica, baseado em indicadores universais, que desceu, e o aumento da despesa (2,9%).

“Trata-se de uma situação fora do vulgar, com o desenho de um sistema que está a melhorar na atividade, na divida e na qualidade percecionada e que está a piorar noutras componentes. Acabaram por prevalecer as negativas”, concluiu.

O estudo avaliou igualmente o índice global do estado de saúde dos portugueses, que se encontra nos 74,4 pontos – numa escala de 0 a 100 (estado de saúde ideal). Se a este índice fosse retirado o contributo do SNS, o valor ficaria pelos 54,6 pontos.

Quanto ao acesso ao SNS e às taxas moderadoras, o estudo indica que os portugueses têm uma ideia de valores acima dos realmente praticados, seja nas consultas com o médico de família ou nas consultas externas/especialidade nos hospitais, julgando inclusive que há lugar a taxa moderadora em caso de internamento, quando tal já não acontece.

Em relação ao custo dos medicamentos, subiu a percentagem (89,8, mais 0,7) de pessoas que disseram ter tomado no último ano medicamentos prescritos por um médico, assim como a percentagem dos que os tomam no âmbito de uma terapêutica prolongada (passou de 59,5 para 68,1).

Por outro lado, baixou de 10,8 para 8,9 a percentagem dos que, por questões financeiras, não compraram algum dos medicamentos prescritos pelo médico.

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