Portugal é o 2º país do mundo com maior taxa de depressão - TVI

Portugal é o 2º país do mundo com maior taxa de depressão

Jovem (arquivo)

Estima-se que um terço das pessoas com perturbações mentais graves não esteja tratada

Relacionados
Portugal é o país da Europa com maior taxa de depressão e o segundo maior do mundo, mas estima-se que um terço das pessoas com perturbações mentais graves não esteja tratada.

Segundo os dados revelados à agência Lusa pelo coordenador português da Aliança Europeia Contra a Depressão, o psiquiatra Ricardo Gusmão, os Estados Unidos é o único país que fica à frente de Portugal em taxa de depressão e perturbações mentais no geral.

Ricardo Gusmão diz que «parece que a conhecida melancolia portuguesa tem uma tradução psiquiátrica».

Continuam a existir muitos doentes graves sem tratamento, apesar de o consumo de antidepressivos ser muito mais elevado em Portugal do que noutros países.

«A mais grave consequência do não tratamento da depressão é o suicídio e a maioria dos suicídios ocorre no contexto de depressão», refere o médico, em entrevista à agência Lusa, a propósito do Dia Europeu da Depressão, que se assinala neste sábado.

Uma das razões para a ausência de tratamento pode ser o estigma relacionado com a doença mental, que parece ser maior em Portugal do que noutros países, e existe não só entre os doentes, como na classe médica.

«Ainda é frequente haver médicos que acham que a depressão não é uma doença. Mas as doenças mentais são doenças do cérebro, e não do espírito, e o cérebro é o órgão que regula todos os outros. Em dois terços das pessoas com depressão, o primeiro sintoma que surge é físico», explica Ricardo Gusmão.

Para retirar o peso do estigma, Gusmão defende uma alteração dos currículos universitários de medicina, colocando o foco destas doenças no cérebro e no modelo médico e não no psicológico.

Há também muito estigma em relação aos próprios antidepressivos, que o médico garante não causarem dependência, ao contrário das benzodiazepinas, fármacos para a ansiedade.

Outra das causas para que tantos portugueses com doença mental não tenham tratamento pode ser a dificuldade de acesso a cuidados de saúde adequados.

O psiquiatra assume que, com os níveis actuais de consumo de antidepressivos, seria de esperar que a saúde mental em Portugal estivesse melhor.

Pode acontecer que as pessoas tomem mal a medicação, abandonando-a ou não a seguindo pelo período de tempo necessário, e até que haja quem a toma sem ter grande necessidade. Mas há, seguramente, diz o psiquiatra, quem está a ficar sem tratamento.

As vendas de antidepressivos aumentaram 300 por cento entre 1995 e 2009. A Aliança Europeia Contra a Depressão em Portugal diz que estes remédios têm ficado cada vez mais baratos, permitindo maior acesso.

«Mas se nem todos estão a ser tratados o que há a fazer é racionalizar a prescrição destes fármacos», refere Ricardo Gusmão.

A prevalência global das doenças mentais em Portugal é de 22 por cento. Em cada ano, 7 por cento da população sofre de depressão e o suicídio é responsável anualmente por mais de mil mortes, sendo a causa de morte prematura mais evitável de todas.
Continue a ler esta notícia

Relacionados

Mais Vistos