Lar de idosos ilegal: “Quando havia chá, não havia manteiga. Quando havia manteiga, não havia papos-secos” - TVI

Lar de idosos ilegal: “Quando havia chá, não havia manteiga. Quando havia manteiga, não havia papos-secos”

  • Carla Correia
  • Ticiana Xavier, com MM
  • 10 jan 2019, 16:47

Antiga funcionária e familiares dos utentes de um lar de idosos encerrado em Évora denunciam maus tratos aos utentes e falta de condições em estabelecimento encerrado esta quarta-feira. O lar foi encerrado e a proprietária foi detida

Os utentes que estavam no lar “Casa dos Avós”, no Bairro da Comenda, em Évora, encerrado esta quarta-feira, sofreram maus-tratos reiterados. As denúncias foram feitas à TVI por uma antiga funcionária, que trabalhou cinco meses no lar, e pela filha de uma utente.

O lar foi encerrado esta quarta-feira, a pedido do Ministério Público, e a proprietária foi detida. A mulher era já reincidente neste tipo de situação. Já tinha tido outro estabelecimento do género, que encerrou por falta de pagamentos das rendas.

Ela não era uma pessoa competente para ter um lar. Isto não era um lar, nem era casa de repouso. Era uma casa de habitação. (…) Ela até me dizia que estava farta disto e que um dia me entregava isto. Por isso é que continuei aqui algum tempo, para ficar com os idosos e legalizar isto”, denuncia uma antiga funcionária.

Em declarações à TVI, a mulher disse que “ a casa tinha condições”, mas a proprietária é que não proporcionava condições aos utentes: “Passavam fome”.

Ela vinha trazer o comer a más horas. Estivemos muito tempo aqui sem fogão. Dizia que não comprava porque não queria. Só para ‘eles não serem tortos’”.

Se havia chá, não havia manteiga. Se havia manteiga, não havia papos-secos. Quando havia pão, eles comiam-no duro. Ou então, eu tinha um pouco de consciência e fazia-lhes umas torradas para eles comerem com o chá.”

Os idosos estavam na casa largos períodos sem luz, de acordo com a mesma antiga funcionária, porque a proprietária deixava de pagar as contas e a eletricidade era cortada. Quando havia eletricidade, mesmo assim, não havia aquecimento e os idosos passavam frio: “Os quartos geladinhos. A casa é boa, mas é muito fria. (…) Muitas vezes cortavam-lhe a luz. Então, ela tirava-lhes o aquecedor e dizia-lhes mesmo ‘tapem-se com as mantas’”.

A filha de uma antiga utente do lar denuncia maus tratos à mãe e a outros idosos, dos quais se apercebeu tarde demais. Ainda chegou a tirar a mãe do lar, mas as feridas que lhe foram infligidas pelos maus tratos acabaram por infetar e a idosa morreu.

Ao fim de uma semana de lá a ter, apareceu-me logo com uma ferida numa perna. Nós perguntámos-lhe o que tinha acontecido e ela disse que ela tinha escorregado num degrau. (…) E ela não deixava a gente mexer na perna da minha mãe.”

A minha mãe começou a aparecer com uns hematomas e a gente perguntou-lhe e ela disse que a Margarida e a empregada lhe bateram e a empurraram.”

A familiar da mesma idosa diz que ela e o filho constataram a falta de condições da casa, quando começaram a desconfiar e a investigar a situação: “A minha mãe continuou a dizer que passavam fome, que não comiam a horas e realmente eu entrava lá e nunca havia comer naquela cozinha. Aquela cozinha não tinha fogão, não tinha frigorífico, não tinha nada. Só tinha uma mesa e umas cadeiras e um micro-ondas em cima da bancada.”

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