Governo criou "mecanismos de limpeza" de alunos - TVI

Governo criou "mecanismos de limpeza" de alunos

  • Sofia Santana
  • 18 jun 2015, 23:34

Maria de Lurdes Rodrigues considera que as políticas educativas do Governo são marcadas por uma cultura de “facilitismo” e pela “apologia do deixar para trás”. Os exames nacionais deram o mote para um debate em torno do ensino no programa “A Caminho das Legislativas” da TVI24, esta quinta-feira

Maria de Lurdes Rodrigues considera que as políticas educativas do Governo são marcadas por uma cultura de “facilitismo” e pela “apologia do deixar para trás”. A antiga ministra da Educação do Governo de José Sócrates acusou o Executivo de promover “mecanismos de limpeza dos alunos que não apresentam bons resultados”.

“Facilitismo não é tentar ensinar as crianças, a grande dificuldade está em fazê-las aprender e a situação mais fácil é deixar a criança para trás. O que assistimos com este Governo foi a apologia do deixar para trás.”


Os exames nacionais deram o mote para um debate em torno do ensino no programa “A Caminho das Legislativas” da TVI24, esta quinta-feira. O debate, moderado por Paulo Magalhães, contou com as presenças da antiga governante, de Manuel Braga da Cruz e David Justino.

As elevadas taxas de retenção escolar foram duramente criticadas por Maria de Lurdes Rodrigues. A ex-ministra foi mais longe, afirmando que foram implementados "mecanismos de limpeza" dos alunos nas escolas.

“Parece que aquilo que é valorizado é o exame e o castigo associado ao exame, sem nenhuma função pedagógica e isso é que favorece o facilitismo de chumbar as crianças. [...] Não há maior exigência, o que há é mecanismos de limpeza dos alunos que não apresentam resultados das escolas e isso é que é bastante grave.”

Mecanismos que, na sua opinião, impedem os alunos de seguir um percurso escolar nas mesma condições das outras crianças e, em última instância, privam o acesso a uma profissão nas condições regulares.

“São mecanismos de seleção para identificar as pessoas que têm dificuldade em aprender não para as fazer aprender mas para as fazer sair das escolas encaminhando-as para percursos que não as permitirão ter um percurso normal de acesso a universidade, de acesso a uma profissão nas condições regulares que se oferecem as outras crianças.”


Pelo contrário, Manuel Braga da Cruz sublinhou que o Governo não pode ser acusado de “facilitismo”, destacando antes uma cultura de “rigor e exigência”. No caso dos exames nacionais, o antigo reitor da Universidade Católica Portuguesa considera que toda a vida social é pautada por momentos de avaliação e, por isso, é necessário ensinar as crianças “a viver em stress”.

“Temos que ensinar as nossas crianças a viver em stress porque a vida é feita de stresses. Banir o stress não é boa pedagogia. [...] Toda a vida social baseia-se na avaliação e naturalmente que isso tem momentos de tensão e de exigência. Portanto temos que preparar os alunos para esta cultura de exigência e de rigor. Temos de ensinar as nossas crianças a viver e a superar estes momentos de tensão.”


O presidente do Conselho Nacional de Educação, David Justino, afirmou que os exames nacionais estão associados às elevadas taxas de retenção de forma errada, frisando que os resultados das provas têm um "efeito residual" na retenção dos alunos.

“Os efeitos dos exames sobre a retenção são efeitos residuais. Só entre 1% a 2% dos alunos que vão com nota positiva a exames é que vêm de lá chumbados.”


Para o antigo ministro da Educação do Governo de Durão Barroso é fundamental perceber as verdadeiras razões que promovem estes números elevados. 
 
Manuel Braga da Cruz acredita que há razões para se estar satisfeito com o ensino em Portugal, apesar de reconhecer que há metas por atingir, nomeadamente no âmbito das taxas de escolarização, que continuam inferiores às da Europa. Para o antigo reitor, o grande desafio do ensino passa por um maior envolvimento da sociedade, uma "responsabilização das famílias" e o "protagonismo da iniciativa privada" porque, considerou, “o Estado não pode fazer tudo”.

“O grande desafio do ensino é envolver a sociedade, envolver as famílias, responsabilizar as famílias, dar protagonismo à iniciativa privada que tem tido bons resultados. O Estado não deve encarar essa procura como algo negativo, mas encorajar e apoiar porque o Estado não pode fazer tudo.”


De resto, Manuel Braga da Cruz considera que “o estado assumiu em esforço o encargo da educação.”

Por sua vez, David Justino entende que o grande desafio do ensino passa por resolver o problema do insucesso escolar que é muito elevado.
 
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