Os fenómenos de extremismo e negacionismo aproximaram-se durante o último ano em Portugal, segundo o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), elaborado pelo Serviço de Informações de Segurança (SIS) referente ao ano de 2020.
Durante a pandemia, e perante as medidas restritivas impostas pelo Governo e os diferentes concelhos dados pelas autoridades de saúde, houve um aumento das "ameaças híbridas", que utilizaram "operações de informação/desinformação e de campanhas de influência/gerência, com o objetivo de afetar a confiança das opiniões públicas e de prejudicar a tomada de decisão dos Governos".
O relatório descreve aquilo que é uma maior ligação entre os grupos de extrema-direita dos diferentes países europeus, que se têm consolidado ao longos últimos anos.
É precisamente em contexto europeu que se nota o envolvimento de "movimentos inorgânicos", por vezes com ligações de índole ultranacionalista, que surgiram "narrativas conspiracionistas com amplo aproveitamento da crise sanitária vigente".
As redes sociais foram o palco preferencial para extremistas e negacionistas da covid-19, o que leva o SIS a alertar para possível radicalização de jovens naquelas plataformas.
O relatório acredita que naqueles locais são lançadas dúvidas em relação a vários temas ligados à pandemia, nomeadamente no que toca à eficácia das medidas colocadas em prática pelos diferentes governos.
Esta situação terá sido impulsionada por um maior período de estadia em casa, com mais tempo de acesso à Internet e às redes sociais, uma vez que grande parte da população teve de entrar em confinamento, aumentando o tráfego nas plataformas.
Nos extremismos políticos, apesar de a pandemia ter obrigado ao cancelamento de muitas das atividades tradicionais (reuniões, conferencias, concertos), o confinamento imposto aumentou o tempo de exposição da sociedade em geral, e dos jovens em particular, aos meios online e abriu um leque de oportunidades para que os movimentos radicais de extrema-direita disseminassem conteúdos de propaganda e desinformação digital, com vista a aumentar as suas bases de apoio, galvanizar os sentimentos antissistema e a reforçar a radicalização com base xenófoba, recorrendo ao discurso apelativo da violência e do ódio, num momento em que a sociedade portuguesa é, também, confrontada com fenómenos de polarização ideológica", pode ler-se no RASI.
Sobre a "militância de rua", notam as secretas o aparecimento de um novo grupo de extrema-direita, o Resistência Nacional, responsável pelos protestos junto à associação SOS Racismo. É ainda referido o exemplo do grupo Ordem de Avis, que ameaçou deputadas e militantes antifascistas e antirracistas.
Portugal alvo de ciberataques
O RASI dá conta de ciberataques feitos por estrangeiros a Portugal. De acordo com o relatório, os principais alvos revelam que as ações de espionagem tiveram como principal alvo o Estado.
Segundo o documento, houve um aumento da espionagem através de ameaças persistentes, avançadas tecnologicamente e direcionadas a importantes centros de informação do Estado português.
A origem dos ataques foi, sobretudo, proveniente do Brasil e do continente africano.
Dois dos ataques foram públicos e visaram as empresas EDP e Altice, com grupos internacionais a pedirem resgates de milhões de euros.