A vida de um padre: da Cova da Iria à confissão dos pais - TVI

A vida de um padre: da Cova da Iria à confissão dos pais

Padre Hermenegildo Major

Ordenou-se padre no ano do cinquentenário, em plena Cova da Iria. Filho de uma família religiosa, devota a Maria, Hermenegildo Major revela à TVI24 como se tornou padre, como foram os últimos 50 anos da sua vida, marcados, por exemplo, pelo funeral de um bebé ou pela administração da Santa Unção à própria mãe

Foi no ano em do Cinquentenário das Aparições que o Padre Hermenegildo Major se ordenou, no Santuário de Fátima. A 15 de agosto de 1967. Nesse ano, em que “Paulo VI foi peregrino na Cova da Iria”, ordenaram-se cerca de 60 novos sacerdotes no Santuário de Fátima. Hermenegildo tinha 27 anos e cumpria assim a vocação que “foi despertando” e esteve longe de ser “um ato mágico e instantâneo”.

Os meus pais gostariam que eu seguisse os passos de meu irmão [que já estava no Seminário de Santarém] e perguntavam se eu não quereria ir para o Seminário. A minha resposta era nem sim nem não, com esta expressão que eu utilizava: ‘tanto se me dá como não’. À noite eu pensava: ‘como é que eu vou para Padre se eu não sei pregar?’”, conta, em declarações à TVI24.

Oriundo de uma família com “uma prática religiosa tradicional”, que vivia a 25 quilómetros da Cova da Iria, o padre Hermenegildo cresceu a ouvir a história dos pastorinhos, que tinham visto Nossa Senhora. “Na minha casa à noite, antes de deitar, à luz da candeia de azeite rezava-se o terço (quantas vezes eu não acompanhava porque adormecia)”, admite.

“A primeira vez que fui à Cova da Iria não sei se fui a pé ou de carro de bois. Mas lembro-me de estar sentado numa grande pedra, talvez resto das obras da Basílica de Nossa Senhora do Rosário”, recorda.

“Fiquei muito emocionado quando os meus pais me pediram a bênção”

Hermenegildo Major ordenou-se na Cova da Iria, mas celebrou a Missa Nova [a primeira missa presidida por um padre], em Espite, concelho de Vila Nova de Ourém, 12 dias depois de se ter ordenado.

Padre Hermenegildo, na Missa Nova, em Espite,Concelho de Vila Nova de Ourém a 27 de Agosto de 1967. (Arquivo Pessoal)

Os cinquenta anos de Sacerdócio, que celebrará este ano, com uma missa na Igreja Paroquial de Fátima, trouxeram-lhe muitas alegrias, muitas tristezas também, mas, sobretudo, muitas histórias para contar.

Logo no dia da ordenação, veio o primeiro momento marcante: “Fiquei muito emocionado e atrapalhado quando meus pais no dia da ordenação me pediram a bênção, beijando-me as mãos”.

Recordo também  o dia em que minha mãe e meu pai me pediram para os ouvir de confissão. É preciso ter muita fé para se confessar a um filho. Minha mãe, já nos últimos momentos da sua vida, tendo-lhe administrado a Santa Unção, por gestos despediu-se dos filhos: poucas horas depois partia para o Pai”, lembra.

“Na vida pastoral, fiquei também muito impressionado com o funeral de um bebé e de uma jovem de cerca de 18 anos (na urna estavam as suas bonecas).”

Do Sacerdócio para o ensino

Foi pároco em várias paróquias da Grande Lisboa: Algés, Ajuda, São João de Brito, Porto Salvo, Cascais, São Marcos, Rio de Mouro, Algueirão-Mem Martins, Mercês e São Gregório da Fanadia (Caldas da Rainha). “Fui o primeiro Pároco de Porto Salvo e de São Marcos. Em São Gregório fui Pároco apenas 11 meses. (…) Foi a paróquia que mais saudades me deixou”, sublinha.

Cumulativamente, lecionou Religião e Moral até ao 25 de Abril de 1974.

Padre Hermenegildo com colegas professores (Arquivo Pessoal)

Nunca lhe passou pela cabeça abandonar a vida sacerdotal. Mas, a determinada altura sentiu necessidade de “procurar um emprego fixo”. “A minha discordância com os meus superiores e colegas nalgumas orientações e a instabilidade económica levou-me a procurar um emprego fixo. Fiz algumas cadeiras na Universidade de Letras em Lisboa e optei pelo ensino oficial, lecionando Estudos Socais, História, Português e Latim. Fiz estágio pedagógico, tendo efetivado no Liceu Nacional de Oeiras, de onde saí aposentado”, relata.

Foi gratificante dar aulas. Sentia-me bem.”

Se a vida sacerdotal lhe deixou histórias para contar, o ensino não se ficou atrás e recorda, na entrevista à TVI24, uma aula de Latim que terminou de forma inesperada.

“Um aluno falava com uma colega que não era batizada e não teria grande fé. Levantou-se perguntou: ‘Oh Stor, eu creio que há qualquer coisa para além de nós’. Lá se foi a aula de Latim para dar uma aula de Teologia… Mais tarde a aluna batizou-se, constituiu família com o aluno e hoje com quatro ou cinco filhos fazem parte dum movimento da Igreja”.

Padre Hermenegildo Major a presidir a um casamento. Foto sem data. (Arquivo Pessoal)

No próximo dia 15 de agosto, Hermenegildo Major regressa a Fátima, lugar onde se ordenou padre há 50 anos, para celebrar o aniversário do Sacerdócio. Nesse dia, cumprirá toda a sua “predileção e devoção a Maria”.

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