Professores acusam Governo de “degradar” profissão “que também adoece” - TVI

Professores acusam Governo de “degradar” profissão “que também adoece”

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  • 11 dez 2020, 11:00

Fenprof responsabiliza o Ministério da Educação pela greve de docentes que decorre a nível nacional devido ao “bloqueio negocial”

A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) responsabilizou, nesta sexta-feira, o Governo pela greve de docentes que decorre a nível nacional devido ao “bloqueio negocial” que “cada vez mais degrada” as condições de uma profissão “envelhecida e que também adoece”.

Esta greve foi marcada depois de terem sido esgotadas todas as outras vias para quebrar o bloqueio negocial. Não há reuniões com o ministro da Educação [Tiago Brandão Rodrigues] desde janeiro. Depois disso apareceu um vírus e acentuaram-se os problemas. A lei diz que as questões de segurança e saúde sanitária são de negociação obrigatória com os sindicatos”, disse Manuela Mendonça, representante da Fenprof e coordenadora do Sindicato de Professores do Norte (SPN), à porta da Escola Secundária Clara de Resende, no Porto, onde ao longo das primeiras horas da manhã encarregados de educação foram deixando os filhos num cenário de aparente normalidade.

Cerca das 09:00, Manuela Mendonça considerou ser “cedo” para fazer balanços de uma greve nacional de educadores de infância e de professores do ensino básico e secundário, cujo pré-aviso foi divulgado a 27 de novembro.

Esperamos uma boa adesão. Embora variável de escola para escola (…). Sabemos que a greve se realiza em contextos difíceis (…). A Fenprof dirigiu-se ao primeiro-ministro várias vezes, inclusive quando foi entregar o pré-aviso de greve e avisou que a greve só se faria se o Governo quisesse. Faltavam 15 dias para a greve e estávamos disponíveis para reunir em qualquer dia”, disse a dirigente sindical.

Manuela Mendonça admitiu que o momento, quer devido à pandemia da covid-19, quer por estar próximo do final do período e da aviação dos alunos, “é muito complexo” e contou saber que “alguns colegas que por força dos feriados e das pontes ficaram com muitos poucos dias letivos e não vão fazer a greve embora se revejam nos motivos” e frisou o porquê da paralisação.

Não podíamos deixar de tomar uma posição para protestar pelo bloqueio negocial e exigir respeito pelos professores que também estão na linha da frente [do combate à pandemia] a dar o melhor de si aos seus alunos. Estão a permitir, em condições sanitárias insuficientes, que os pais e encarregados de educação estejam a trabalhar a bem da economia do país. Em segundo lugar exigimos respeito pelos sindicatos e pelas leia da República. Nenhum Governo está acima da lei e tem de negociar”, referiu a coordenadora do SPN.

Os professores e educadores exigem “diálogo, negociação e resolução dos problemas que afetam os docentes, mas também as escolas e os alunos”, acrescentou a dirigente sindical, apontando que esses “problemas já existiam antes, mas a pandemia tem vindo a agravá-los”.

A falta de professores está hoje a deixar sem aulas milhares de alunos. É consequência da degradação progressiva das condições da profissão docente que afasta os jovens da profissão e que provoca níveis de desgaste e de exaustão aos professores que estão no ativo. A profissão envelhece e adoece. Há muitos professores de baixa médica”, apontou Manuela Mendonça, questionando a “falta de diálogo” de Tiago Brandão Rodrigues.

“O ministro da Educação não está disponível para discutir soluções. Se o senhor ministro não está preocupado com a falta de professores, está preocupado com o quê?”, sublinhou.

Manuela Mendonça alertou que “ao contrário de outros países” a situação de Portugal “ainda não é tão crítica”, porque “há professores qualificados no país”, mas “não há professores qualificados nas escolas”.

A carreira não atrai novos profissionais e a renovação não se faz. Se não forem tomadas medidas urgentes que revertam esta situação, a médio prazo a falta de professores qualificados em Portugal pode vir a ser o mais grave problema do nosso sistema educativo. É preciso criar condições para que regressem. E criar condições é dar-lhes estabilidade, abrir vagas nos quadros das escolas, valorizar a carreira e os salários e retirar burocracia das tarefas docentes”, concluiu.

Quase 150 mil docentes desde o pré-escolar até ao ensino secundário estão abrangidos pelo protesto convocado pela Fenprof.

SPZS: ministro da Educação recusa-se a negociar

O Sindicato dos Professores da Zona Sul (SPZS) acusou hoje o ministro da Educação de recusar-se a negociar, o que está a prejudicar não só as condições de trabalho dos professores como a aprendizagem nas escolas.

Queremos fazer parte da resolução [dos problemas dos professores], mas, para isso, temos que reunir-nos com o ministro da Educação. Mas há uma postura anti-negocial que nós consideramos anti-democrática”, disse a vice-presidente do SPZS aos jornalistas, em Faro.

Ana Simões falava à porta da Escola Básica 2, 3 Neves Júnior, em Faro, onde depois das 09:00 ainda havia um grupo de crianças no recreio, levando o sindicato a assumir “que não há muitas aulas”, embora sem conseguir quantificar o número de professores em greve.

Para Ana Simões, os problemas dos professores, que já existiam antes da pandemia de covid-19 mas que o atual contexto sanitário agravou, estão também a afetar “as condições de aprendizagem nas escolas, com consequências para os alunos”.

Desde o início da pandemia que quisemos traçar um plano que permitisse que os alunos não ficassem prejudicados, mas o ministro da Educação também não quis saber dessas propostas e desde março que não recebe a Fenprof”, lamentou.

Escolas a "meio gás" e algumas sem aulas no Alentejo

Escolas a funcionar a “meio gás” e algumas sem aulas são consequências no Alentejo da greve de docentes que hoje decorre no país, revelou o presidente do Sindicato dos Professores da Zona Sul (SPZS).

“Devido ao desfasamento de horários nas escolas”, no âmbito das medidas contra a pandemia de covid-19, “ainda nos falta receber muitos dados do Alentejo, mas temos professores em greve em muitas delas” e “algumas sem aulas”, disse o presidente do SPZS, Manuel Nobre.

O mesmo responsável indicou as escolas básicas Manuel Ferreira Patrício, em Évora, e a de Cortiçadas de Lavre, no concelho de Montemor-o-Novo, no mesmo distrito, assim como o jardim-de-infância local, como exemplos de estabelecimentos de ensino “sem aulas”, porque “100% dos docentes” fez greve.

“Temos também o Jardim-de-Infância de Santo António, em Évora, com 100% dos colegas a fazer greve”, acrescentou, aludindo ainda a outras escolas pela região onde professores paralisaram, mas sem interromper as atividades letivas nos estabelecimentos.

O Centro Escolar de Montemor-o-Novo, com “60% de adesão”, as escolas básicas de 1.º ciclo (EB1) da Cruz da Picada e Bairro de Almeirim, em Évora, que registam “44%” e “33%”, respetivamente, são alguns exemplos.

“A EB1 de Castelo de Vide (Portalegre) tem dois dos oito professores estão em greve, ou seja, 25%, a da Mina de São Domingos, em Mértola (Beja), regista 33%, tal como a Escola Básica de 2.º e 3º ciclos de Alvito (Beja)”, indicou.

Para o presidente do SPZS, o facto de haver docentes a aderir hoje à paralisação “é um sinal” de que “o Governo não pode continuar a ignorar por mais tempo os pedidos de reunião e de negociação coletiva”.

“Já fizemos muitos pedidos de reunião e a última vez que reunimos com o ministro da Educação [Tiago Brandão Rodrigues] foi em janeiro, há quase um ano”, criticou, acusando o ministro da tutela de “falta de cultura democrática”.

Manuel Nobre argumentou que “os problemas estão a avolumar-se nas escolas”, nomeadamente os subjacentes ao protesto de hoje, como “questões ligadas a esta situação de pandemia” da covid-19.

“Temos relatos de escolas na região onde não há higienização como deveria haver. Em algumas, os auxiliares só fazem uma higienização ao fim do dia, porque não conseguem fazer mais, e outras em que são alunos e professores a fazerem essa limpeza”, pois, “não há auxiliares”, notou o presidente do SPZS, sem especificar quais os estabelecimentos de ensino.

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