O fervilhar de gente que em anos normais deixava Braga a rebentar pelas costuras por alturas do S. João deu hoje lugar a uma cidade quase deserta, por culpa da pandemia, que transferiu os festejos da rua para casa.
Por esta altura [21:00], já não se podia andar aqui. Hoje é esta tristeza, que até faz doer a alma", refere à Lusa o zelador da capela de S. João da Ponte.
Júlio Pereira, de 68 anos, garante que nunca viu "nada assim".
À porta da capela, de máscara na cara e com um frasco de desinfetante para lavar as mãos dos devotos, Júlio Pereira ia vendo as pessoas a entrar "a conta-gotas", para venerar o santo padroeiro.
Em anos normais, isto era aqui uma enchente que até metia gosto. O maldito vírus veio virar tudo de pernas para o ar", atira.
Na cidade, são muito poucos os sinais de S. João: a Arcada e a Capela iluminadas, três ou quatro barracas de venda de farturas, algodão e pipocas, uma outra de pão com chouriço e bifanas, um ou dois vendedores de martelos.
Pela avenida, cumpre-se perfeitamente o distanciamento social, tão poucas são as pessoas que a percorrem.
Não há música, não há marteladas, não há nada. Em anos normais, já anda aqui tudo às cotoveladas. Que tristeza que isto é este ano", diz Maria Isabel Fernandes, de 72 anos, moradora no centro da cidade, enquanto passeia tranquilamente o cão.
No entanto, Maria Isabel fez questão de levar o "cheirinho e o sabor" do S. João até sua casa: ao almoço comeu sardinhas, comprou uns manjericos que "estão muito bonitos" à janela de casa e não vai recolher ao lar sem antes comer uns churros.
Em sentido oposto, Manuel Miranda, de 65 anos, mostra-se bem agradado com a pacatez da cidade.
Em anos normais, não punha aqui os pés, que é uma confusão que não se aguenta. Hoje, respira-se bem na cidade e foi por isso que cá vim, comer uma fartura, mas já vou embora", confessa.
Por toda a avenida da Liberdade, a principal artéria da cidade de Braga, cartazes tentavam animar os transeuntes com a mensagem: "Em 2021, voltamos a festejar juntos".
Para hoje, o convite é mesmo para festejar em casa, mas mesmo assim vê-se, aqui e ali, um assador de sardinhas na rua.
Como se a pandemia de covid-19 não bastasse, este ano também as previsões meteorológicas, que apontam para uma noite tropical, "ajudam à festa", desaconselhando o lançamento dos tradicionais balões de S. João.
Arre, que este ano é mesmo tudo mau", desabafa Maria Isabel.
Portugal contabiliza pelo menos 1.540 mortos associados à covid-19 em 39.737 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde.