Chiado: das cinzas ao regresso da «montra» de Lisboa - TVI

Chiado: das cinzas ao regresso da «montra» de Lisboa

  • Redação
  • , Rosa Carreiro, Agência Lusa
  • 25 ago 2008, 08:49
Baixa -Chiado

Poucos se esquecem dos atrasos da reconstrução, mas, agora, a «montra» «está óptima e recomenda-se»

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Vinte anos depois de o fogo ter consumido parte do Chiado, historiadores e associações não esquecem os atrasos da reconstrução, mas acreditam que as cinzas estão varridas - pormenores à parte, garantem, a «montra» de Lisboa «está óptima e recomenda-se».

Dezoito prédios oitocentistas destruídos, dois mil desempregados, dezenas de desalojados e feridos e dois mortos foram o resultado do incêndio que deflagrou a 25 de Agosto de 1988 nos Armazéns Grandella, na rua do Carmo, combatido por mais de dois mil bombeiros e elementos de forças de segurança.

Foi então criado o Fundo Extraordinário de Ajuda à Reconstrução do Chiado (FEARC), um apoio inicial de cinco milhões de contos a que se somou, em Janeiro do ano seguinte, o empenho da nova Associação de Valorização do Chiado (AVC).

Ao arquitecto Siza Vieira foi entregue a missão de projectar a reconstrução, um processo polémico que terminou com a garantia de que as fachadas dos edifícios não seriam demolidas, mas cuja concretização motivou alguma ansiedade entre os comerciantes.

Um Chiado «adiado» e em «lume brando»

«Foi um processo complexo para decidir quem ia fazer a obra, havia a problemática de tornar o Chiado num estaleiro e a isto ainda se veio juntar a construção da estação de metro. Os passeios eram removidos quase mensalmente», conta o presidente da AVC, Vítor Pereira da Silva, lembrando que durante cinco anos os peões apenas puderam aceder ao bairro por uma passadiço instalado a alguns metros do chão, na rua Garrett.

Dez anos depois da catástrofe, em 1998, os sindicatos mantinham ainda a luta pela atribuição de subsídios aos trabalhadores afectados e os jornais descreviam o «marasmo» da recuperação, lamentando um Chiado «adiado» e «em lume brando».

«Apesar dos atrasos, já grande parte dos prédios estava recuperada e, depois de muitas críticas, importava então quebrar o estigma da lamentação. Ainda hoje há alguns pontos críticos, mas tinha de se decidir e o que está feito serve», explica Vítor Silva.

Com a inauguração dos novos Armazéns do Chiado, no ano seguinte, e a integração dos 45 milhões de euros entretanto caducados do FEARC no Fundo Remanescente de Reconstrução do Chiado, em 2002, o projecto de Siza Vieira ganhou um novo impulso.

Segundo o olisipógrafo Appio Sottomayor, a tragédia acabou por se tornar numa oportunidade de devolver à zona a posição de «montra» da capital, outrora alcançada nos seus clubes, hotéis, cafés, tertúlias, teatros, igrejas, cinemas e lojas elegantes.

«A reconstrução foi morosa e complexa»

«A decadência veio pelos Anos 60: Lisboa crescia para outros lados, a Baixa e o Chiado passaram a ter concorrência em muitos outros locais, os jornais saíram do Bairro Alto, várias lojas acabaram ou deixaram de exercer o antigo fascínio. Na altura do incêndio, a zona, sem nunca ter deixado em absoluto de exercer atracção, era já uma sombra de outros tempos», recorda o historiador.

«A reconstrução foi morosa e complexa. Muito bom lisboeta temeu que a velha área tivesse deixado definitivamente de ser o que era, mas a verdade é que se assiste a uma verdadeira ressurreição», acrescenta, referindo-se ao regresso de serviços e moradores.

A opinião é partilhada pela olisipógrafa Marina Tavares Dias, para quem o Chiado «está óptimo, de belíssima saúde e recomenda-se». A jornalista lamenta, porém, que as demolições tenham destruído peças como letreiros de lojas e que o poder público não tenha incentivado o regresso de empresas como a «mercearia chique» da Jerónimo Martins, potencial «sala de visitas» do Chiado.

«Quando se fez a recuperação, achou-se que a dinâmica dos grandes armazéns não traria grandes lucros, mas estamos a importar esse conceito, com o Corte Inglès. Consideramos muito chique, no entanto abandonámo-lo quando era português», acrescenta.
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