Incêndios: câmara de Monchique estima que milhares de sobreiros tenham morrido - TVI

Incêndios: câmara de Monchique estima que milhares de sobreiros tenham morrido

  • ALM com Lusa
  • 12 ago 2018, 16:52

Segundo o presidente do município, milhares de árvores poderão ter morrido, principalmente por terem já sido afetadas pelo incêndio de há 15 anos. Ainda há zonas sem acesso a comunicações ou luz

Milhares de sobreiros terão morrido com o fogo que deflagrou em Monchique em 03 de agosto, informou hoje o presidente da câmara de Monchique, considerando que poderá ser "um rombo muito grande" para o setor.

Os sobreiros, espécie autóctone da serra de Monchique, no Algarve, ficaram fortemente afetados pelo incêndio, que lavrou durante uma semana e que consumiu uma parte considerável da área florestal do concelho, disse à agência Lusa o presidente da Câmara, Rui André (PSD).

As árvores tinham sido afetadas em 2003 e estavam agora numa altura de regeneração e recuperação. É uma situação que temos de avaliar nos próximos anos e depende muito das temperaturas [atingidas pelo fogo] para ver se recuperam ou não", explicou o autarca.

No entanto, Rui André acredita que "o nível de destruição que o fogo causou terá um rombo grande na produção de cortiça".

Segundo o presidente do município, milhares de árvores poderão ter morrido, principalmente por terem já sido afetadas pelo incêndio de há 15 anos.

"Em 2003, recuperaram. Desta vez, será muito difícil", notou.

O presidente da Associação de Produtores de Aguardente de Medronho do Barlavento Algarvio, Paulo Rosa, também acredita que milhares de sobreiros que nunca tinham ardido possam ter morrido.

"É uma coisa irrecuperável. A melhor área de sobreiral desapareceu completamente. Era uma riqueza enorme para o país e ficavam uns tostões aqui para a gente", disse à agência Lusa Paulo Rosa, realçando que aquelas árvores produziam dez vezes mais cortiça do que os sobreiros no Alentejo.

Na maioria, "ficaram consumidos pelo fogo e já não vão rebentar", afirmou.

O incêndio rural que deflagrou no dia 03 em Monchique (distrito de Faro, Algarve), combatido por mais de mil operacionais e considerado dominado na sexta-feira (dia 10) de manhã, atingiu também o concelho vizinho de Silves, depois de ter afetado, com menor impacto, os municípios de Portimão (no mesmo distrito) e de Odemira (distrito de Beja).

Quarenta e uma pessoas ficaram feridas, uma das quais com gravidade (uma idosa que se mantém internada em Lisboa).

Segundo o município de Monchique, arderam cerca de 16.700 hectares no concelho.

Ainda há zonas sem acesso a comunicações ou luz 

Ainda há zonas do concelho de Monchique afetadas pelo fogo que estão sem acesso a comunicações ou luz, informou ainda hoje o presidente da câmara, referindo que, no caso da EDP, espera ter tudo reposto até segunda-feira.

No caso da luz, "ainda há zonas que não estão resolvidas", disse.

O autarca espera que a EDP consiga garantir a reposição total durante o dia de hoje, ou no máximo, até segunda-feira.

Em alguns casos, com substituição das linhas, noutros, com recurso à colocação de geradores, conseguiu-se que mais de 90% das situações estivessem resolvidas", esclareceu.

Relativamente às comunicações, Rui André referiu que a operadora Altice "está a trabalhar no terreno".

"No Alferce, já estão restabelecidas as comunicações, mas há muitas zonas onde ainda falta resolver", disse, referindo que, no caso do abastecimento de água, tirando a falha que houve na vila de Monchique durante o incêndio, não tem havido problemas.

Segundo o município, o número de casas de primeira habitação afetadas pelas chamas (17, até ao momento) deverá aumentar, tendo a autarquia recebido hoje informação de mais uma habitação destruída.

Monchique quer plano de reordenamento económico definido até dezembro

O plano de reordenamento económico da serra de Monchique deverá estar pronto até dezembro, para ser implementado durante “seis a sete anos”, anunciou hoje o presidente da autarquia,.

Na mesma entrevista à agência Lusa, o autarca afirmou que este plano é “uma oportunidade de corrigir erros do passado” em matéria de ordenamento florestal, permitindo que a população viva num ambiente rural e florestal “em segurança”, sem estar a ser “constantemente” ameaçada.

“Não podemos criar uma floresta autóctone só para vislumbre e visita. Ela tem de ter um retorno económico. Esse é um dos grandes desafios”, afirmou Rui André (PSD), à frente da autarquia desde 2009, admitindo que algumas espécies invasoras, como o eucalipto, vão ter de ser reconvertidas: “O que não pode acontecer é termos eucaliptos em cima das casas e das zonas urbanas”.

O autarca social democrata sublinhou que para a implementação deste plano é necessário que a “mochila da burocracia” fique de fora, através de “medidas de exceção e de discriminação positiva”, já que esta “janela de oportunidade não dura muito tempo”.

“Neste momento as árvores vão começar a regenerar. Se não fizermos rapidamente esta intervenção, daqui a dois ou três anos não vale a pena”, sublinhou, afirmando esperar que a disponibilidade do Governo em matéria de desburocratização “não fique só pelas palavras”.

 

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